Maguila, um dos maiores nomes da história do boxe brasileiro, faleceu nesta quinta-feira (24) e viveu momentos de extrema dificuldade antes de se consagrar nos ringues. Muito antes de acumular vitórias e títulos, José Adilson Rodrigues dos Santos, natural de Aracaju, Sergipe, enfrentou a fome enquanto trabalhava como ajudante de construção em São Paulo. Ele chegou à capital paulista aos 14 anos, buscando uma vida melhor, mas foi recebido por uma realidade dura e cruel.
Em depoimento ao documentário “Maguila”, dirigido por Galileu Garcia e lançado em 1987, o ex-pugilista revelou o cenário de desespero que enfrentou nos primeiros anos na cidade grande. Foram três meses de luta fora do ringue, em que um jovem Maguila sobrevivia com o que tinha em mãos. Sem casa, sem perspectivas claras e com uma alimentação extremamente precária, ele trabalhou como ajudante de pedreiro, profissão que, embora respeitável, não proporcionava o sustento que ele tanto necessitava na época.
“Fiquei amarelo, pálido. Foram três meses [comendo] pão com banana. Minha morada era um caminhão abandonado no Butantã, desses que carregam entulho. Quando o dono descobriu que eu dormia lá, tirou o caminhão, e eu fiquei [dormindo] no poste”, recordou ele, que lamentou nunca ter duelado com Mike Tyson
“De vez em quando, eu ia fazer uma reforma. A dona da casa via minha situação. Ela dizia: ‘Você não trouxe marmita?’. Eu dizia: ‘Eu esqueci’. Nem marmita eu tinha na época. Era pão com banana, pra que a marmita? Eu tinha 1,84, quando eu tinha essa idade, 15 anos. Eu pesava 70 quilos. Era um palito. Se olhasse pra minha barriga, via a espinha do outro lado”, acrescentou.
A mudança na realidade de Maguila começou quando o boxe entrou em sua vida, aos 19 anos. “Uma vez, alguns alunos do meu avô foram na boate que ele trabalhava. Um deles falou para o Maguila: ‘Você tem todo o biotipo, você podia lutar boxe. Ele falou: ‘pô, é meu sonho, queria lutar, mas não conheço ninguém. Fui em algumas academias, mas não deu certo’. O aluno do meu avô falou: ‘Vai na academia do Ralph Zumbano. Ele com certeza vai te acolher’. E foi o que aconteceu”, contou Raphael, boxeador profissional, técnico de Maguila na academia BCN, e neto de Ralph.
“Meu avô sempre contava que, quando conheceu Maguila, ele anunciou: ‘Hoje apareceu um negrão na academia, um biotipo bom. Com certeza vai reinar aqui na América do Sul, vai ser campeão sul-americano. Com certeza’. E perguntaram para ele: ‘E mais que isso?’. ‘Ele pode até tentar título mundial, mas ai é outro trabalho’. Foi o que aconteceu. Além de aluno, ele virou um filho para o meu avô”, acrescentou.
No entanto, a trajetória no esporte profissional só deslanchou dois anos depois, com a estreia no torneio “Forja de Campeões”. A determinação de quem, infelizmente, já havia enfrentado a dureza da fome e o trabalho pesado foi essencial para que ele conquistasse seu primeiro título nacional em 1983. Naquele mesmo ano, venceu Waldemar Paulino no ginásio do Ibirapuera, e dali em diante, a ascensão do aracajuano foi meteórica.
Em 1984, Maguila se tornou campeão sul-americano ao nocautear Juan Antonio Figueroa no primeiro round, também no Ibirapuera, um título que defendeu com sucesso por uma década. Além disso, o lutador acumulou vitórias internacionais e teve a honra de enfrentar grandes nomes do boxe mundial, como Evander Holyfield e George Foreman.
Maguila encerrou sua jornada nos ringues em 2000, com um cartel impressionante de 77 vitórias em 85 lutas, 61 delas por nocaute. Ele se aposentou como um dos principais representantes do boxe peso-pesado do Brasil. Infelizmente, nos últimos anos de sua vida, Maguila foi diagnosticado com encefalopatia traumática crônica, também conhecida como demência pugilística.
A luta final do ex-pugilista terminou no dia 24 de outubro de 2024, quando ele faleceu aos 66 anos, deixando um legado que vai além dos ringues.
Fonte: purepeople.com.br