A Rússia lançou intensos bombardeios em diferentes regiões da Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (09/03), matando ao menos nove pessoas e provocando quedas no fornecimento de eletricidade, com o desligamento da usina nuclear de Zaporíjia da rede elétrica do país.
Esse foi o maior ataque aéreo registrado no país desde meados de fevereiro. Os bombardeios interromperam o período mais prolongado de relativa calma, desde o início da campanha russa contra alvos da infraestrutura ucraniana, em outubro do ano passado.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, informou que dez regiões do país foram atingidas. Ele culpou os invasores russos por aterrorizarem a população civil. “É só o que conseguem fazer”, afirmou. “Eles não conseguirão evitar a responsabilização por tudo o que têm feito.”
Autoridades ucranianas informaram que os ataques atingiram a capital, Kiev, a cidade portuária de Odessa, no Mar negro, e a segunda maior cidade do país, Kharkiv, além de alvos a oeste do rio Dnipro e na região central da Ucrânia.
Um míssil matou ao menos cinco pessoas em uma casa num vilarejo próximo a Lviv, no extremo oeste do país, a cerca de 700 quilômetros das frentes de batalha. Outro civil foi morto em um ataque de mísseis na região central de Dnipro, e outros três teriam sido mortos por ataques de artilharia em Kherson.
Mísseis hipersônicos
Em Kiev, os moradores foram acordados no meio da noite por explosões. Os alertas de bombardeios soaram durante sete horas, o período mais longo desde o início dos ataques aéreos russos a alvos da infraestrutura civil do país.
O prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko, relatou explosões no sudeste da cidade e disse que 40% da população estava sem energia elétrica e aquecimento.
O governador da região de Odessa, Maksym Marchenko, disse que mísseis russos atingiram instalações de energia e áreas residenciais. Em Kharkiv, o governo local afirmou que a cidade e a região foram atingidas por 15 ataques, inclusive contra alvos de infraestrutura.
As autoridades ucranianas dizem que os russos utilizaram no ataque seis mísseis hipersônicos Kinzhal, uma quantidade sem precedentes que suas defesas não têm condições de abater.
O Ministério russo da Defesa relatou que suas forças realizaram “ataques massivos de retaliação” após uma suposta ofensiva ucraniana na região russa de Bryansk, próximo à fronteira com a Ucrânia, no dia 2 de março, considerada um “ato terrorista” por Moscou. O órgão confirmou a utilização de mísseis Kinzhal nos bombardeios desta madrugada.
Observadores avaliam que Moscou possuiria somente algumas poucas dezenas desses mísseis hipersônicos, os quais o presidente russo, Vladimir Putin, costuma mencionar em seus discursos como uma arma para a qual a Otan não teria defesa.
Usina de Zaporíjia novamente sem energia
Moscou alega que os bombardeios a infraestruturas distantes das frentes de batalha têm como objetivo reduzir a capacidade de combate dos ucranianos. Kiev, porém, afirma que esses ataques não possuem propósitos militares e teriam a intenção de intimidar os civis, o que constituiria em crime de guerra.
A Ucrânia disse que os ataques desta madrugada interromperam o fornecimento de energia da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que estaria desconectada da rede elétrica do país.
“A última linha de força entre a usina ocupada de Zaporíjia e o sistema energético ucraniano foi cortada em consequência dos ataques de mísseis”, informou a empresa estatal ucraniana de energia Energoatom.
Segundo a empresa, esta seria a sexta vez que a usina foi desconectada da rede elétrica ucraniana desde a captura do local pelas forças russas no ano passado. A usina estaria funcionando por meio de geradores a diesel, que, segundo a Energoatom, seriam capazes de abastecer o local por dez dias.
A estatal russa de energia Rosenergoatom, porém, afirmou que tudo estaria dentro do normal em Zaporíjia. “Não há ameaça ou perigo de um incidente nuclear. Há combustível mais que suficiente e, se necessário, será fornecido à usina”, disse o CEO da empresa, Renat Karchaa.
Russos e ucranianos se acusam mutuamente de arriscarem um potencial desastre nuclear em razão dos combates na região da usina.
Fonte: dw.com