Republicanos pedem renúncia de deputado brasileiro nos EUA

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Apesar da pressão do próprio partido, George Santos afirma que não vai deixar o cargo na Câmara dos Representantes dos EUA. Brasileiro é alvo de investigações por mentir sobre sua origem, seu currículo e suas finanças.

O Comitê Republicano de Nova York pediu nesta quarta-feira (11/01) a renúncia imediata do congressista George Santos, filho de imigrantes brasileiros que se elegeu em novembro pelo partido para a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos – órgão semelhante à Câmara dos Deputados no Brasil.

Santos, de 34 anos, admitiu que mentiu sobre seu currículo e origens familiares. Além disso, suas finanças pessoais e de campanha estão sob investigação após reportagem do jornal americano The New York Times revelarem fraudes. Apesar da pressão do próprio partido e da oposição democrata, Santos voltou a afirmar nesta quarta-feira que não deixará o cargo.

“Ele desgraçou a Câmara dos Representantes”, disse Joseph Cairo, presidente do Comitê Republicano do Condado de Nassau, no estado de Nova York, em uma coletiva de imprensa. “Ele não é bem-vindo aqui, na sede Republicana”, acrescentou.

A nível local, o partido não tem poderes para tirar Santos do cargo. O brasileiro tomou posse na semana passada.

Pedidos de investigação

Na terça-feira, dois democratas de Nova York pediram ao Comitê de Ética da câmara baixa do Congresso para investigar Santos. Em uma carta, Ritchie Torres e Dan Goldman disseram que Santos falhou em apresentar de forma “oportuna, precisa e completa” relatórios de divulgação financeira, e que os que apresentou são “escassos e desconcertantes”.

No início desta semana, o Campaign Legal Center – grupo apartidário de vigilância governamental sem fins lucrativos – apresentou uma queixa à Comissão Eleitoral Federal e pediu aos reguladores que investiguem Santos.

Segundo o grupo, a “montanha de mentiras” que Santos propagou durante a campanha, sobre a sua história de vida e qualificações, deveria levar a comissão a “investigar minuciosamente” o que devem ser “mentiras igualmente descaradas sobre como a sua campanha arrecadou e gastou dinheiro”.

A eleição de Santos

Santos foi eleito pelo 3º distrito do estado de Nova York, que inclui o bairro do Queens e Long Island.

Inicialmente, a vitória dele, um republicano assumidamente homossexual que conquistou para o seu partido um lugar na Câmara de Representantes ocupado pelos democratas há uma década, foi vista como um dos pontos positivos do seu partido em uma eleições bastante decepcionante para os republicanos.

Mas, quando começaram a surgir relatos de que Santos havia mentido sobre ter ascendência judia – e até que sua família tinha sobrevivido ao Holocausto – e sobre uma carreira nas principais empresas de Wall Street, além de um diploma universitário, o congressista transformou-se num embaraço para o partido.

Santos é um fiel apoiador do ex-presidente Donald Trump e concorreu pela primeira vez ao Congresso em 2020, perdendo para o democrata Tom Suozzi. O brasileiro voltou a concorrer em 2022, enfrentando o democrata Robert Zimmerman, desta vez sagrando-se vitorioso.

Após as revelações do NYT, Zimmerman disse que Santos é inapto a ocupar o cargo e pediu sua renúncia, de modo a permitir a realização de novas eleições distritais.

Reportagens do NYT

As mentiras de Santos vieram à tona quando o NYT publicou em dezembro que o congressista mentiu sobre uma série de dados que constavam de seu currículo, como ao afirmar que em 2010 teria se diplomado em Finanças pelo Baruch College de Nova York, e que havia atuado no Citigroup Bank e no Goldman Sachs Investment Bank.

As três entidades declararam ao NYT não ter encontrado nenhum registro de Santos em seus arquivos. Após a reportagem, ele confessou que mentira sobre possuir diploma universitário e sobre ter trabalhado nos bancos.

O jornal também lançou dúvidas sobre o funcionamento da associação de proteção Friends of United Animals, que teria sido criada pelo republicano, e classificou sua empresa de consultoria financeira, Devolder Organization, como “uma espécie de mistério”.

Em sua declaração de contas apresentada em setembro à Câmara dos Representantes, Santos garantiu que a empresa lhe pagou um salário de 750 mil dólares (quase R$ 4 milhões) e dividendos entre 1 milhão e 5 milhões de dólares.

Mas, segundo o NYT, o formulário não incluía “qualquer informação sobre clientes que possam ter contribuído para tais depósitos, numa aparente violação da exigência de divulgar qualquer compensação acima de 5 mil dólares de uma única fonte”.

Investigação no Rio de Janeiro

No começo deste mês, o NYT noticiou que o Ministério Público do Rio de Janeiro reabriria uma investigação contra Santos, indiciado por estelionato.

O inquérito sobre o caso foi suspenso por ele ter desaparecido e as autoridades não conseguirem encontrá-lo por quase uma década. De acordo com o NYT, em 2008, aos 19 anos, Santos teria usado cheques roubados para comprar artigos numa loja de roupas de Niterói. Usando identidade falsa, teria pago R$ 2.144 pelos produtos, com o talão de cheques roubado.

Em 2011, ele foi acusado de estelionato. O processo, no entanto, foi arquivado em 2013, depois de as autoridades verem frustradas suas tentativas de encontrar o deputado.

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o Ministério Público informou que, com a eleição de Santos, seu paradeiro foi identificado e será feito um pedido formal ao Departamento de Justiça dos EUA para que ele seja notificado das acusações.

Na última semana de 2022, numa entrevista ao New York Post, Santos negou ter cometido crimes no Brasil ou nos Estados Unidos. Porém em 2009 teria admitido à polícia o roubo do talão de cheques, de um antigo patrão de sua mãe.

Fonte: dw.com


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