O vírus da mpox (antes denominada “varíola dos macacos“) volta a ocupar manchetes: na quarta-feira (14/08), pela segunda vez em dois anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou sua propagação como uma emergência global de saúde pública.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças na África (Africa CDC, na sigla em inglês) registram em especial a disseminação do “clado 1b”, uma cepa mais mortal e transmissível entre humanos. Classificada como “de alto risco”, suas taxas de mortalidade chegariam a 10%: do começo de 2022 a 28 de julho de 2024, houve 37.583 casos e 1.451 mortes em 15 nações africanas.
Os primeiros casos envolvendo a nova variante foram documentados em setembro de 2023 na República Democrática do Congo (RDC), na África Central. Desde então, as infecções atingiram o Camarões, República Centro-Africana e Ruanda. Casos do começo de agosto de 2024 em Uganda e no Quênia também envolveram o clado 1b.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, postou na rede social X (ex-Twitter) que “devido à disseminação de uma cepa mais mortal do mpox para diversos países africanos”, sua organização, os Africa CDC e os governos locais estavam “intensificando a reação para interromper a transmissão”.
Clado 1b: mais mortal e infeccioso
O vírus mpox se divide em dois grupos taxonômicos: clado 1 e clado 2. Este último provém da África Ocidental: responsável pelo surto global iniciado em 2022, ele causa infecções menos severas, com uma taxa de sobrevivência de 99,9%.
Mais virulento, o clado 1 é endêmico da Bacia do Congo, na África Central, e apresenta uma taxa de mortalidade de cerca de 3%. Entre crianças, contudo, a do clado 1b chega a até 10%. Ele provoca erupções cutâneas por todo o corpo – ao contrário de outras cepas, cujas lesões se restringem à boca, rosto e região genital.
A transmissão se dá por contato próximo, como a inspiração de gotículas de saliva (aerossóis) ao falar ou respirar nas vizinhanças de alguém infectado. Apesar de a mpox não ser descrita como doença sexualmente transmissível, o sexo é uma das principais vias de disseminação.
A República Democrática do Congo foi atingida com dureza especial pelo clado 1b da mpox, acusando mais de 13 mil casos. A grande maioria (85%) das mortes ocorreu entre menores de 15 anos de idade, os quais totalizaram 68% dos casos. O sexo masculino é o mais visado pelo vírus (73%).
África é maior atingida
No geral, a mortalidade tem sido muito mais alta no continente africano do que no resto do mundo. Em 29 de julho, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), por exemplo, definia como “muito baixos” os riscos relacionados à mpox na Europa, apesar de alguns casos registrados, assim como na América do Norte.
“Embora haja tanto uma vacina segura e eficaz, quanto tratamento antiviral contra a mpox, estes não estão prontamente acessíveis à maioria [dos países-membros da União Africana]. Por isso classificamos o risco como ‘alto'”, diz o relatório de 30 de julho dos Africa CDC.
Entre janeiro e o fim de julho de 2024, registraram-se em dez países africanos 2.745 casos confirmados e 11.505 de suspeita, com 456 óbitos – um incremento de, respectivamente, 160% da incidência e de 19% das mortes, em relação ao mesmo período do ano anterior. O relatório confirma a RDC como principal foco de mpox em 2024, concentrando 96,3% das infecções e 97% das mortes.
Fonte: dw.com