Putin ordena primeiro cessar-fogo da guerra

Putin ordena primeiro cessar-fogo da guerra
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Trégua de 36 horas se deve ao Natal ortodoxo, celebrado por milhões de fiéis na Rússia e no Leste Europeu. Ucrânia rejeita medida e fala em “hipocrisia”.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou nesta quinta-feira (05/01) um cessar-fogo de 36 horas por parte das tropas russas na Ucrânia devido ao Natal ortodoxo, que é celebrado em 7 de janeiro.

A pausa nos ataques está agendada para começar ao meio-dia desta sexta e deve durar até meia-noite de sábado. É o primeiro cessar-fogo russo desde o início da guerra. O governo ucraniano, por sua vez, descreveu a medida como “hipocrisia”.

O Natal ortodoxo é comemorado tanto na Rússia quanto na Ucrânia. Estima-se que até 300 milhões de fiéis – cristãos ortodoxos – celebrem a data em todo o mundo, com grande parte deles concentrada no Leste Europeu, Rússia, Grécia e algumas regiões da África.

A ordem do Kremlin foi divulgada depois que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o líder da Igreja Ortodoxa, patriarca Cirilo, forte apoiador de Putin, solicitaram uma trégua.

“Tendo em conta o apelo de Sua Santidade, o patriarca Cirilo, instruo o ministro da Defesa da Federação Russa a implementar um cessar-fogo ao longo de toda a linha de contato entre ambos os lados na Ucrânia”, anunciou o governo russo em comunicado.

A Rússia disse ainda estar aberta ao diálogo com Kiev, desde que o governo ucraniano aceite o que chamou de “novas realidades territoriais”, em referência aos territórios anexados pelo Kremlin em pseudorreferendos amplamente rejeitados pela comunidade internacional.

Mediação de Erdogan

Em um telefonema com Putin nesta quinta-feira, Erdogan pediu um cessar-fogo “unilateral”.

Esta não é a primeira vez que o líder turco tenta influenciar o andamento da guerra devido a suas relações com as partes do conflito. Em 2022, a Turquia sediou os dois primeiros encontros entre autoridades russas e ucranianas para possíveis negociações de paz, mas não obteve sucesso.

Em julho do ano passado, o país conseguiu, junto com a Organização das Nações Unidas (ONU), firmar um acordo para restaurar as exportações de grãos a partir de portos ucranianos no Mar Negro, bloqueados por forças russas.

Cirilo, apoiador declarado de Putin

Desta vez, porém a resposta do Kremlin ao cessar-fogo teria ocorrido mais por influência do líder da Igreja Ortodoxa. O patriarca Cirilo é apoiador declarado de Putin, deu a bênção às tropas russas que lutam na Ucrânia e, durante todo o conflito, proferiu sermões contra Kiev e o Ocidente.

No site oficial da instituição, Cirilo escreveu que o cessar-fogo serve “para que os ortodoxos possam assistir aos cultos na véspera de Natal e no dia da Natividade de Cristo”.

Mas o apoio ao patriarca não é generalizado entre membros da Igreja Ortodoxa. Desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, diversos clérigos abandonaram suas relações com Moscou, a exemplo da Igreja Ortodoxa da Ucrânia.

A reação de Kiev

Ao receber a informação do cessar-fogo, Kiev criticou duramente o anúncio feito por Putin, alegando que a Rússia deve “deixar os territórios ocupados. Somente assim haverá uma ‘trégua temporária’. Mantenham a hipocrisia para si próprios”, escreveu o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, no Twitter.

Ao contrário da Rússia, “a Ucrânia não ocupa território estrangeiro e não mata civis”, acrescentou.

Em 11 meses de guerra, a Rússia ocupa regiões do leste e do sul da Ucrânia, mas Kiev tem recuperado partes desses territórios.

O cessar-fogo foi anunciado um dia depois de Moscou confirmar que subiu para 89 o número de mortos no que é considerado o mais letal ataque das forças ucranianas contra as tropas russas.

Já a unidade de comunicação militar estratégica da Ucrânia informou que em torno de 400 soldados russos foram mortos na cidade de Makiivka, no leste do país, área que é ocupada por forças pró-Rússia. Até mesmo comentaristas russos disseram que o número pode ser maior do que os que foram divulgados pelo Kremlin.

EUA e Alemanha criticam

A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, também criticou duramente o governo russo pelo cessar-fogo. No Twitter, ela escreveu que “um chamado cessar-fogo não traz liberdade e nem segurança para as pessoas que vivem sob medo diário, em meio à ocupação russa”.

“É por isso que continuaremos a apoiar os ucranianos, para que possam viver novamente em paz e autonomia. Se Putin quisesse a paz, traria seus soldados para casa, e o conflito estaria terminado. Mas, aparentemente, ele quer continuar com a guerra após uma curta interrupção”, afirmou Baerbock.

Os Estados Unidos, por sua vez, disseram que o mundo está profundamente cético em relação ao cessar-fogo.

“Há um ceticismo significativo tanto aqui nos EUA quanto em todo o mundo agora, dado o longo histórico de propaganda, desinformação e ataques implacáveis da Rússia contra cidades e civis ucranianos”, disse o porta-voz do Pentágono, brigadeiro-general Patrick Ryder, a repórteres. “Nosso foco continuará sendo o apoio à Ucrânia.”

O cessar-fogo chega também um dia depois de o presidente da França, Emmanuel Macron, ter confirmado a entrega de blindados AMX-10 RC, de fabricação francesa, caracterizando a França como o primeiro país ocidental a anunciar a entrega desse tipo de equipamento à Ucrânia.

Fonte:    dw.com


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