O presidente do Chile, Gabriel Boric, classificou neste sábado (18/02) seu homólogo da Nicarágua, Daniel Ortega como ditador. A declaração do líder de esquerda chileno foi feita após Manágua apertar o cerco contra opositores do regime nas últimas semanas.
Na mais recente violação, o governo de Ortega retirou a nacionalidade de 94 opositores e críticos, incluindo antigos aliados que lutaram na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura de Anastasio Somoza Debayle, na década de 1970, como o escritor Sergio Ramírez, que chegou a ser vice de Ortega na década de 1980.
Entre os nicaraguenses que perderam a cidadania na quarta-feira estão ainda a escritora Gioconda Belli, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, e o ex-comandante da revolução Luis Carrión, ao menos 22 jornalistas e ativistas de direito humanos. Eles foram acusados de “traição à pátria”.
Além de perder a nacionalidade, a Corte de Apelações de Manágua determinou o confisco a favor do Estado de todos os bens e empresas dos acusados e proibiu o grupo de exercer cargos públicos e concorrer em eleições.
Tanto Belli quanto Ramírez, assim como a maioria dos citados na lista são opositores de Ortega e vivem no exílio. No entanto, há vários mencionados que ainda estão na Nicarágua. A ação ocorre poucos dias depois de Ortega ter deportado 222 detidos, como líderes políticos, padres, estudantes, ativistas e outros dissidentes, para os Estados Unidos. Considerados presos políticos por organizações humanitárias, os opositores deportados também foram acusados do crime de “traição à pátria”.
Críticas de Boric
A recente onda de deportações e retirada de nacionalidade de opositores provocou uma enxurrada de críticas contra o governo de Ortega. Neste sábado, o presidente do Chile prestou solidariedade aos opositores.
“O ditador não sabe que a pátria está no coração, nos atos e não se priva por decreto. Não estão sozinhos!”, escreveu Boric em sua conta no Twitter.
O governo chileno já havia expressado o repúdio à decisão de Ortega na quinta-feira e afirmado que o país estava se tornou uma “ditadura autoritária”. O Chile foi o primeiro governo de esquerda da América Latina a condenar abertamente as medidas de Ortega.
Além do Chile, a União Europeia e os Estados Unidos também condenaram a decisão. A Espanha ofereceu cidadania aos nicaraguenses que se tornaram apátridos depois da decisão do governo.
Já o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar “muito alarmado” com a situação. O porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, destacou que “a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos têm direito a uma nacionalidade e que ninguém deve ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade”.
“O direito à nacionalidade é um direito humano fundamental. Não deve haver perseguição ou represálias contra os defensores dos direitos humanos ou pessoas que expressam opiniões críticas”, salientou o porta-voz.
Silêncio do Brasil
Na América Latina, as reações não foram unânimes entre os governos progressistas da região. Apenas o Chile criticou veementemente as decisões da Nicarágua. Colômbia e México tiveram cautela nas declarações.
Fonte: dw.com