Aumento na incidência de homicídios cruéis praticados pelo “tribunal do crime”, por ordem de facções criminosas, resulta na implantação de núcleo operacional específico dentro da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) que hoje apura mais de 120 execuções na Grande Cuiabá. Investigações apontam para a ação de faccionados no cumprimento das ordens emanadas pelos líderes de dentro de unidades prisionais. As execuções são praticadas com requintes de crueldade e filmadas. O registro tem a função de intimidar a comunidade local buscando o silêncio de testemunhas bem como usar as imagens como “prestação de contas” aos mandantes do crime.
Somente em 2021, foram registrados na Capital e em Várzea Grande 83 homicídios dolosos contra a vida, entre 1º de janeiro e 29 de dezembro. Foram 46 na Capital e 37 em Várzea Grande. Ocorreram ainda 25 mortes por intervenção de agentes de estado nos dois municípios, quando as vítimas foram mortas durante ação de policiais militares.
Apesar de não informar o percentual dos crimes relacionados à facção criminosa em 2021, o delegado Caio Fernando Alvares de Albuquerque assegura que o número tem aumentado nos últimos 5 anos, o que foi determinante para a implantação do núcleo operacional, no início do ano passado, quando a equipe assumiu investigações de crimes praticados desde 2017 e que apontam para a ação de faccionados ou por ordem de líderes de facções.
Em Mato Grosso e na baixada cuiabana a facção Comando Vermelho (CV) é considerada dominante e apontada como a principal responsável pelas punições, os conhecidos “salves” que, na maioria das vezes, resultam na morte da vítima após intensa sessão de tortura, sem qualquer chance de defesa.
De acordo com o delegado Fausto Freitas da Silva, titular da DHPP, as motivações para a decretação das mortes das vítimas são diversas e, em grande parte, por atos não praticados por elas, como apontam as investigações. Vão desde acusações de supostos crimes sexuais ou pelo fato de se envolverem com mulheres de faccionados. Acusações de supostas dívidas e a suspeita de integrarem uma facção rival também levam muitos inocentes a serem investigados, julgados e condenados à morte pelos “justiceiros” que comandam o tribunal do crime privado, aponta Freitas. Entretanto, entre as vítimas, a maioria possui antecedentes criminais.
Cita um dos casos comprovados, quando um motorista de aplicativo foi raptado por membros da facção, mantido preso por um dia até ser torturado cruelmente e assassinado em Várzea Grande. O corpo foi localizado carbonizado dentro de seu veículo. Em depoimento, no inquérito, a suposta vítima de estupro que teria acusado o motorista de aplicativo de tê-la atacado, confirmou que inventou a história para causar ciúmes no namorado, que era membro da facção. A mentira contada por ela foi a sentença de morte de Jonas de Almeida Silva, 26, em 28 de março de 2019.
Fonte: gazetadigital.com