Delegado Dalton Marinho explicou como o grupo investigado fazia esquema funcionar
A segunda fase da Operação Hermes, deflagrada na manhã desta quarta-feira (8), desmembrou a cadeia operacional de uma organização criminosa bilionária que comercializava mercúrio ilegal para abastecer garimpos em áreas que compõem a Amazônia.
Os financiadores do esquema foram identificados e, segundo o delegado da Polícia Federal Dalton Marinho Vieira Junior, coordenador da operação, era um negócio bastante lucrativo para seus participantes.
Vinte e nove dos 34 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Mato Grosso e, somente nessa segunda fase, foi decretado o sequestro de R$ 2,9 bilhões em bens. O objetivo do bloqueio seria reparar os danos causados ao meio ambiente.
Os demais mandados foram cumpridos no Amazonas, Rio de Janeiro e São Paulo.
“Observamos que os volumes transacionados eram tão grandes que até o principal investigado e seu sócio não tinham o montante para investimento para a quantidade de mercúrio”, explicou o delegado.
Segundo a PF, os investigados então procuravam amigos e pessoas próximas para fazer a “máquina girar” e não interromper a compra de mercúrio.
“O objetivo seria não deixar a roda parar de rodar. Pega o dinheiro emprestado com alguém, paga um juros extremamente vantajoso, por isso várias pessoas entraram nessa cadeia como financiadores. Você pagar ali 10%, 15% não há investimento no mercado que consiga pagar isso, salvo droga”, afirmou.
O mercúrio era fornecido por meio de empresas em São Paulo que geravam créditos falsos de mercúrio junto ao Ibama, órgão que regulamenta a entrada do material no País, vindo de países da fronteira.
Nesse cenário Mato Grosso desempenhava papel importante no esquema, o de distribuição. “Uma cadeia especializada em Mato Grosso voltada para a distribuição desse mercúrio, que a gente denominou de sócios”, explicou o delegado.
Segundo o delegado, os compradores desse material eram as maiores mineradoras do País.
“Foi importante identificar que esses compradores, quando a gente trata de mineradoras, nós estamos lidando com pessoas de alto poder aquisitivo. Na investigação apresentamos com certeza as maiores mineradoras do País”.
Também integravam o esquema os intermediários que faziam o “meio de campo” entre o grupo criminoso e essas mineradoras. “O objetivo final desses compradores era se distanciar ao máximo da cadeia criminosa”.
Conforme o delegado, foram 10 meses de investigação a partir da deflagração da primeira fase da operação, no final do ano passado. A época R$ 1 bilhão em patrimônio foi sequestrado da organização criminosa.
“Em menos de um ano nós conseguimos analisar mais de 40 mídias e milhares de documentos para deflagração da operação Hermes 2”, afirmou.
Foram apreendidos um total de 605 kg de mercúrio.
Início das investigações
A Operação Hermes (Hg) I, deflagrada em dezembro de 2022, foi a maior operação policial do país deflagrada para desarticulação de uso ilegal de mercúrio. A ação teve início a partir da investigação de uma empresa com sede em Paulínia (SP), que utilizava criminosamente de suas atividades autorizadas produzir créditos falsos de mercúrio em sistema do Ibama.
A partir da análise de milhares de fontes bases (documentos e dispositivos eletrônicos), durante mais de dez meses, a Polícia Federal identificou uma extensa cadeia organizada de pessoas físicas e jurídicas envolvidas no esquema ilegal de comércio de mercúrio e ouro extraído de garimpos na Amazônia e retirou 7 toneladas de créditos de mercúrio dos sistemas do Ibama.
A Operação Hermes (Hg) II, deflagrada nesta quarta-feira, visa aprofundar ainda mais as investigações, buscando provas do funcionamento desse esquema, do envolvimento dessas pessoas, especialmente os principais responsáveis pelo comércio e os respectivos compradores finais do mercúrio ilegal, além de identificar o patrimônio construído para ocultar a atividade ilícita e os ganhos oriundos dela.
Fonte: www.midianews.com.br