Os benefícios que dois pedaços de chocolate por dia podem trazer ao coração e ao cérebro

Os benefícios que dois pedaços de chocolate por dia podem trazer ao coração e ao cérebro
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A ideia de que chocolate pode fazer bem à saúde parece boa demais para ser verdade.

Mas um conjunto cada vez maior de evidências científicas sugere que consumir uma pequena quantidade de chocolate amargo todos os dias pode não só satisfazer aquela vontade por um docinho no meio da tarde, como melhorar a saúde cardiovascular, reduzir a pressão arterial, os níveis de colesterol ruim (LDL) e até mesmo estimular o cérebro.

A seguir, algumas maravilhas que o cacau pode oferecer.

O ingrediente secreto

Parte do entusiasmo em relação ao chocolate amargo vem de uma descoberta relativa ao povo guna, que vive na costa do Panamá. Estudos populacionais mostraram que eles viviam uma vida longa e, diferentemente da maioria de nós, não apresentavam aumento da pressão arterial com a idade.

Uma teoria é que eles tomavam bastante suco de cacau sem açúcar — até cinco xícaras por dia.

E os pesquisadores acreditam que os flavonoides, compostos presentes em quantidade significativa no cacau, podem estar por trás desse e de outros benefícios surpreendentes do chocolate amargo.

“O elemento-chave no chocolate parece ser os flavonóis (uma classe de flavonoides), presentes sobretudo no cacau”, explica Aedin Cassidy, diretora de pesquisa interdisciplinar na Queen’s University Belfast, na Irlanda do Norte, especialista em chocolate.

Os flavonoides podem ser encontrados em uma série de alimentos de origem vegetal, como morango, chá, mirtilo (blueberries), maçã e cebola.

Mas as sementes amargas do cacau são uma das fontes mais ricas de flavonoides. E, felizmente, você não precisa comer estas sementes amargas para obter os benefícios. Apenas chocolate com alto teor de cacau.

“Em uma barra de chocolate de 50 g, você obtém a mesma quantidade de flavonóis de três maçãs, uma colher de sopa de cacau em pó, três taças pequenas de vinho tinto ou uma xícara grande de chá preto”, diz Cassidy.

As sementes do cacau contêm um alto teor de flavonoides

O chocolate branco não contém partículas de cacau, então comer este tipo de chocolate não adianta. O chocolate ao leite contém algumas, mas não o suficiente.

A maior quantidade é encontrada no chocolate amargo não processado — e o que não faltam são motivos para você optar por ele.

Quais são os benefícios?

Ao longo dos anos, várias pesquisas foram feitas sobre os benefícios do chocolate amargo para a saúde. Muitos estudos analisaram como a quantidade de chocolate que você ingere influencia o risco de doenças crônicas, incluindo doenças cardíacas, derrame, câncer e diabetes.

“Há evidências crescentes dos benefícios, particularmente para a saúde do coração, mas também benefícios cognitivos para a saúde do cérebro”, afirma Cassidy.

“Foram realizados mais de 42 estudos específicos com flavonóis de cacau, em que foram demonstrados benefícios consistentes em termos de redução da pressão arterial, melhora no fluxo sanguíneo e melhora nos níveis de insulina e de colesterol.”

Uma pesquisa conduzida pela própria Cassidy com mulheres com diabetes tipo 2, ao longo de um ano, mostrou que comer chocolate amargo com alto teor de flavonoides todos os dias pode melhorar a elasticidade das artérias, a sensibilidade à insulina e os níveis de colesterol, sobretudo LDL.

E agora, pesquisas recentes estão revelando que os benefícios do chocolate vão além de ajudar a reduzir o risco de doenças cardiovasculares e de controlar os níveis de glicose no sangue, se refletindo também nos nossos cérebros.

Como é metabolizado

Mas como os flavonoides atuam dentro do nosso organismo?

De acordo com Cassidy, os micróbios que vivem em nosso intestino, a chamada microbiota ou microbioma, desempenham um papel fundamental no metabolismo de flavonoides para aumentar seus efeitos cardioprotetores.

Quando ingerimos flavonoides, os pesquisadores acreditam que nossas bactérias intestinais os convertem em compostos anti-inflamatórios menores que podem ser absorvidos pela corrente sanguínea.

E, segundo a especialista, foi demonstrado que estes metabólitos são capazes de cruzar a barreira hematoencefálica, onde têm o potencial de ter efeitos neuroprotetores e impactos na neuroplasticidade.

“Eles estão entrando no tecido cerebral, e isso parece ter efeito sobre o fluxo sanguíneo no cérebro em particular”, acrescenta.

O cacau pode te deixar mais inteligente?

É por isso que comer alguns quadradinhos de chocolate amargo pode ter efeitos na habilidade cognitiva.

“Há algumas evidências dos efeitos sobre o aprendizado e a memória, da qual, é claro, vamos precisar a partir dos 50, 60 anos e adiante. E já existem alguns estudos, todos de curto prazo, mostrando melhorias na memória, na velocidade de recordação e na aprendizagem”, diz a especialista.

Um estudo de imagens cerebrais realizado em adultos jovens, por exemplo, analisou os efeitos do consumo de duas bebidas diferentes no cérebro: uma com altos níveis de flavonoides, e outra com baixo teor.

Os participantes que tomaram a bebida com alto teor de flavonoides foram capazes de completar certos testes cognitivos com mais eficiência, e seu cérebro apresentou melhor oxigenação e fluxo sanguíneo.

Qual a quantidade ideal?

Pesquisas têm mostrado que apenas dois quadradinhos de chocolate amargo são tudo que você precisa para ver os efeitos positivos. E é importante se ater a isso.

Em grandes quantidades, o chocolate pode aumentar o nível de açúcar no sangue e levar ao ganho de peso, o que pode aumentar — em vez de reduzir — o risco de doenças cardiovasculares, anulando assim os efeitos positivos.

“Os dados epidemiológicos de grandes estudos de base populacional estão sugerindo de três a cinco vezes por semana, alguns quadradinhos por dia”, diz Cassidy.

Quanto mais não processado, maior a presença de flavonoides no chocolate

O melhor dos mundos é trocar aquele lanchinho açucarado pelo chocolate amargo, de modo que você obtenha tanto os benefícios de reduzir a gordura e o açúcar, quanto os benefícios dos compostos de flavonoides — matando dois coelhos de uma cajadada só.

Quanto mais amargo, melhor

“Como regra de ouro, quanto mais amargo o chocolate, mais altos são os níveis de flavonóis.”

Além disso, quanto mais elevado o teor de cacau, menor costuma ser o teor de açúcar e gordura do chocolate amargo, potencializando assim os benefícios e a redução dos efeitos prejudiciais do seu consumo.

Mas é preciso ficar atento. Algumas empresas usam uma técnica chamada processamento holandês, de alcalinização, para tirar o sabor ligeiramente amargo do cacau e, junto com ele, os flavonoides e seus amplos benefícios.

Afinal, são os flavonoides que conferem o sabor amargo ao chocolate.

“Quanto menos processado, maior a presença de flavonoides do cacau”, explica Cassidy.

Portanto, se você realmente quer tirar o máximo proveito do seu chocolate, procure o tipo não processado e se deleite com o sabor amargo.

Se você não gosta ou não está acostumado, pode começar com um chocolate com 40% de teor de cacau para obter um sabor mais equilibrado, antes de aumentar a porcentagem.

“Os que possuem um teor de 40-50% (de cacau) provavelmente serão os mais saborosos”, diz a especialista.

“Uma outra coisa boa sobre o chocolate amargo é que, por ser um pouco amargo, você não quer sentar e comer uma barra inteira. Alguns quadradinhos costumam ser o suficiente para satisfazer a necessidade de chocolate.”

*Na série Just One Thing (Uma Única Coisa), da Rádio 4 da BBC, o médico Michael Mosley aborda em diferentes episódios o que você poderia fazer por sua saúde se tivesse apenas uma escolha.

Leia outras reportagens da série aqui:


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