Agentes da Polícia Federal foram recebidos a tiros e granada quando cumpriam a ordem de prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) em sua casa no município de Comendador Levy Gasparian (RJ). Dois integrantes da PF ficaram feridos por estilhaços, sem gravidade, de acordo com informações da corporação.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, havia ordenado a revogação da prisão domiciliar de Jefferson após ele proferir uma série de ofensas à ministra Carmen Lúcia, do STF.
O ex-parlamentar é investigado em um inquérito sobre a atuação de uma organização criminosa que tem como objetivo “desestabilizar as instituições republicanas”.
Uma das condições para o benefício da prisão domiciliar é que Jefferson não faça postagens na internet. Ele gravou no sábado (22) um vídeo chamando a ministra de “Carmen Lúcifer” e afirmava que a magistrada “lembra aquelas prostitutas, aquelas vagabundas arrombadas”.
O próprio ex-deputado gravou um vídeo sobre a chegada dos policiais a sua casa em que diz “não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio”.
Ele usou imagens do circuito de segurança para mostrar os agentes nas proximidades. “Não atirei em ninguém para pegar, ninguém. Atirei no carro e perto deles”, afirma.
Jefferson ainda prossegue em sua residência e agentes continuam aguardando do lado de fora
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A corporação emitiu nota em que relata que “durante a diligência, o alvo do mandado reagiu à ordem de prisão anunciada pelos policiais federais. Na ação, dois policiais foram feridos por estilhaços de granada arremessada pelo alvo e levados imediatamente ao pronto socorro. Após o atendimento médico, ambos foram liberados e passam bem”.
“A equipe da PF foi reforçada e os policiais permanecem no local com o objetivo de cumprir a determinação judicial.”
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) emitiu nota para “manifestar o seu mais veemente repúdio ao ato de violência”.
“A reação violenta contra policiais é um atentado contra o próprio Estado e uma ofensa incomensurável à ordem jurídica.”
Tania Prado, presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol), disse no Twitter que “os fatos ocorridos hoje são gravíssimos, trata-se de tentativa de homicídio qualificado praticado contra policiais federais”.
Bolsonaro e Lula se pronunciam
O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) comentou o episódio no Twitter: “Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP”.
Bolsonaro fez mais um segundo post na rede social em que disse ter determinado “a ida do Ministro da Justiça [Anderson Torres] ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento deste lamentável episódio”.
Também no Twitter, o ministro fez postagem, sem fazer nenhuma referência específica: “Momento de tensão, que deve ser conduzido com muito cuidado. Ministério da Justiça está todo empenhado em apaziguar essa crise, com brevidade, e da melhor forma possível”.
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que só recebeu as informações iniciais sobre o caso, mas comentou que “não é um comportamento adequado, não é um comportamento normal”.
“Antes de ontem eu estava em Minas Gerais, e Marina [Silva, deputada federal eleita que participou de ato com Lula] estava jantando em um hotel e quando ela levantou, um cidadão, que estava com a sua esposa, levantou e começou a chamar ela de vagabunda. Isso não acontecia na política brasileira nunca. Nós disputamos tantas eleições a gente nunca viu uma aberração dessa, uma ofensa dessa, uma cretinice dessa que esse cidadão, que é o meu adversário, estabeleceu no país.”
Moraes ainda não falou sobre o episódio da operação da PF, mas havia se pronunciado sobre a ofensa de Jefferson à ministra com um post no Twitter.
“As agressões machistas e misóginas contra a Min Carmen Lúcia, exemplo de magistrada, demonstram a insignificante e covarde estatura moral daqueles que pretendem se esconder em uma criminosa ‘liberdade de agressão’, que não se confunde com a liberdade de expressão.”
A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) havia solicitado a revogação do regime domiciliar de Jefferson. Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) também tinham feito o pedido ao STF.
Jefferson gravou o vídeo para criticar um voto de Carmen Lúcia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em janeiro, Moraes determinou que Jefferson ficasse em regime domiciliar e com tornozeleira eletrônica. Na época, o ministro do STF já havia advertido que o descumprimento das medidas poderia ocasionar o restabelecimento da prisão preventiva.
O ex-parlamentar estava preso desde agosto de 2021 pela suspeita de participação na milícia digital que faz ataques a instituições democráticas.
Em uma das entrevistas transcritas, Jefferson, aliado do presidente Bolsonaro, afirma que é preciso “concentrar as pressões populares contra o Senado e, se preciso, invadir o Senado e colocar para fora a CPI a pescoção”. Em outra, diz que o Brasil necessita “fazer uma limpeza, começando pelo Supremo, ninho de bruxas e urubus”.
Mais reações
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que “o Brasil assiste estarrecido fatos que, neste domingo, atingiram o pico do absurdo. Em nome da Câmara, repudio toda reação violenta, armada ou com palavras, que ponham em risco as instituições e seus integrantes. Não admitiremos retrocessos ou atentados contra nossa democracia”.
Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e senador eleito, fez um breve post: “Coisa mais sem noção esse ataque aos agentes da PF. Espero que estejam bem. Minha solidariedade”.
A BBC News Brasil fez contato com representantes do PTB para saber o posicionamento do partido sobre o episódio na residência de Jefferson e aguarda resposta.
– Este texto foi publicado originalmente emhttps://www.bbc.com/portuguese/brasil-63366892…
Fonte: bbc.com