Segundo semestre de 2023 teve crescimento de 0,9% em relação ao período anterior
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última sexta-feira (8), os dados para o Produto Interno Bruto (PIB) referentes ao segundo trimestre de 2023. Algumas surpresas positivas ganharam destaque como, por exemplo, o crescimento de 0,9% frente ao trimestre anterior (taxa que, se anualizada – ou seja, se fosse mantida por quatro trimestres – representaria um ritmo de crescimento de 3,65% ao ano. Nada mal para uma economia como a brasileira que apresenta muita dificuldade em crescer).
Sob a ótica da produção, cresceram a indústria (0,9%) e o setor de serviços (0,6%) e tivemos queda da agropecuária (-0,9)%, todos frente ao primeiro semestre do ano. A mesma comparação, mas sob a ótica dos gastos, revelou que o consumo cresceu 0,9%, os gastos do governo, 0,7%, as exportações, 2,9% e as importações, 4,5%. O investimento (denominado nos meandros mais técnicos de “formação bruta de capital fixo”) ficou estagnado, com crescimento de apenas 0,1%.
Uma análise mais aprofundada do investimento revela um cenário preocupante, no entanto. Façamos os seguintes ajustes: (i) consideremos o investimento não em valores nominais (para não sermos “enganados” pelas variações dos preços), mas em valores reais (tecnicamente, deflacionados pelo deflator dos investimentos). Adicionalmente, (ii) vamos dividir o investimento pela população com idade entre 15 e 64 anos. Esse será no nosso investimento per capita . Ele se encontra em nível semelhante ao do terceiro trimestre de 2009. Não parece grande coisa. Mas piora.
Existem técnicas de uma área de que chamamos de econometria que nos ajudam a separar a “tendência de longo prazo” de uma variável, das suas “flutuações de curto prazo”.[1] Ao (iii) isolarmos os efeitos das flutuações, podemos ver no gráfico que o investimento per capita encontra-se 4,75% abaixo da sua tendência de longo prazo, nível semelhante à recessão que tivemos entre 2014 e 2016 ou em outros períodos recessivos, como em 2003 ou em 1998. Ou seja, por mais que ainda não pareça, temos um comportamento do investimento per capita comparável ao de uma recessão! E o que isso significa?
No curto prazo, investimento é gasto (compra de máquinas e equipamentos ou construção de estruturas, por exemplo). Mas ajuda que, no longo prazo, o país possua uma maior capacidade produtiva, o que é crucial para sustentarmos períodos de crescimento econômico com taxas mais interessantes. Sendo assim, a composição do PIB neste ano, especialmente no que toca o investimento, traz uma luz amarela: alguns tipos de gastos não nos levarão muito longe. Aqueles que poderiam ajudar a manter (ou aumentar) o padrão de vida do brasileiro ao longo do tempo, seguem desapontando. Algo precisa mudar.
Fonte: economia.ig.com.br