Em alguns municípios, foram registradas inundações e as pessoas tiveram que deixar suas casas para buscar abrigo em locais mais altos
O Governo do Estado da Bahia informa que está em contato com prefeitos e montou uma força-tarefa de “ajuda humanitária e máquinas para obras de infraestrutura” nas cidades afetadas.
De acordo com especialistas, a tempestade atípica ocorreu pela combinação de dois fenômenos climáticos distintos: um corredor de umidade que vem da Amazônia e a formação de uma depressão subtropical (rajadas de ventos e nuvens em formato circular que giram em sentido horário).
Entenda a seguir o que já se sabe sobre o evento extremo e suas possíveis causas
O que se conhece até o momento
As chuvas começaram a cair na região leste e sul da Bahia entre os dias 6 e 7 de dezembro.
As cidades mais atingidas foram Jucuruçu e Itamaraju, que ficam no extremo sul do Estado.
De acordo com as informações oficiais, pelo menos três pessoas morreram após um deslizamento de terra registrado no dia 8 de dezembro na cidade de Itamaraju.
Segundo o relato do governador Rui Costa (PT), os dois municípios “estão praticamente embaixo d’água”.
“A prioridade é tirar as pessoas de áreas de risco, mas, infelizmente, as condições do tempo estão limitando as ações aéreas”, explicou
Na quinta-feira (9/12), o Governo do Estado da Bahia decretou situação de emergência para 24 cidades. O objetivo é mobilizar todo o aparato público para apoiar as ações de socorro à população.
O decreto vale para as cidades de Anagé, Baixa Grande, Boa Vista do Tupim, Camacã, Canavieiras, Encruzilhada, Eunápolis, Guaratinga, Ibicuí, Itabela, Itacaré, Itamaraju, Itambé, Itapetinga, Itarantim, Jiquiriçá, Jucuruçu, Marcionílio de Souza, Mascote, Medeiros Neto, Mundo Novo, Santanópolis, Teixeira de Freitas e Vereda.
Outros municípios também decretaram estado de calamidade.
Na sexta (10/12), Costa se reuniu por videoconferência com a maioria dos prefeitos dessas cidades e detalhou a força-tarefa que está sendo montada.
Barcos, botes, caminhonetes e aeronaves foram destacados para prestar socorro e transportar os moradores das comunidades alagadas. Cestas básicas, cobertores, lonas e medicamentos também estão sendo distribuídos.
“Vamos manter uma reunião diária emergencial com toda a equipe de governo e municípios para tomar as providências”, prometeu o governador, em nota publicada no site oficial do Estado da Bahia.
“Já conseguimos, em vários locais, fazer resgates de muitas pessoas doentes e mulheres grávidas”, completou.
As autoridades orientam que os moradores dos locais afetados se abriguem em áreas mais altas e solicitem ajuda.
“Faço um apelo para que as pessoas que estão próximas de rios e riachos saiam de suas casas e vão para regiões mais altas. Esses rios e algumas barragens vão soltar mais água”, alertou o governador.
O que causou o evento extremo
O climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que as tempestades na Bahia têm a ver com a combinação de dois fenômenos distintos.
O primeiro deles é a formação da chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) a partir do dia 5 de dezembro.
“Trata-se de um corredor de umidade que surge na Amazônia e vai em direção à Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso, chove na região desde o dia 6 de dezembro”, diz.
Segundo, é possível observar a partir do dia 7/12 a formação de uma área de baixa pressão no Oceano Atlântico, próximo à região costeira do Brasil, que irá evoluir para um sistema denominado depressão subtropical.
A depressão subtropical é um evento meteorológico que gira no sentido horário e é marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima
“E a combinação desses dois acontecimentos, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a área de baixa pressão, é o que intensificou a chuva nas regiões leste e sul da Bahia ao longo dos últimos quatro ou cinco dias”, continua o pesquisador.
Aquino conta que a ZCAS é um fenômeno característico e esperado nesta época do ano, causando as “chuvas de verão” no corredor entre o norte da Amazônia e os Estados de Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Já a depressão subtropical é algo atípico e ainda possui condições de evoluir para uma tempestade tropical.
“As mudanças na circulação geral da atmosfera sugerem para nós que o oceano mais quente na costa do Brasil poderia formar com mais frequência áreas de baixa pressão como essa, levando à depressão subtropical”, contextualiza.
E essa depressão subtropical, por sua vez, pode se combinar com a ZCAS e impulsionar outros eventos extremos.
Mas o climatologista entende que é preciso analisar mais a fundo para entender o que essas tempestades na Bahia podem sinalizar.
“Neste momento, não conecto diretamente as mudanças climáticas com esse evento extremo”, pondera.
“Mas, num planeta mais quente, eventos extremos tornam-se mais frequentes, com a formação de depressões subtropicais como esta [vista na Bahia]”, finaliza.
Fonte: bbc.com