É desoladora, mas inapelável a constatação: o Brasil terminará o ano de 2022 mais pobre. Significativamente mais pobre. Em um patamar que não se vê há mais de uma década. Regredimos de forma acentuada e são as estatísticas que mostram. Levantamento realizado pela Tendências Consultoria aponta que as classes D e E, aquelas que estão na base da pirâmide e que já representam a maioria absoluta, com rendimentos familiares mensais até o patamar de R$ 3,1 mil, acaba de ultrapassar a marca de 55% da população. Para ser exato, corresponde hoje a 55,4% do total. Há dez anos, quando o número de brasileiros situados na camada da chamada baixa renda batia seu primeiro recorde, o percentual estava em torno de 48,7%. A soma agora ultrapassa as expectativas mais pessimistas, embora previsíveis dentro de uma nação que já condenou 33 milhões de cidadãos a viverem passando fome. É o retrato e legado implacável de uma administração desastrosa. Decerto nunca antes no Brasil tantos dependeram tanto do Estado e foram desprezados. Vulneráveis sem assistência. Vem sendo bem difícil ajustar os gastos familiares na maioria dos lares, porém aqui, nessa camada de desassistidos, o drama é ainda mais profundo. As classes D e E estão perdendo chances mínimas de sobrevivência, perdendo renda, seja pelo desemprego ou até mesmo por ter de aceitar das empresas que lhe paguem menos do que o antes proposto. A migração de classes, nesse contexto, é acelerada. Como os reajustes de preços (a famigerada carestia) não para de avançar, em meio a juros escorchantes, o coquetel amargo traz um impacto demolidor no cotidiano da maioria. Na roda da economia, menos renda significa menos consumo e, por tabela, menos produção, gerando um ciclo recessivo sistemático. Ninguém ganha. A desigualdade, que é histórica, ampliou-se e, no seu rastro, veio o desespero. Os resultados começam a ser verificados. Triplicou, por exemplo, o total de brasileiros com registro de armas. A flexibilização legal patrocinada pelo atual governo explica parte do fenômeno, mas a busca pelo armamento também sinaliza o aumento paralelo da marginalidade como alternativa de sobrevivência. O endividamento segue em alta. A busca por crédito que serve para cobrir despesas rotineiras e essenciais cresceu cerca de 62,8% no ano. Assim, os compromissos familiares impagáveis vão virando uma bola de neve prestes a estourar, quase uma epidemia. Hoje, de cada 100 famílias brasileiras, 79 estão penduradas com algum papagaio, com a maior parte das dívidas atreladas a bancos via boletos não pagos de serviços gerais, tais como luz, telefone, internet, carnês de lojas e prestações de carro ou casa. Com tantas pendências em aberto, os brasileiros vão endossando o contingente de inadimplentes, aqueles que deixam de quitar as cobranças por absoluta falta de condições. A inadimplência está também em um nível recorde, com cerca de 67 milhões de indivíduos figurando nos cadastros negativos. O valor da montanha de dívidas que carregam, segundo dados do Serasa, já ultrapassou a cifra de R$ 289 bilhões. E o que é pior: o tema nem ºsequer passa na pauta de prioridades apresentadas pelos dois postulantes à presidência da República, que estão às voltas com a disputa para gerir o País a partir de 2023. Infelizmente o cenário piorou e não há no horizonte perspectiva de que irá melhorar em curto espaço de tempo.
Fonte: msn.com