João Paulo Capobianco, “número 2” do Ministério do Meio Ambiente, afirma que gestão trabalha em conter emissões de CO₂ e adaptar infraestruturas a eventos extremos
Dos eventos extremos que atingiram o Acre, o litoral paulista e mais recentemente o Espírito Santo, aos desequilíbrios que prejudicam a safra do agronegócio, calcula-se que o Brasil perde 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) a cada ano como resultado das mudanças climáticas.
Secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco é quem menciona o dado, calculado pelo Banco Mundial em 2022.
Em entrevista à CNN, o biólogo reforça: “O Brasil perde recursos significativos e necessários ao seu crescimento e desenvolvimento por conta das mudanças climáticas”.
Em um dos efeitos visíveis, o chamado “Super El Niño” — impulsionado por alterações no clima —, leva a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a revisar repetidamente para baixo sua previsão para a safra 2023/2024.
Motor do crescimento econômico brasileiro no ano passado, o agronegócio perde potência em meio ao processo.
“Temos de incorporar a dimensão climática no planejamento do país e adotar medidas de adaptação. É algo urgente, que precisa ser feito. O Brasil começa a fazer isso, mas precisa acelerar o processo. É o que vai permitir minimizar este impacto sobre a economia e sobre a vida das pessoas”, diz.
O combate às mudanças climáticas acontece em duas frentes, explica o “número 2” da pasta. A primeira, definida como “mitigação”, busca frear as emissões de carbono, que levam ao aquecimento global.
Já a segunda foca em adaptar o território brasileiro para os eventos que não podem mais ser evitados.
O Brasil é o sétimo país que mais emite CO₂ no mundo, e a maioria deste volume tem origem no desmatamento (49%), o chamado “uso da terra”.
O secretário celebra a redução das ações de degradação da Mata Atlântica e, especialmente, da Amazônia, de 50%, em 2023, mas admite dificuldades no Cerrado, onde houve aumento de 43% no ano passado.
Responsável por 25% das emissões brasileiras, a agropecuária também fica no radar.
Para Capobianco, há avanços nesta frente, com o desenvolvimento de tecnologias pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e incentivos à sustentabilidade no Plano Safra 2024, mas é necessário ampliar o uso efetivo das novas técnicas.
No caso da segunda frente de “combate” às mudanças climáticas, os esforços estão voltados especialmente à adaptação de infraestruturas — viárias, urbanas, de comunicação e diversas outras — a fim de que suportem os eventos extremos já dados e impeçam tragédias humanitárias e econômicas.
Obras de enfrentamento às mudanças climáticas
O governo prevê no Novo PAC, seu programa de investimentos, uma série de obras para o enfrentamento das mudanças climáticas. Os desastres ocorridos em 2023, bem como os impasses do processo orçamentário, indicaram que a mobilização e destinação de recursos será mais desafiadora que o projetado inicialmente.
Entre os mecanismos trabalhados pelo governo para atração destes recursos estão os títulos soberanos verdes, cuja primeira emissão no mercado internacional rendeu US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).
Esse dinheiro será destinado ao Fundo Clima, voltado a financiar este tipo de infraestrutura a juros mais baixos.
O Fundo Clima conta com modalidades voltadas a financiar infraestruturas resilientes a choques climáticos, além de empreendimentos que visem limpar a matriz energética brasileira e promover sustentabilidade na indústria e nos transportes. Também há apoio à conservação de biomas e reflorestamento.
Mais recentemente, o governo anunciou um hedge cambial voltado a proteger investimentos verdes de variações cambiais.
Este mecanismo funciona como uma espécie de seguro, que cobre prejuízos a serem combinado. Deste modo, se o real desvalorizar em um determinado percentual, o investidor estará protegido.
A ideia é viabilizar operações no mercado de capitais para empresas e investidores sediados no Brasil captarem recursos no exterior. Na avaliação do governo, o custo da proteção cambial para prazos mais longos atualmente inviabiliza investimentos ecológicos em moeda estrangeira.
Fonte: cnnbrasil.com.br