Observatório Obstétrico Brasileiro revela número alto de óbitos de mulheres entre 10 a 49 anos, ocorridos na gravidez, parto ou puerpério
O caso mais comum de morte materna obstétrica é a hipertensão arterial ou eclampsia
Os óbitos de gestantes e puérperas (mulheres que deram luz há bem pouco tempo) aumentaram 76,4% no triênio 2019/2021, em Mato Grosso.
Considerados inéditos, os dados são do Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) e revelam que o número pode ser maior do que o calculado pelo Ministério da Saúde.
De acordo com o Observatório Obstétrico, é expressivo o número de óbitos de mulheres entre 10 a 49 anos ocorridos na gravidez, parto ou puerpério, porém não contabilizados pelo MS por não terem sido classificados em uma das categorias pré-determinadas para morte materna da Classificação Internacional de Doenças (CID).
O caso mais comum de morte materna obstétrica é a hipertensão arterial ou eclampsia.
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O estudo foi apresentado no último dia 7 deste mês pelas coordenadoras do OOBr, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, professora associada da Disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e Agatha Rodrigues, professora adjunta do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Espírito Santo.
Em nível nacional, o número de mortes de gestantes e puérperas é cerca de 35% maior do que o veiculado pelo órgão federal de Saúde.
Na pesquisa, foram analisados casos em que a declaração de óbito apontava para morte de gestante, puérpera até 42 dias, mas que não foram incluídos nos dados de morte materna declarados (oficiais), excluídos os casos decorrentes de suicídio, violência, disparo de arma de fogo, entre outros.
Também não foram incluídos nos dados de morte materna oficiais cardiopatias, infecções, embolia pulmonar e diabetes mellitus não especificado entre outras infecções.
“Por exemplo, uma gestante que morreu com infecção, mas o código colocado na declaração de óbito foi diferente dos comumente usados para morte materna (iniciados com a letra O, por exemplo, O99. Outras doenças maternas, complicando a gravidez, o parto e o puerpério), mesmo que tenha sido colocado que ela faleceu no momento da gestação, este caso não será contado como morte materna”, explicou Rossana Pulcineli.
Em Mato Grosso, o levantamento revela a ocorrência de 155 mortes maternas confirmadas durante o triênio.
O Estado registrou 38 mortes maternas em 2019 e 50 óbitos no ano seguinte. Em 2021, o número subiu para 67.
Os dados referentes ao ano passado são preliminares, sendo que dentre as demais unidades da Federação localizadas na região Centro-Oeste ocupa o segundo lugar do ranking.
Em Goiás, foram 123 registros, em Mato Grosso do Sul 54 e no Distrito Federal, 37 mortes maternas.
O levantamento mostra ainda que, em 2019, durante a gravidez, parto ou aborto (exceto externo) e durante o puerpério até 42 dias, não foram contabilizadas duas mortes; no ano seguinte outras cinco mortes foram desconsideradas e, em 2021, 15 não foram registradas no Estado.
Segundo as coordenadoras, o fato de o número de mortes de gestantes e puérperas ser ainda maior do que o veiculado pelo MS, conforme estudo e estatísticas expostos, é uma situação preocupante.
“Acreditamos que apenas com dados adequados e transparentes podemos mudar a realidade da saúde pública. A subnotificação de casos de morte materna falseia nossa real situação em relação à morte materna”, disse.
RAZÃO DE MORTE MATERNA – Outro fato preocupante refere-se à Razão de Morte Materna (RMM), que é o número de mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos.
Em Mato Grosso, essa taxa é maior que o verificado no país.
Em 2019, o RMM estadual era 64,5/100 mil nascidos vivos e nacional era 55,3/100 mil.
Em 2020, o índice era de 87,6 a cada 100 mil nascidos e, em 2021, ficou em 116,3 mortes a cada 100 mil.
O índice nacional foi de 107,4/100 mil no ano passado.
O Observatório Obstétrico lembra que, em 2018, o Ministério da Saúde assumiu a meta de redução de 51,7% da RMM até 2030, que corresponde a 30 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos.
Para as representantes da instituição, esses índices só podem ser reduzidos com políticas públicas efetivas para cada contexto, de cada região.
A reportagem do DIÁRIO entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde para obter um posicionamento sobre o assunto, mas, até a edição desta matéria, não obteve um retorno.
Fonte: diariodecuiaba.com.br