O policial e instrutor Fernando Raphael de Oliveira, deu detalhes do modelo de segurança aplicado
Professores e funcionários de escolas particulares de Mato Grosso estão sendo treinados com protocolos do FBI (Federal Bureau of Investigation) para casos de ataques armados.
A instrução é a mesma para todas as escolas. Elas serão treinadas com o protocolo civil americano
Nos Estados Unidos, onde massacres são recorrentes, esse protocolo reduziu o índice de ataques às escolas, enquanto no Brasil o que acontece é uma escalada da violência, sendo esses locais alvos de 83% dos atentados. Em Mato Grosso, o cenário não é diferente. Desde o início de abril, houve um aumento preocupante de ameaças, menores apreendidos com armas brancas e até simulacro de pistola nas unidades de ensino.
“A instrução é a mesma para todas as escolas. Elas serão treinadas com o protocolo civil americano, que tem mais de 30 anos. E a gente adaptou para aplicar aqui [no Brasil]. Somente os funcionários são treinados, os alunos não. Isso para não burlarem o protocolo”, diz o instrutor Fernando Raphael Ferreira de Oliveira, do Grupo Força e Honra, que realiza os treinamentos.
“O primeiro grande evento crítico no País foi em 2011, em Realengo, no Rio de Janeiro, e vitimou 12 crianças. Foi então constatado que esse tipo de crime é crescente. E desde 2018 a gente vem estudando o assunto de agressores em escolas”, explica Fernando Raphael, que também é policial militar.
“Agora em 2023, infelizmente, está havendo uma onda de ataques que vem causando pânico nas unidades de ensino. Nós já estamos atuando nas escolas privadas, orientando e dando todo suporte, principalmente na questão preventiva”.
Fernando Raphael explica que a demanda por consultoria nas escolas privadas em Cuiabá aumentou, principalmente, nas duas últimas duas semanas. Isso aconteceu pela onda de violência decorrente do ataque à creche em Blumenau (SC), que resultou na morte de quatro crianças, além de outras feridas.
Até o momento, 15 unidades de ensino privado já contrataram a empresa, como o Colégio Isaac Newton, Notre Dame de Lourdes, Ibero Americano entre outros.
“[O protocolo] é simples, e inclusive já está sendo divulgado pelas forças de segurança, pela Polícia Militar. Primeiro: sempre correr. Se não for possível correr: se esconda. Em último caso: lute. Esse é o protocolo do FBI, que já estamos empregando nas escolas que nos contrataram para o treinamento. Além disso, outros pontos aplicados são: monitoramento, estrutura das instalações, controle de acesso – que é muito importante”, disse.
“Também ensinamos quem deve correr e para onde. [Treinamos] Isolamento… Tudo para evitar pânico, que resulta no efeito manada. Porque se um for para o lado errado, todo mundo vai junto. Então, por exemplo, no caso da evasão, tem que se preparar para o que a gente chama de saída controlada, para que todos saiam sem se machucar e sem machucar ninguém”.
“No caso de isolamento, a orientação é entrar numa sala com os alunos, pegar todas as cadeiras, fazer uma barreira com as cadeiras na porta e ficar no lado oposto. Nos Estados Unidos eles têm até o chamado ‘canto seguro’. É preciso entender que o agressor sempre vai no alvo mais fácil. Se criar uma resistência, ele vai para outro lugar e assim sucessivamente. E esse é o tempo necessário para as forças de segurança chegarem e neutralizarem aquela ameaça”.
Segundo o instrutor, a primeira etapa da consultoria é uma vistoria na parte estrutural das escolas, depois são realizadas palestras distintas com os funcionários, alunos e os pais. Em seguida, a equipe faz uma simulação “de ataque” com os funcionários, e por último há a readequação na estrutura.
“Passar por essa orientação é importante porque muitos professores não sabem o que fazer. A gente tem visto ideias mirabolantes, como colocar gente armada em escola, professor estar com spray de pimenta, detector de metal, porta giratória… Tudo isso foi testado nos Estados Unidos e não deu certo”.
O instrutor Fernando Raphael de Oliveira: pais precisam ser mais atentos
Além da necessidade de estar preparados para uma eventual ocorrência, o instrutor alerta para outra questão: a importância da prevenção. Isso quer dizer que é preciso observar o comportamento da criança e do adolescente no ambiente familiar, ou seja, é necessário que os pais se envolvam mais no dia-a-dia dos filhos.
“São três pilares básicos: a comunidade, a escola e, o principal, a família, que tem papel fundamental nisso. Mas o que percebemos? A família está transferindo grande parte da responsabilidade de formação de caráter para a escola”, lamenta Fernando Raphael.
“Nas entrevistas que fazemos nas escolas, o que mais temos recebido são relatos de alunos em situação psicológica crítica, que não têm diálogo em casa. Não é papel da escola revistar mochila, e legalmente nem pode. Isso é parte da família”.
Um dos pontos mais insistidos pelo instrutor é o acesso livre dos menores à internet. Segundo o especialista, um dos casos mais recentes que ele atendeu como Policial Militar foi o do menino pego com uma machadinha artesanal na Escola Estadual Manoel Cavalcanti de Proença, no Bairro Tijucal, em Cuiabá.
“A criança levou uma machadinha logo após o caso de Blumenau. Eu conversei com a mãe, e ela falou que no ano anterior ele brigou com um coleguinha na escola, e então se juntou com outros para poder se vingar. Entre as pesquisas no celular dele, estavam: ‘como montar bomba, matar com faca, cometer suicídio’”.
“Então, novamente: pais, os senhores sabem o que seus filhos estão pesquisando na internet? Pega o celular, o computador deles, vai no histórico de pesquisa e confere. Em 30 segundos você faz isso. Eu tenho certeza que 70% dos pais vão se surpreender com o que vão descobrir”.
Efeito “copycat”
Além do treinamento, também é necessária uma atenção da comunidade escolar e população em geral para não criar o chamado efeito “copycat”, que é quando se divulga muitas informações sobre o modus operandi dos ataques, fazendo com que novos agressores copiem o atentado.
“A mídia tem feito um bom trabalho para dar uma baixada nessa poeira. Mas ainda é preciso cuidado. Em vídeos que temos estudado, até a vestimenta do ataque eles estão copiando. Depois de Blumenau, já teve mais três ataques com machadinha, nos estados do Ceará, Goiás, e em Manaus com faca, mas todos com arma branca”, alertou.
Resposta do poder público
De acordo com o instrutor, a Polícia Militar de Mato Grosso tem se preparado desde o ano passado para responder a esta crescente de violência nas escolas.
“O [comandante da PM] coronel Mendes formou uma equipe que já vem estudando esses fenômenos, e os policiais militares que integram esse grupo foram treinados e especializados em outros estados onde houve casos. Então, em breve a PM vai estar com o protocolo militar e as 612 escolas do Estado receberão o protocolo civil [do FBI]”.
“Nesse projeto, todos os policiais militares serão capacitados para atender esse tipo de ação. É preciso entender que quando a gente fala de segurança em geral, pública ou privada, não existe uma fórmula de bolo que solucione os problemas. Então, novamente, chamo a atenção da família, para que ela cuide de suas crianças”.
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Fonte: midianews.com.br