Somente entre soja e milho estado deve produzir mais de 96 milhões de toneladas, conforme dados do Imea
Mato Grosso deve encerrar a safra 2022/23 com uma produção superior a 96 milhões de toneladas entre soja e milho. Estudo realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que a capacidade de armazenagem no estado, que nesta temporada conta com um déficit superior a 51 milhões de toneladas, não acompanha o crescimento da produção e pode colocar em risco o abastecimento de grãos nas próximas safras.
Em soja o estado colheu 45,316 milhões de toneladas, segundo o instituto. A colheita de milho está praticamente encerrada no estado e as perspectivas apontam para 51,031 milhões de toneladas. Com os trabalhos no cereal encerrando, as atenções no campo agora começam a se voltar para o ciclo 2023/24 da oleaginosa, cujo plantio inicia em 16 de setembro e as estimativas preveem uma área de 12,4 milhões de hectares.
De acordo com o superintendente do Imea, Cleiton Gauer, o incremento de área para a safra 2023/24 de soja é de aproximadamente 100 mil hectares em comparação ao ciclo 2022/23.
“Em torno de 1% em relação ao incremento que nós vimos ano contra ano, principalmente porque os produtores estão preocupados. Preços e custo elevados realmente são desafios da próxima temporada. O produtor não está confortável para fazer e dar continuidade no crescimento que a gente viu nos últimos anos”.
Déficit de armazenagem é um desafio
O superintendente do Imea frisa que o problema com armazenagem em Mato Grosso é um problema enfrentado desde o início do desenvolvimento do estado e que a cada safra se agrava.
“A gente está falando em uma produção de mais de 100 milhões de toneladas aqui em Mato Grosso, e nós temos uma capacidade estática aí em torno de 47 milhões de toneladas e simplesmente se a gente descontar a produção em relação a capacidade nós temos um déficit de mais de 51 milhões de toneladas aqui no estado. É um problema já latente nos últimos anos. A gente vem rebatendo e mostrando isso a todo tempo porque a velocidade que a produção cresce é muito mais rápida que a capacidade estática”, diz Cleiton Gauer.
Armazenagem precisa ser prioridade do produtor
A situação preocupante e o futuro das próximas safras em Mato Grosso foram alguns dos pontos debatidos no 3 º Simpósio Técnico da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) – Anomalias da Soja e Armazenagem. O evento teve início nesta quinta-feira (10) em Cuiabá.
“Mais de 30% de milho brasileiro segunda safra sai de Mato Grosso, 35% da soja do Brasil sai de mato grosso e a nossa velocidade de armazenagem não está crescendo na velocidade que nós crescemos na ampliação de área e produção. Então é algo para se discutir e se refletir muito, a necessidade de construção e ampliação de armazéns”, frisa o diretor administrativo da Aprosoja-MT, Zilto Donadello.
Conforme o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, é preciso avançar com a armazenagem dentro das propriedades.
“Mas, isso só vai avançar com políticas públicas que saiam do papel e venham para o produtor. Não adianta anunciar e lá na ponta o produtor não ter acesso, ser burocratizado, ser venda casada de crédito. Precisamos que o crédito seja anunciado e seja efetivado, e não é com conglomerados de grandes empresas, grandes cooperativas, nada contra, nós precisamos do armazém na propriedade”.
Ilson José Redivo, vice-presidente do Sistema Famato, afirma que a situação é preocupante, pois “é um problema de segurança nacional”.
“Quando você não tem onde armazenar o seu produto, não tem local, não tem armazém, nós temos que jogar fora uma safra de grãos para armazenar outra que está vindo. Jogar fora no sentido de vender a preços baratos a preços que não condiz com a realidade do produtor, ou a necessidade do produtor”.
Cenário se reflete em todo o Brasil
O presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, salienta que o cenário visto em Mato Grosso se reflete em todo o país e que tal situação exige uma reflexão quanto à viabilidade de se continuar investindo para elevar a produção sem ter uma segurança sobre a disponibilidade de espaço para guardá-la.
“Por isso a gente está cobrando bastante. Não acontece só em Mato Grosso, mas em todos os estados onde tem a expansão da atividade. Esse problema da armazenagem todo ano tem agravado mais. Então, o produtor vai ter que ficar atento nisso e mudar o seu pensamento, ou seja, ao invés de só estar ampliando área, querendo produzir mais, ele tem que começar a analisar que ele precisa ter segurança de onde tem que guardar o seu produto”.
Galvan ressalta que é preciso continuar produzindo, mas que o problema da armazenagem precisa ser resolvido antes.
“De repente está na hora de nós pararmos um ano, dois anos, três anos até de ampliações de áreas e fazer estrutura armazenarias com capital próprio ou numa troca mesmo em alguma empresa que faz isso. Fazer um banco sem ter cofre é a mesma coisa de nós produtores estarmos plantando sem ter garantia de onde guardar”.
Fonte: agoramt.com.br