Interior da Praça José Rachid Jaudy acumula materiais de obra e entulho
Localizada na movimentada Avenida Isaac Póvoas, no Centro de Cuiabá, a Praça José Rachid Jaudy se tornou um acúmulo de pedregulhos, lixo, mato e dejetos humanos com o abandono da obra “interminável” da Prefeitura.
Em fevereiro do ano passado, a praça foi cercada por tapumes com a promessa de uma revitalização, que nunca saiu do papel.
Moradores e comerciantes da região têm lidado diariamente com a insegurança por conta de assaltos, assédios e outros transtornos. A Rachid Jaudy, hoje isolada dos moradores pelo cercado de metal, é abrigo de pessoas em situação rua e usuários de drogas
Ela trabalha há 8 anos no mesmo quiosque e conta que hoje tem medo de ficar até o anoitecer. “Não tenho mais coragem de ficar até às 19h, saio daqui no máximo às 14h”, disse.
“Já vi homem pulando com revólver na mão. Ele veio, eu fiquei em pé e assaltaram os promotores de ônibus na minha frente. E isso é direto”, disse.
“Já vi muitos apanhando, pulando todo ensanguentado de lá, porque eles brigam entre si”, afirmou ela sobre os usuários de droga.
Apesar de nunca ter sido assaltada, o medo é um constante companheiro, além da visão degradante da praça cercada pelos tapumes pichados.
Para aquele lado eu não vou, já teve até adolescente que foi estuprada nesse pedaço à noite, muito perigoso
“Era muito bonito, mas olha o jeito que está deteriorado, bem no centro da cidade. Só coisa ruim. Toda hora alguém chega aqui e reclama”, afirmou.
Michelle Marques da Silva é supervisora de uma loja de roupas ao lado da Rachid Jaudy há 3 anos. Ela conta que a obra inacabada impactou direta e negativamente nas vendas.
“A praça tinha um fluxo bem maior de pessoas que circulavam, agora diminuiu. Para nós refletiu nas vendas”, disse.
“Aqui é muito perigoso, fica cheio de drogados, pessoas que geralmente fazem furtos a noite, correm e se escondem ali”, afirmou.
O estabelecimento em que Michele trabalha fecha as portas durante a semana às 18h e mesmo se precisasse, ela diz não ter coragem de se aproximar à Praça.
“Para aquele lado eu não vou, já teve até adolescente que foi estuprada nesse pedaço à noite, muito perigoso. Prefiro caminhar mais, vou para o outro lado, mas ali eu não passo”, disse.
A preço de banana
A desvalorização imobiliária é outra constante reclamação para quem, por mais bem localizado que esteja, vê o esvaziamento das ruas que cercam a praça.
O bispo da Igreja Unida Deus Proverá, Ricardo Oliveira, de 40 anos, chegou a pouco na região, mas já sente o impacto do abando da obra.
“São muitos imóveis fechados e que ninguém aluga para comércio, desvalorizou muito o aluguel daqui. Um imóvel que valeria R$ 4 ou R$ 5 mil hoje está valendo R$ 2 mil. Ali na esquina tem um que era R$ 2 mil e está por R$ 700, mas ninguém aluga”, afirmou.
“Aqui tinha uma igreja e devido ao pouco movimento da rua o outro pastor decidiu fechar. Nós pegamos porque o ponto é bom, mas essa praça já está assim há muito tempo”, disse.
Segundo o bispo, a praça é constantemente invadida pelos usuários de drogas e, durante a noite, o lugar fica completamente deserto.
“A noite nem pedestre passa aqui por causa do medo. A iluminação em frente à Igreja é boa, mas o restante da rua é pouco iluminado. Isso inibe as pessoas de virem na igreja à noite, ninguém quer deixar nem moto estacionada, os carros não viram nessa rua”, afirmou.
Hillary Amanda Pereira mora em um empreendimento que tem com a mãe, uma escola profissionalizante de inglês e informática, em frente Rachid Jaudy, desde dezembro de 2022.
“Tenho receio principalmente de andar de noite com essa praça fechada, evito sair e se saio espero o carro chegar para entrar, não fico aqui na frente parada”.
Hillary conta que quando chegou, junto com a mãe, as duas viram as fezes e urinas deixadas para trás por moradores de rua. “Quando chegamos aqui na praça a gente deu uma olhadinha e tinha muito disso, o cheiro era muito forte”, disse.
A empresária também teme pelos alunos, em sua maioria, adolescentes. “Eles roubam piso da praça, passam encarando os nossos adolescentes, então eu acho bem perigoso”, disse.
Eu espero que ela fique pronta o quanto antes, falaram que ia ter academia e computadores na praça, então estou com a expectativa bem alta
“Aqui é bem localizado, mas essa praça fechada é muito ruim. Eu espero que ela fique pronta o quanto antes, falaram que ia ter academia e computadores na praça, então ainda estou com a expectativa alta”.
“Praça tem que ter árvore”
Trabalhando há 3 anos em um quiosque ao lado da Rachid Jaudy, Claudio Benedito, de 42, teve uma experiência diferente com pessoas em situação de rua que se instalaram na Praça.
“Eles não têm onde morar ai frequentam as praças, assim como no morro da luz ou outras. Nunca nos importunaram, são até bem educados, mas agora não tem ninguém morando mesmo”, disse.
Apesar disso, Claudio diz que o impacto nas vendas foi enorme, principalmente, pelo medo das pessoas com as histórias que ouvem do lugar.
“Uma praça bonita dessas, bom para desfrutar a família, passeios, encontros e fica ai à mercê, sem previsão de início de nada”, disse.
Ele espera que as obras não comessem apenas na época das eleições.
“É só no tempo da política que eles começam as obras, poderiam começar já, agora. Tem umas pessoas trabalhando ai, mas é bem devagar, só para dizer que a praça não está sem ninguém. Não tem nada mudando não”.
Claudio espera que a obra traga de novo o movimento e com ele as vendas melhorem. “Só não precisa tirar as árvores, se tirar a árvore acaba tudo. Praça sem árvore não é praça”.
Segundo os moradores e comerciantes da região, até mesmo os materiais da obra estão sendo furtados pelos vândalos.
Outro lado
A Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP) afirmou que os trâmites internos encontram-se em fase de licitação e, após a conclusão do certame, os trabalhos serão colocados em prática
Fonte: midianews.com.br