MT: POLÍTICA & FUTEBOL: Verso e reverso da Copa do Mundo Fifa em Cuiabá, 9 anos depois

MT:  POLÍTICA & FUTEBOL:   Verso e reverso da Copa do Mundo Fifa em Cuiabá, 9 anos depois
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Misturando avanço na mobilidade urbana com denúncia de desvio de recursos, o evento foi um marco em Mato Grosso

A Agecopa foi oficializada por Blairo Maggi em 11 de novembro de 2009, e tinha 7 diretores: o presidente Adilton Sachetti, Yênes Magalhães (Planejamento), Roberto França (Comunicação), Carlos Brito (Infraestrutura), Agripino Bonilha Filho (Articulaçã

Um sonho faraônico que beneficiou Cuiabá e Várzea Grande, mas que deixou obras inacabadas e foi permeado por denúncias de desvio de recursos públicos.

Assim foi a Copa do Mundo de 2014 – a Copa do Pantanal – que, há nove anos, teve quatro jogos disputados na Arena Pantanal, por oito seleções dos cinco continentes.

Sobre as partidas não há dúvidas, mas uma densa cortina abafa os escândalos daquele período.

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As heranças benditas e malditas da Copa e o que aconteceu na área econômica e na esfera pública nesse período criaram um marco divisor: o antes e o depois da maior competição esportiva do planeta.

Diante de jornalistas do mundo inteiro a Arena Pantanal foi palco de quatro jogos da Copa: em 13 de junho, Chile e Austrália (3 a 1); em 17 de junho, Rússia e Coreia do Sul (1 a 1); em 21 de junho, Nigéria e Bósnia e Herzegovina (1 a 0); e em 24 de junho, Japão e Colômbia (1 a 4).

Nas cadeiras da arena torcedores japoneses deram show de civilidade recolhendo o lixo que produziram; nas ruas milhares de chilenos com roupas azuis, brancas e vermelhas ganharam simpatia popular por seu grito de guerra: Chi-chi-chi-lê-lê-Viva Chile.

Síntese da Copa: a Arena Pantanal foi construída em substituição ao Estádio Governador José Fragelli, o Verdão.

Com capacidade para 44 mil espectadores, aquela praça esportiva teria consumido R$ 646 milhões e sua concepção leva a chancela da empresa paulista GCP Arquitetos.

Cuiabá é tradicionalmente cidade de altas temperaturas e, em razão disso, a construção da arena tem aberturas que facilitam as correntes de ar em todas as direções; e um avançado sistema de captação de água assegura parcialmente a irrigação do gramado e o fornecimento aos banheiros.

Mato Grosso teve que fazer das tripas coração para ser uma das sedes da Copa.

O mandachuva da Fifa, Jérôme Valcke, e Ricardo Teixeira, da CBF, queriam 10 cidades para os jogos.

O governador Blairo Maggi buscou socorro no presidente Lula da Silva e a saída foi contemplar dois roteiros turísticos brasileiros com os jogos: Cuiabá com a Arena Pantanal e Manaus com a Arena Amazônia, mas para que os cuiabanos pudessem ver as seleções em campo, primeiro tiveram que vencer uma disputa regional com Campo Grande, que sonhava acordada com o evento.

Lula bateu o martelo por Cuiabá e Manaus. Assim, os jogos foram diluídos em 12 estádios nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Salvador, Recife, Curitiba, Natal e as queridinhas mato-grossense e amazonense.

O “sim” do presidente estava assegurado, mas faltava o OK de Valcke e esse foi dado informalmente em outubro de 2007, durante a visita de uma delegação da Fifa/CBF a Cuiabá.

Essa delegação foi recebida pelos mais importantes segmentos econômicos e sociais, e que teve inclusive a presença do lendário cacique xinguano Raoni Metuktire, secundado por seu sobrinho e também cacique, Megaron Txucarramãe.

Havia o sonho e o sinal verde de Lula e o aceno positivo da Fifa para a Copa do Mundo em Cuiabá.

Faltava a oficialização e essa aconteceu em 31 de maio de 2009, quando em Nassau o presidente da Fifa Joseph Blatter pronunciou num português sofrível os nomes das 12 sedes da Copa, a palavra “Cooia-baah” soou divina para Mato Grosso.

Claro que a essa altura já estava costurado que a GCP Arquitetos seria autora do projeto da construção da Arena Pantanal e que a Deloitte Brasil faria consultorias para a Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo (Agecopa), criada para executar suas obras.

A Agecopa foi oficializada por Blairo Maggi em 11 de novembro de 2009, e tinha sete diretores: o presidente Adilton Sachetti, Yênes Magalhães (Planejamento), Roberto França (Comunicação), Carlos Brito (Infraestrutura), Agripino Bonilha Filho (Articulação Institucional), Yuri Bastos (Assuntos Estratégicos) e Jefferson Carlos de Castro Júnior (Finanças e Orçamento).

Posteriormente, ela foi substituída pela Secopa, secretaria extraordinária, exigida pela CBF.

O governo estadual não tinha caixa para tanto.

Uma convergência política regional reforçada com emendas parlamentares federais e com as bênçãos de Brasília canalizou recursos para atender às exigências da Fifa por meio de um caderno de encargos, do qual não fazia parte o veículo leve sobre trilhos (VLT).

Em nome da Copa Mato Grosso teria que construir um corredor nas avenidas Fernando Corrêa da Costa, Miguel Sutil e Ciríaco Cândia, em Cuiabá; e nas avenidas da FEB, Fernando Corrêa da Costa e Mário Andreazza (também chamada de rodovia),em Várzea Grande, para facilitar a travessia do perímetro urbano da região metropolitana.

Além disso, o Aeroporto Marechal Rondon seria modernizado para sua internacionalização; e seriam duplicadas as rodovias de acesso à vila de Passagem da Conceição, Santo Antônio de Leverger, Chapada dos Guimarães e o trecho urbano da MT-010 para Acorizal; e outras obras, secundárias

A travessia da região urbana ganhou importantes obras, com destaque para a Trincheira Engenheiro José Luiz de Borges Garcia, a Trincheirona, com 960 metros de extensão na Avenida Miguel Sutil e que custou R$ 43 milhões; e o Viaduto Engenheiro Domingos Iglesias Valério, na mesma via, com 325 metros de extensão e 9 metros de altura em seu ponto mais elevado.

A realização da Copa do Mundo previa a construção de dois centros de treinamentos (COT), um no bairro Pari, em Várzea Grande, e outro no campus da Universidade Federal (UFMT) em Cuiabá; o primeiro foi pouco além do projeto, e o outro foi concluído posteriormente.

Obras foram abandonadas e algumas nunca foram retomadas.

VLT – Em 1982,  quando candidato vitorioso ao governo, Júlio Campos prometeu que criaria um sistema de transporte sobre trilhos entre Cuiabá e Várzea Grande, mas não o fez. Com a Copa esse modelo de transporte ressurgiu em 2009.

O governo estadual anunciou que construiria corredores exclusivos para o modelo BRT (sigla de ônibus de transporte rápido, em inglês de livre tradução). Injunções políticas o modificaram para VLT, com projeto para 22 quilômetros de linhas ligando o Aeroporto Marechal Rondon à Igreja do Rosário e São Benedito, em Cuiabá, onde haveria bifurcação com uma linha avançando pela Avenida Historiador Rubens de Mendonça até o Comando Geral da Polícia Militar, e outra até o bairro Coxipó da Ponte.

Esse projeto orçado em R$ 1,57 bilhão foi executado parcialmente até agosto de 2014, quando o governador Silval Barbosa suspendeu sua construção.

Mais tarde o VLT foi judicializado, mas nunca mais avançou. Em 2021 o governador Mauro Mendes determinou sua retomada, mas desconsiderando o VLT e optando pelo BRT.

Sua construção pode demorar até dois anos. Sobre o montante financiado para a obra, não há informação precisa.

Considerado símbolo das obras inacabadas da Copa, o VLT carrega essa pecha injustamente, pois sua construção não levava aquele evento esportivo em conta, e sua linha não dava acesso à Arena Pantanal. Mesmo assim, ele seria o carro-chefe da mobilidade urbana nas duas cidades por sua condição de transportar passageiros e desafogar o trânsito de ônibus na região central de Cuiabá.

POLÍTICA – A representação política mato-grossense mudou parcialmente desde a Copa do Mundo. Governador naquele período, Silval Barbosa foi preso após deixar o cargo, acusado de corrupção;Silval fez delação premiada e está em liberdade. O vice-governador Chico Daltro disputou eleição para deputado federal em 2022, mas seu sucesso. O prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes elegeu-se governador em 2018 e reelegeu-se. O prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta, é vice-governador reeleito.
Do período, no Senado, Blairo Maggi foi ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Pedro Taques elegeu-se governador e tomou posse 2015, disputou e perdeu a reeleição; e Jayme Campos concluiu o mandato em 2014 e voltou ao cargo em 2018.

Da Câmara dos Deputados, Homero Pereira morreu vítima de um câncer; Wellington Fagundes elegeu-se senador em 2014 e reelegeu-se em 2022; Valtenir Pereira e Carlos Bezerra se reelegeram em 2014 e 2018, mas foram derrotados em 2022; Eliene Lima não conseguiu se manter no poder; Nilson Leitão reelegeu-se em 2014 e disputou o Senado em 2018 e 2020 (em eleição suplementar), mas foi derrotado; Ságuas Moraes foi reeleito em 2014 e desde então não disputou mais eleições;  Júlio Campos elegeu-se deputado estadual em 2022.

Da legislatura de 2011 a 2014 na Assembleia Legislativa, morreram Walter Rabelo, de infarto, e Hermínio Barreto, em um acidente na BR-163/364.

Emanuel Pinheiro é prefeito reeleito de Cuiabá; Teté Bezerra é secretária estadual de Agricultura Familiar; Ezequiel Fonseca foi deputado federal e não se reelegeu; Sérgio Ricardo e Guilherme Maluf foram nomeados conselheiros do Tribunal de Contas do Estado; Alexandre César é procurador do Estado; Walace Guimarães foi prefeito de Várzea Grande e cassado; Luciane Bezerra foi prefeita de Juara e teve o mandato cassado; Nilson Santos foi prefeito de Colíder; Wagner Ramos é diretor da estatal Metamat; José Domingos Fraga é comissionado na Assembleia Legislativa; José Riva teve os direitos políticos cassados, foi condenado e preso por improbidade administrativa, fez delação premiada, assumiu um desvio de R$ 175 milhões e está em liberdade; Percival Muniz foi prefeito de Rondonópolis; em 2012 João Malheiros foi eleito vice-prefeito de Cuiabá em 2012, não assumiu o cargo e permaneceu na Assembleia; Mauro Savi, Romoaldo Júnior, Baiano Filho, Ademir Brunetto, Airton Português e Luiz Marinho estão fora da vida pública – Savi foi preso acusado de improbidade administrativa, e Marinho deixou a stividade política em razão de problemas de saúde; Gilmar Fabris assumiu a cadeira de Walter Rabelo, tentou se manter no poder, mas não foi reeleito em 2022 – Fabris foi preso acusado de obstrução de Justiça; continuam em plenário Sebastião Rezende e Dilmar Dal Bosco.

Fonte:  diariodecuiaba.com.br


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