O geógrafo Anibal Alencastro destrinchou as histórias por trás das nomenclaturas
Aos 303 anos, Cuiabá tem como uma de suas maiores riquezas as histórias passadas de geração para geração. Dentre tantas curiosidades que compõe o imaginário, um dos questionamentos dos moradores é em relação aos nomes dos bairros que preenchem as delimitações da Capital.
Para entender melhor esta parte da história que quem vive hoje não pôde experimentar, o MidiaNews entrevistou o geógrafo Anibal Alencastro para contar como surgiram as nomenclaturas, às vezes, inusitadas, de bairros como Areão, Sucuri, Lixeira e muitos outros.
Anibal diz ter passado anos no arquivo público para conhecer as histórias mais antigas. Ele conta que os três bairros que deram o ponto de partida para o início da expansão de Cuiabá foram o Bairro do Porto, Baú e o Araés. O trio fazia parte da região antes denominada Vila Real do Bom Jesus de Cuyabá, em 1727.
Todos os três ainda existem atualmente, mas muito diferente de como eram quando surgiram. Apesar disso, o significado dos nomes permaneceram imutáveis ao longo dos anos.
O mesmo ocorreu nas outras regiões que, segundo Anibal, tiveram suas identidades criadas por cuiabanos percursores, que usavam da criatividade e dialeto popular para identificar cada ponto novo que surgia na cidade.
Bairro do Porto
O nome do primeiro bairro mapeado surgiu justamente porque foi naquela região que os primeiros barcos ancoraram na costa do Rio Cuiabá. A tripulação de São Paulo, à época chamada de São Vicente, desembarcava na vila que se tornaria a Capital mato-grossense.
Anibal explica que assim que as capitanias chegavam, montavam seus barracos. Com o passar dos anos, o local se tornou o Porto de Cuiabá e a partir daquele ponto que a cidade começou a crescer gradativamente.
Bairro do Baú
O segundo bairro mais antigo foi denominado desta forma por uma ligação com a exploração do ouro, tão presente na história da cidade.
O geógrafo conta que naquela região ficavam os escravos e os garimpos das Minas de Sutil. O local era conhecido pela sua abundância em ouro e, por isso, passou a ser chamado popularmente de “Baú”, até o nome se oficializar como o do bairro.
Primeira planta de Cuiabá, de 1863, quando só havia os Bairros do Porto, Baú e Araés
“Os escravos que moravam ali chamavam de ‘Baú’, porque era o local que se guardavam os tesouros”, explica.
Bairro Araés
Outro que compõe o trio de percursores, o Bairro Araés ganhou esta nomenclatura por causa de uma tribo de mesmo nome que vivia na região Leste de Mato Grosso, próximo ao Rio das Mortes.
Antes da modernização, a região era um bolsão de mata. Apesar de não haver uma comprovação, o nome, segundo Anibal, remetia à valentia da tribo homônima.
Bairro Sucuri
Também uma região muito antiga, o bairro recebeu esse nome devido ao formato inusitado do trecho do Rio Cuiabá que passava por ali.
Contam os antigos que as águas faziam um volteio quase na forma de um “S” e que lembrava também o movimento de uma cobra.
Então, os moradores, observando aquilo, passaram a chamar o local de Sucuri e assim outro nome se consolidou.
Bairro Lixeira
O nome do bairro foi inspirado em uma árvore típica do cerrado chamada lixeira. De casca grossa e tronco tortuoso, a planta carregava folhas verdes e ásperas como uma lixa.
O geógrafo relata que antes da região ser urbanizada, o local era cheio dessas árvores, por isso passou a se chamar Lixeira. Os antigos moradores, explica Anibal, costumavam usar as folhas para lustrar panelas de tão resistente que era.
Além de um símbolo do cerrado, a lixeira também tinha como característica a resistência à seca severa. Enquanto todas as plantas morriam, ela era aquela que permanecia verde e em pé.
Bairro Coxipó do Ouro
Antes de se transformar em Coxipó do Ouro, a região era chamada de Coxipó Mirim.
No entanto, com a chegada do bandeirante Pascoal Moreira Cabral e a descoberta do ouro na região o nome mudou.
Anibal passou anos no arquivo de Cuiabá para conhecer as histórias mais antigas
Anibal conta que os bandeirantes faziam barracas à beira do rio e, assim, utilizavam a água para limpar e beber. Foi em um desses momentos que, por acaso, eles acabaram encontrando as pepitas de ouro.
Seguindo o fluxo do rio, eles exploraram e se estabeleceram no local que continha uma quantidade enorme de ouro. Foi com a junção do nome do rio e as riquezas que lá existiam que surgiu o Coxipó do Ouro.
Bairro Areão e Morro da Luz
Segundo o geógrafo, a nomenclatura do Areão se mescla com a origem do nome “Morro da Luz”. Isto porque as identificações ocorreram na mesma época, quando era iniciada a instalação de energia na Capital.
Equipes da Empresa de Força, Luz e Água (Efla), responsável pelo trabalho na época, construíram uma casinha de energia no topo do morro, que antes se chamava Morro da Prainha e, por ser um imóvel iluminado, passou a ser chamado de Morro da Luz.
Esses mesmos eletricistas foram para diversas partes da cidade, incluindo uma que tinha diversos montes de areia acumulada.
Naturalmente, os trabalhadores começaram a chamar o local de “Areão” e assim o nome se consolidou no linguajar popular e posteriormente foi oficializado.
Bairro Goiabeiras
Anibal relata que havia uma viela na região no bairro chamada “Rua das Goiabeiras” que, assim como o nome já diz, era revestida por árvores do fruto.
No final da década de 80, quando surgiu o primeiro empreendimento do tipo shopping de Mato Grosso, a empresa decidiu adotar o nome dessa rua, surgindo, assim, o Shopping Goiabeiras.
Dessa forma, o bairro resolveu adotar a mesma nomenclatura, já que a região passou a ser associada ao empreendimento.
Bairro Boa Esperança
O nome foi escolhido pelo antigo dono do terreno, Edgar Vieira. Ele loteou toda a área para transformar em bairro e foi um dos primeiros loteamentos após a criação da universidade.
O nome seria uma proposição dele para que fosse um local de boa esperança.
Fonte: midianews.com.br