O proprietário da maior trading brasileira de grãos disse à Reuters que está negociando com o investidor canadense Stan Bharti parceria para desenvolvimento da maior mina de potássio da América Latina, em um esforço para reduzir a dependência de agricultores brasileiros das dispendiosas importações de fertilizantes.
Blairo Maggi, da Amaggi, conglomerado do agronegócio que atua no cultivo, comercialização e logística de grãos, disse que o grupo deseja fazer parceria com a Potássio do Brasil, de Bharti, oferecendo o transporte por rio de uma mina planejada na floresta amazônica.
À medida que os preços do potássio triplicaram no ano passado e os riscos geopolíticos ameaçam a oferta da Rússia e do Leste Europeu, o interesse cresceu no projeto Autazes da Potássio do Brasil, que poderia produzir 2,4 milhões de toneladas da matéria-prima de fertilizante anualmente.
Um parceiro local bem conectado também poderia ajudar a lidar com a burocracia que atrasou a mina planejada de 2,5 bilhões de dólares, desde que o banco Forbes & Manhattan, da Bharti, com sede em Toronto, adquiriu o projeto em 2008.
“Esse projeto é bastante importante para o Brasil, principalmente pela sua posição geográfica, logística é extremamente importante na questão do potássio. Ele consegue chegar nas mais distantes regiões através da hidrovias que nós temos, a Mato Grosso, Goiás, Tocantins ou Maranhão, e também para o Sul do Brasil com cabotagem em navios”, disse.
“Estamos em discussões com muitas partes, mas estamos declinando mais comentários”, disse Bharti à Reuters.
Maggi disse que sua empresa está interessada no projeto porque seu braço de navegação fluvial, Hermasa Navegação, está bem posicionado para transportar fertilizantes para Estados agrícolas com o chamado frete de retorno de colheitas.
O Brasil depende da importação para 95% de seu consumo de potássio e é um dos principais clientes de fornecedores como Canadá, Rússia e Belarus, principais produtores mundiais. No ano passado, o Brasil importou cerca de 10 milhões de toneladas.
O presidente Jair Bolsonaro chega a Moscou nesta terça-feira para uma visita que tem a questão dos suprimentos de potássio na agenda, segundo autoridades brasileiras.
Autazes, localizada a 120 quilômetros a sudeste de Manaus, está projetada para produzir até 2,4 milhões de toneladas por ano quando for construída. Mas isso levaria pelo menos três anos após a obtenção das licenças, disse o presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit.
A empresa também pretende desenvolver uma mina rio abaixo em Itapiranga, que acrescentaria mais 2 milhões de toneladas por ano de capacidade de potássio, disse ele.
Antes mesmo de consultar os indígenas Mura por ordem de um tribunal federal, a Forbes & Manhattan avançou em 2020 e assinou um acordo com a CITIC Construction, empresa chinesa sediada em Belo Horizonte, para construir a mina ao preço de 1,9 bilhão de dólares, de acordo com um arquivamento de informação ao mercado.
No entanto, a mina encontrou resistência do povo indígena Mura, que teme poluição dos rios e que vá afugentar a caça e os peixes que são seu sustento. Reclamam que a mineradora se instalou em Autazes sem perguntar.
Bolsonaro, que enfraqueceu a fiscalização ambiental e esvaziou a agência de assuntos indígenas Funai desde que assumiu o cargo em 2019, apontou a mina de Autazes como exemplo de como os direitos indígenas impedem o desenvolvimento do país.
Ainda assim, o Ipaam, agência ambiental da Amazônia, disse que não pode emitir licenças para a mina continuar até que o tribunal determine que a comunidade indígena tenha sido consultada.
Os promotores que recomendaram pela primeira vez em 2016 que a licença da mina fosse cancelada até que a tribo Mura fosse consultada disseram que as explorações de potássio estão acontecendo há anos sem o seu consentimento, uma violação da Constituição nacional.
Autoridades locais e não indígenas apoiam o projeto porque trará investimentos e empregos para a região. Os Mura veem as coisas de forma diferente.
“Para nós a terra é sagrada, as florestas e os rios também. Não queremos correr o risco de que nada aconteça”, disse o chefe do Mura, Fabio Gama, em vídeo nas redes sociais. “Este não é um bom negócio para o nosso povo.”