“Ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor”. O famoso bordão eternizado na voz marcante do narrador Galvão Bueno nas vitórias da Seleção Brasileira de Futebol sobre os argentinos pôde ser reproduzido em outra modalidade e fora das quatro linhas: em um palco na cidade de Sofia, capital da Bulgária, quando o grupo Flor Ribeirinha conquistou o tricampeonato mundial de dança contra os “hermanos” na finalíssima do “Vitosha Internacional Folklore Festival (Vitosha IFF).
O passaporte para a final foi no ritmo do Siriri, uma das manifestações culturais mais antigas da Baixada Cuiabana, deixando 17 países para trás. No duelo decisivo, contra os argentinos, a equipe se apresentou com a dança do Boi-Bumbá – sucesso no Festival de Parintins da Amazônia.
Segundo a organização, a apresentação foi uma homenagem aos povos indígenas do Brasil e que demonstra que as manifestações culturais do Brasil são únicas, expressivas e grandiosas. Diante disso, nasceu o espetáculo “Mato Grosso dançando o Brasil”, que ressalta as expressões culturais de todo o país que os levaram, mais uma vez, campeão do folclore.
Em meio a tensão das notas, o grupo mato-grossense levou a melhor nos quesitos impressão geral e figurino. A Argentina, por sua vez, foi superior em coreografia e na música, dando a disputa final contornos de dramaticidade.
Avinner Brandão, diretor-geral e gestor da associação cultural Flor Ribeirinha, disse que acompanhou de Cuiabá, por videoconferência, a cerimônia do tricampeonato e revela que ficou com os nervos à flor da pele à espera do resultado.
“Foi por detalhes e notas com pouca diferença uma da outra. Houve sim aquele frio na barriga, mas graças a Deus veio para o Brasil”, diz ao portal GD sobre o título conquistado na última semana na Bulgária
Ele conta que viu a transformação do grupo, fundado na comunidade São Gonçalo Beira-Rio por sua mãe, Domingas Leonor, a ganhar prestígio fora do quintal, onde os ensaios acontecem até hoje e escrever páginas em uma histórica cada vez mais rica.
Desde o vice-campeonato mundial do outro lado do mundo, na Coreia do Sul, em 2016, o Flor Ribeirinha mudou de patamar. “Foi na raça”, comenta Avinner.
E não demorou muito para, enfim, soltar o grito de campeão. Apenas um ano depois da Coreia. Quis o destino que fosse na cosmopolita Istambul, na Turquia – no médio oriente entre a Ásia e a Europa.
Quatro anos mais tarde, em 2021, em uma apresentação on-line devido às restrições impostas pela pandemia da covid-19, o Flor Ribeirinha levou o primeiro lugar no festival ‘Folk Harbor’, na Polônia.
E na última semana veio o bicampeonato em Sofia, também no leste europeu, onde o grupo ainda está em turnê pela Europa, com previsão de retorno para meados de agosto. Muitos dos nomes que conquistaram o tri-mundial são de jovens que começaram cedo nas atividades culturais com o grupo de siriri e cururu.
Avinner reforça que para colher esses frutos é essencial ter contato com a cultura a fim de desenvolver novos talentos e inserir esses jovens no dia a dia da comunidade ao passo que outras diversões surgem.
“A vivência, o toque, os alunos precisam ter. Quando ele tem, ela passa a gostar daquilo”, explica Brandão. “Só teorizar com o jovem e com a criança não dá muito certo, ela precisa sentir”.
Segundo ele, o intuito hoje é aliar ferramentas tecnológicas que até pouco tempo não existiam, como o celular, ao saber tradicional, como por exemplo a difusão de conteúdos do grupo na Internet.
“Muitos deles [jovens] nunca se imaginaram dançando. Aí eles já assistiram o Flor Ribeirinha em algum lugar e se interessam, a partir daí eles fazem uma vivência e tudo muda daquilo que eles viram e daquilo que querem”.
Michel Brito, de 28 anos, é uma dessas crianças. Atualmente ele é dançarino e coreógrafo do grupo. Seu ingresso junto a equipe foi na adolescência entre os 15 e 16 anos de idade. “Eu já participava da fanfarra na escola e a dança sempre fez parte da minha vida”.
Ele, que também é estudante de educação física, conta que foi convidado a conhecer as atividades por um colega de trabalho e desde então continua. “Eu estava saindo do corpo musical da fanfarra, fui ao primeiro ensaio e aí nunca mais saí”.
O coreógrafo conversou com o GD direto da Bulgária, na cidade de Kyustendil, no vale do Rio Struma, a 101 quilômetros de Sofia. Lá, o Flor Ribeirinha ministrou oficina de dança para crianças e realizou apresentações culturais.
“A gente ensina um ou mais ritmos. É o básico, só para a galera que está ali pelo local. Elas adoram e sempre quando a gente chama elas são as primeiras chegarem perto e ficarem atentas a você é bem legal”, explica.
O grupo retorna ao Brasil na próxima semana, no dia 2 de agosto, após mais de quarenta dias de turnê. Porém, antes, faz sua última apresentação em Plovdiv, segunda maior cidade da Bulgária e importante centro econômico, financeiro e cultural do país.
Fonte: gazetadigital.com.br