Da região formada por chácaras, com estradas sem asfalto, iluminação precária e com apenas um hospital, um mercado e uma delegacia, até o título de segunda maior cidade de Mato Grosso. Moradores nascidos e criados em Várzea Grande relatam como foi o processo de evolução e desenvolvimento do município e enaltecem as oportunidades ofertadas por ele. Receptividade e respeito da população também são destacados por aqueles que vieram de outros estados e encontraram na cidade, além da oportunidade de melhoria de vida, um lugar propício para constituir família. É assim que a população várzeagrandense homenageia a cidade que neste domingo (15) completa 155 anos de fundação.
A família Cunha foi uma das primeiras a se instalar na região central de Várzea Grande. Osmar Leite da Cunha e Ana Gomes da Cunha vieram de Dourados (MS) juntamente com os 9 filhos, sendo 5 meninas e 4 meninos, em 1968. Compraram uma chácara que ocupava todo um quarteirão. “Sou imensamente feliz em ter visto meus filhos crescerem, se casarem, terem filhos e me darem netos, bisnetos e até tataranetos, na cidade de Várzea Grande. Esta terra nos deu tudo que o temos hoje”, afirma dona Ana, atualmente com 92 anos de idade.
Ela diz ter orgulho de fazer parte da história de Várzea Grande, uma vez que viu a cidade crescer e de certa forma pôde contribuir com essa evolução. Lembra que quando chegou ao município, tinha apenas um casal de vizinho. Seu marido que cuidava de propriedades localizadas em outro estado, comprou um quarteirão no Centro Sul da cidade e a deixou cuidando praticamente sozinha dos filhos, já que vinha a Mato Grosso apenas uma vez a cada semestre. “Como a minha chácara era cheia de pé de caju, a minha única vizinha me ensinou a fazer doce da fruta. Aprendi e foi um sucesso. Vendia para gente de todo país. Pilotos de avião desciam no aeroporto e vinham direto para minha casa comprar o pote de doce”.
Uma das filhas de Ana, a mestre em educação, Marina Leite da Cunha, 61, lembra que juntamente com os irmãos chegavam a colher cerca de 5 mil cajus por dia, que Várzea Grande 155 anos Famílias lembram crescimento da cidade Receptividade e respeito da população são destacados por quem chegou de outros estados eram dispostos em tachos no fogão a lenha. Os vidros de soro dispensados no Hospital Santa Helena, na época a única unidade médica da cidade, eram coletados e higienizados para armazenar o famoso doce. “Minha mãe ficou conhecida por todos, desde os mais humildes a celebridades do estado. Pilotos de todos os cantos do país pousavam os aviões e vinham direto na nossa casa garantir seu doce de caju”.
Como era uma das primeiras famílias a morar no Centro de Várzea Grande, Osmar e Ana criaram laços de amizade com os poucos que ali residiam. No Mercado Malheiros, por exemplo, a família fazia compra fiado durante seis meses e o acerto só era feito quando Osmar vinha para Mato Grosso.
Entre idas e vindas, após seis anos, o patriarca decidiu ficar de vez em Várzea Grande. Para manter a família, ele começou a construir imóveis no terreno que compunha sua chácara. O resultado foi a construção de 22 imóveis, além da sua casa, que até então era toda de madeira. “Tinham seis cômodos para abrigar a nós todos. Era simples, mas, era cheia de amor”, lembra dona Ana.
Mariana se recorda de pontos cruciais para a expansão da cidade. Diz que na época poucas pessoas tinham meio de locomoção, mas, aos poucos foram adquirindo charretes. Isso possibilitou que as pessoas comprassem terrenos mais distantes, como em Nossa Senhora do Livramento, por exemplo. “E assim como os daqui foram saindo para outras cidades, pessoas de outros estados também começaram a vim para Várzea Grande. A cidade começou a ser vista como possibilidade de negócios, indústrias foram instaladas aqui, surgiram muitos empregos e consequentemente houve poder de compra. Assim o município foi crescendo até se tornar o que é hoje”, explica Marina.
Há 15 anos, Osmar faleceu e desde então Ana é cuidada pelo filho caçula, de 56 anos, que não se casou e não tem filhos. A maioria dos imóveis foram vendidos, ficando apenas a casa onde a família morou, e algumas quitinetes instaladas no mesmo quintal da residência. Marina é a responsável por administrar os alugueis e também ajuda a cuidar da mãe, que além dela, recebe a visita corriqueira da outra filha, Maura da Cunha Ferreira, 59. “Meus filhos foram criados na culinária, cultura e costumes de Várzea Grande, sempre respeitamos muito essa cidade, porque a amamos”.
Ana se diz agraciada por Deus, pois foi na segunda maior cidade de Mato Grosso, que viu os 9 filhos crescerem e constituir suas famílias. Atualmente ela tem 10 netos, seis bisnetos e 3 tataranetos, sendo que a maioria ainda reside na cidade.
‘Várzea Grande, cidade da gente’
A professora de História, Gonçalina Rondon, 60, é uma das autoras do livro didático ‘Várzea Grande, cidade da gente’. Ela conta que tem orgulho de fazer parte do desenvolvimento da cidade onde ela e os irmãos foram criados e ainda ter a oportunidade de passar um pouco do que sabe para uma obra literária.
‘Nasci em Cuiabá, porque na época, não havia maternidade em Várzea Grande. Mas, fui criada na segunda maior cidade do estado, assim como meus filhos e netos e isso é um orgulho para mim’, conta a historiadora.
O pai de Gonçalina, Benedito Pereira Leite, 87, nascido e criado em Várzea Grande, sempre foi um homem envolvido na política local. Tanto é que nas eleições ele ficava responsável por transportar as pessoas para votar e chegou a abrigá-las em sua casa. ‘Porque meu pai tem muita credibilidade junto ao povo do município. Vimos a cidade crescer, se desenvolver e hoje ser uma das mais populosas de Mato Grosso’, frisa Gonçalina, acrescentando que sua família, hoje na geração de bisnetos, ajudou a povoar o município.
Engajada na luta por melhorias para a população, em 1985, quando formada como professora, Gonçalina passou no concurso público do município. E então, junto com a categoria, iniciou uma árdua luta pela melhoria na educação no município. Foi suplente de vereadora e ocupou cargos de confiança na Prefeitura de Várzea Grande, sempre no setor da educação.
E chegou o dia, que a Prefeitura então, solicitou que ela reunisse uma equipe pedagógica e atualizasse o livro que conta a história de Várzea Grande e é voltado para o ensino fundamental. Momento em que nasceu a obra “Várzea Grande, cidade da gente”. ‘Nele abordamos a fundação, a cultura e o desenvolvimento da nossa cidade. Com uma linguagem de fácil compreensão. Tanto que pode ser usado para estudos das crianças e por aqueles que almejam um cargo público’, destaca a educadora.
Gonçalina finaliza ressaltando o que mais gosta de sua cidade natal. Dá destaque para as praças, a biblioteca e as festas tradicionais. ‘Gosto muito de curtir a cultura local. Minha família é muito grande, somos religiosos fervorosos, devotos de São Bom Jesus, São Benedito e Nossa Senhora Aparecida. Sempre nos reunimos com amigos em casa e a festa é generalizada. Eu amo minha cidade, amo ser várzea-grandense’.
Fonte: gazetadigital.com.br