MT: ‘Enterro’ do VLT causa indignação e vergonha à população

MT:   ‘Enterro’ do VLT causa indignação e vergonha à população
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O sonho de usufruir de um transporte público de qualidade, de primeiro mundo, acabou. Com o anúncio da venda dos vagões do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) para o governo da Bahia, os moradores da Grande Cuiabá que sonharam com essa possibilidade agora sentem revolta, frustração e desesperança. O Jornal A Gazeta foi às ruas para dar voz aos trabalhadores e estudantes que se utilizam do transporte público nas duas maiores cidades do Estado. Eles se sentem traídos pela grande mentira que foi o VLT, a um custo de mais de R$ 1,2 bilhão dos cofres públicos. Revoltados com políticos e administradores, todos os entrevistados são unânimes em afirmar que a região metropolitana possui hoje o pior transporte público de todo o Centro-Oeste. Mesmo Mato Grosso sendo um estado rico, essa riqueza não se reverte para o conforto e segurança da classe trabalhadora.

 

No dia 15 de junho de 2012, o Diário Oficial do Estado publicava que o Consórcio VLT Cuiabá havia vencido a concorrência e que iria implantar o modal. O projeto se apresentava em dois eixos CPA-Aeroporto e Coxipó-Centro, implantado no canteiro central das avenidas Historiador Rubens de Mendonça, FEB, 15 de Novembro, Tenente-Coronel Duarte (Prainha), Coronel Escolástico e Fernando Corrêa da Costa. Seriam três terminais de integração e 33 estações, com uma distância média de 500 a 600 metros entre um ponto e outro.

 

O trajeto CPA-Aeroporto contaria com 15 km de extensão, com dois terminais de integração (CPA 1 e André Maggi, que teria um elevado ferroviário no aeroporto Marechal Rondon). Teriam outras 22 estações de transbordo, dois viadutos, três trincheiras e uma ponte. No trecho seria feito a reestruturação do canal da Prainha, na região central de Cuiabá.

O eixo Coxipó – Centro teria 7,2 km de extensão, um terminal de integração (Coxipó), 11 estações de transbordo, três viadutos e duas pontes. Nos terminais haveriam estacionamento para veículos e bicicletário, ampliando o potencial de mobilidade urbana nas duas cidades.

 

Passados 12 anos do pontapé inicial, muita coisa mudou, mas para pior. O aposentado Ozenir Miguel da Paixão, 62, morador do bairro Mapim, em Várzea Grande comemorou a notícia na época. Ainda trabalhava e diariamente se deslocava de ônibus até a Capital. Nascido em Minas Gerais e em Mato Grosso desde a década de 80, logo sentiu que a obra não seria concluída.

 

Disse que em Mato Grosso não tem políticos de peito e percebeu a embromação. Citou o caso da cidade de Contagem, onde o prefeito desapropriou uma área muito maior e construiu uma via rápida que modernizou o trânsito da cidade. Aqui os políticos só pensam em seus interesses. Um contra o outro e todos contra o povo, acusa o aposentado. A maior revolta é com todo o dinheiro desviado. Hoje ele aguarda mais de uma hora pelo ônibus para chegar em casa e não acredita que isso vá mudar tão cedo.

 

Dona Maria Aparecida Bezerra, 64, disse que ao acompanhar as notícias sobre a chegada do VLT simplesmente se sentiu maravilhada. Acreditou que enfim teria acesso a um transporte de qualidade. Frustrada, reclama das condições do Terminal André Maggi e diz que a pior parte de tudo isso é saber que todo o dinheiro desviado com a obra que não foi concluída poderia ter sido revertida para a saúde e educação da população. Mato Grosso é um estado rico, mas é feito para quem tem carro. Pobre sofre demais, desabafa. Nascida em Minas Gerais, mas há mais de 40 anos no estado, diz que no estado vizinho de Goiás, a realidade do transporte público é outra, bem como onde nasceu.

 

A estudante Milena Bento, 19, tem na memória que ainda criança sonhava em ir de VLT de Várzea Grande até o zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Imaginava que as longas e demoradas viagens de ônibus até a Capital com a mãe seriam mais rápidas. Mas, aos 15 anos já tinha convicção que isso não iria acontecer e, desde então, como o restante dos usuários, enfrenta o trânsito caótico com as obras nas vias entre as duas cidades. Garante se a situação já é ruim para quem mora em Cuiabá, em Várzea Grande simplesmente é caótica para quem depende de ônibus. A frustração com o VLT faz com que tenha dúvidas sobre a implantação do BRT.

 

Morando há 25 anos no Estado, o maranhense Daniel Santos Souza, 50, ao saber que Cuiabá teria VLT se sentiu morador de uma grande metrópole. Bem humorado, diz que acreditou que com o novo transporte já iria treinar para andar de metrô em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas a frustração veio logo em seguida. Como já havia atuado no setor do transporte público, viu que na avenida Fernando Correia da Costa não havia espaço suficiente para implantar o projeto anunciado. Lamentou que os políticos e administradores daqui, são como os do Pará, Maranhão e outras regiões onde ocorreu o mesmo. O pessoal dos outros estados, rouba, mas faz acontecer. Aqui nem isso, desabafa.

 

Moradora do CPA 3, a atendente de call center Sheila Barros, 50, desde o início não acreditava que o VLT circularia por Cuiabá. Nunca teve expectativas, mas nem por isso se sente menos frustrada. Para ela o pior de tudo, além do desperdício de dinheiro público, foi o impacto ao meio ambiente. Cita a derrubada das árvores do canteiro central da avenida do CPA.

 

Lembra que com isso a Cidade Verde hoje está cada vez mais quente e rodeada de concreto. Enquanto isso ela e milhares de passageiros se espremem em coletivos lotados, desconfortáveis pelo trânsito caótico, agravado com as obras inacabáveis para um novo sistema que ela tem dúvidas de que vá resolver o problema do transporte público caótico da cidade.

 

Leia mais sobre Cidades na edição do jornal A Gazeta

Fonte:    gazetadigital.com.br


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