Que fumaça e sorriso não combinam, estamos cansados de saber. Alertas do Ministério da Saúde estampam em embalagens de cigarro a relação entre fumo e problemas que vão do tártaro ao câncer de boca. Mas a pesquisa divulgada em junho, parceria da Universidade do Arizona com a Universidade de Duke (EUA), o King’s College (Reino Unido) e a Universidade de Otago (Nova Zelândia), publicada no JAMA Psychiatry, periódico científico da Associação Americana de Medicina, é a mais profunda já realizada sobre o impacto na saúde bucal do fumo de cannabis.
Depois de acompanhar 1.037 usuários de cannabis neo-zelandeses, do nascimento aos 38 anos de idade, os pesquisadores não encontraram alterações significativas em pulmões, colesterol, pressão sanguínea e peso, em comparação aos não usuários. A parte mais afetada do corpo foram mesmo as gengivas: aos 38 anos, fumantes regulares de maconha têm mais chance de desenvolver gengivites e mesmo problemas periodontais mais graves, como a perda dos dentes. As causas exatas não foram determinadas e demandam novos estudos.
Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela USP, Pedro Benatti (CRO 90260) faz um paralelo com o uso do tabaco. “Fumar prejudica o complexo de tecidos que seguram o dente. A alta temperatura da fumaça fecha os vasos sanguíneos na região. É como uma mangueira em que se impede o transporte de água: o vaso e não consegue levar nutrientes nem remover os metabólicos daqueles lugares, e não tem renovação celular. O tecido não consegue se recuperar e envelhece antes da hora”, resume.
Segundo Benatti, a baixa capilaridade, somada à acidez da saliva provocada pelas substâncias presentes na fumaça, deixa marcas visíveis no sorriso. “O que se verifica, clinicamente, são retrações gengivais: a gengiva recua do dente, podendo expor parte da raiz. Radiografias também revelam que o osso diminui em altura e espessura, o que eventualmente pode levar à mobilidade (perda) do dente”, aponta o dentista, que destaca que o problema pode ser agravado em fumantes com doenças bucais pré-existentes ou que não realizem higiene bucal adequada.
Segundo o dentista, o impacto da maconha no sorriso é verificado com frequência na clínica, pelo manchamento dos dentes. “As manchas saem com interrupção do uso e polimento”, afirma Benatti. Outros impacto, porém, são permanentes. “A retração não é reversível. Se for pequena, pode-se recobrir com restauração do dente. Se for grande, é necessário fazer enxerto de gengiva. Quando o paciente segue fumante, atrapalha a cicatrização da cirurgia, que pode não surtir tanto efeito”, lamenta o dentista.
Quem não pretende abandonar o hábito deve redobrar os cuidados com saúde bucal, não esquecendo do uso diário de fio dental. A recomendação do dentista, entretanto, é a seguinte: “o melhor tratamento começa por interromper o uso”.
MSN