O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta quarta-feira (21/06) com o papa Francisco, no Vaticano, e discutiu com o pontífice a guerra na Ucrânia e a situação política de países da América Latina, entre outros temas. Em Roma, o brasileiro também encontrou-se com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e a premiê Giorgia Meloni, quando trataram do acordo Mercosul-UE e relações bilaterais.
Assim como Lula, o papa Francisco vem buscando atuar para mediar o conflito entre Kiev e Moscou, e em maio recebeu o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em uma audiência no Vaticano – após a reunião, o ucraniano disse a jornalistas que não interessava ao seu país, no momento, uma mediação, mas uma “paz justa”.
Em 6 de junho, o Vaticano enviou o cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, a Kiev, que também reuniu-se com Zelenski e outras autoridades ucranianas, e nesta segunda-feira o Kremlin expressou que teria “interesse” em receber Zuppi em Moscou. “Apreciamos a posição equilibrada do Vaticano e a posição assumida pessoalmente pelo papa”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, citado pela agência Tass.
“Estamos em tempo de guerra, e a paz é muito frágil”, afirmou o papa a Lula. Ao final do encontro, o petista afirmou em suas redes sociais que os dois haviam tido uma “boa conversa” sobre a paz mundial. “Agradeço o Papa Francisco pela audiência no Vaticano e a boa conversa sobre a paz no mundo”, disse o presidente.
Lula propõe a criação de um grupo de países neutros para intermediarem negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia, no conflito que já dura mais de um ano. No entanto, a movimentação do brasileiro é vista com ceticismo pela própria Ucrânia e recebeu críticas de países do Ocidente, que colocaram em dúvida a neutralidade do petista sobre o tema.
Em nota, o Vaticano informou que no encontro com Lula “houve uma troca positiva de pontos de vista sobre a situação sociopolítica da região e foram abordados alguns temas de interesse comum, como a promoção da paz e da reconciliação, a luta contra a pobreza e as desigualdades, o respeito às populações indígenas e a proteção do meio ambiente”.
Nicarágua em pauta
No encontro com Lula, o papa Francisco também discutiu a situação política e social de países latino-americanos. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, uma das prioridades do pontífice é a situação da Nicarágua, cujo regime autoritário, comandado por Daniel Ortega, vem perseguindo membros da Igreja e os expulsando do país.
Em março, o papa classificou o governo da Nicarágua como uma ditadura. O resultado imediato foi o rompimento das relações diplomáticas com o Vaticano, o fechamento da embaixada do Vaticano em Manágua e a expulsão do arcebispo do país.
O governo Lula manifesta preocupação com os direitos humanos na Nicarágua, mas em março recusou-se a assinar uma declaração conjunta de um bloco de 55 países criticando o regime de Ortega, subscrita inclusive por Chile e Colômbia, liderados por presidentes de esquerda, e prefere adotar o que considera uma “posição construtiva” para lidar com Manágua. Lula e Ortega são conhecidos de longa data, e o petista vem evitando criticar diretamente o nicaraguense.
Durante a audiência, Lula estava acompanhado da primeira-dama, Janja. O presidente presenteou o papa com uma gravura do artista pernambucano J.F. Borges, e Janja, com uma estátua de Nossa Senhora de Nazaré, de Belém. Já o papa presenteou Lula com a sua Mensagem para a Paz deste ano, um documento sobre a fraternidade humana, o livro sobre uma oração feita por ele em 7 de março de 2020 na qual rezou pelo fim da pandemia, e um baixo-relevo em bronze com a frase “A paz é também uma flor frágil”.
Encontro com presidente e premiê da Itália
Mais cedo, Lula reuniu-se com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palazzo Quirinale, e ambos discutiram as relações bilaterais e o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia – que enfrenta dificuldades para ser concluído.
Em 12 de junho, Lula recebeu em Brasília Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, e criticou novas exigências ambientais feitas pelo bloco europeu. No entanto, o petista afirma ter interesse em concluir o acordo até o final do ano.
Depois da audiência com o papa, o presidente brasileiro encontrou-se também com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, de extrema direita, que confirmou o encontro apenas de última hora. Eles conversaram sobre a guerra na Ucrânia e as relações bilaterais entre os dois países.
No final do dia, Lula ainda se reuniria com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, de centro-esquerda, que visitou o petista quando ele estava preso em Curitiba, em julho de 2018.
França é próxima parada
Na quinta e na sexta-feira, o presidente brasileiro estará em Paris, para a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, e se reunirá com o presidente francês, Emmanuel Macron, quando deverão discutir o acordo de livre-comércio entre Mercosul e a UE.
Na semana passada, a Assembleia Nacional da França (câmara baixa do Parlamento francês) aprovou uma resolução sem poder de lei contra a ratificação do acordo. Entre as razões para se opor ao pacto, os defensores da resolução destacaram os prejuízos para os produtores franceses em termos de concorrência desleal – a França alega que os produtos importados devem ser obrigados a cumprir os mesmos requisitos sanitários e ambientais exigidos na UE – e possíveis danos ambientais.
Fonte: dw.com