O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve nesta sexta-feira (26/05) uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin, na qual foi discutida a guerra na Ucrânia e a intenção do Brasil em participar de esforços de mediação para o fim do conflito.
Em uma mensagem no Twitter sobre o telefonema, Lula afirmou ter recebido do russo um convite para participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, em 14 a 17 de julho, mas respondeu que, “nesse momento”, não poderia ir à Rússia.
O presidente brasileiro também afirmou ter reiterado “a disposição do Brasil, junto com a Índia, Indonésia e China, de conversar com ambos os lados do conflito em busca da paz”.
Lula já havia sido convidado para participar do evento em São Petersburgo pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante sua visita a Brasília em abril.
Segundo um comunicado do Kremlin, a iniciativa do telefonema partiu de Lula, e a chamada durou cerca de 30 minutos.
Na conversa, Putin teria dito que não haveria interesse neste momento em Kiev por um acordo de paz, assim como a Rússia não aceitaria as condições do governo ucraniano de retirada das tropas russas de todos os territórios da Ucrânia, inclusive da Crimeia.
Lula e a guerra na Ucrânia
O presidente brasileiro tem dedicado boa parte dos esforços diplomáticos no início de seu governo à tentativa de construir um “clube da paz” de países que poderiam auxiliar na construção de uma saída negociada para a guerra – e já havia afirmado que não visitaria a Ucrânia ou a Rússia enquanto não houvesse uma trégua.
A posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia é de neutralidade no conflito, no sentido de que o país não participa enviando armas ou munições. Ao mesmo tempo, o Brasil defende o princípio da integridade territorial e é contra a violação de fronteiras internacionais, e foi o único país dos Brics a votar a favor de resolução da ONU pela retirada das tropas russas da Ucrânia.
Algumas declarações de Lula, assim como a demora para o envio de um representante para conversar com o governo ucraniano, no entanto, levantaram dúvidas sobre a neutralidade do Brasil no conflito. Em 10 de maio, o ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, reuniu-se em Kiev com Zelenski, depois de já ter ido a Moscou em abril e se reunido com Putin.
No último final de semana, Lula disse que, para que haja negociação, os dois lados terão que ceder em alguma medida. “O Celso Amorim [assessor internacional da Presidência] foi lá na Rússia e depois na Ucrânia. E o Amorim falou que, por enquanto, eles não querem conversar sobre paz. Se um tem uma proposta, é a rendição do outro, se o outro tem uma proposta, é a rendição do primeiro. E ninguém vai se render. Negociação não é rendimento e vai ter um momento que vão querer uma negociação”, afirmou o brasileiro em Hiroshima, durante a cúpula do G7.
Lula participou como convidado da cúpula, que reúne os líderes de Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá, mais a União Europeia (UE), no qual o conflito entre russos e ucranianos esteve na mesa de discussões.
Desencontro com Zelenski
Em Hiroshima, Lula manteve reuniões bilaterais com diversos líderes, mas não com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que também participou da cúpula, sem que sua presença tivesse sido informada com antecedência.
O governo ucraniano havia manifestado interesse num encontro entre os dois líderes, proposta recebida pelo governo brasileiro inicialmente com cautela. Depois que Lula aceitou encontrar-se com Zelenski e o governo brasileiro ofereceu opções de horário no domingo, o ucraniano não compareceu.
O petista disse ter ficado “chateado” com o desfecho, mas afirmou que o ucraniano “é maior de idade e sabe o que faz”.
Nesta quinta-feira, Lula também tratou por telefone com o presidente da China, Xi Jinping, sobre a situação da guerra na Ucrânia.
Fonte: dw.com