Os quatro réus no julgamento da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que deixou 242 mortos em um incêndio em janeiro de 2013, foram condenados nesta sexta-feira (10/12).
Após dez dias de um julgamento que contou com relatos comoventes de sobreviventes, o Tribunal do Júri do Foro Central de Porto Alegre sentenciou os quatro acusados a até 22 anos de prisão por homicídio e tentativa de homicídio simples com dolo eventual (quando os condenados assumiram o risco de cometer um crime).
Elissandro Spohr, um dos sócios da Kiss, foi condenado a 22 anos e seis meses de prisão. Mauro Hoffmann, também sócio, foi sentenciado a 19 anos e seis meses. Já Marcelo de Jesus e Luciano Bonilha, membros da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na noite da tragédia, foram condenados a 18 anos de prisão cada um.
O juiz Orlando Faccini Neto chegou a decretar a prisão imediata dos quatro condenados, mas em seguida suspendeu a determinação depois de o Tribunal de Justiça ter concedido um habeas corpus preventivo aos réus. Por ora, a execução da pena está suspensa.
“No caso como o presente, é preciso referir que se está diante da morte de 242 pessoas, circunstância que, na órbita do dolo eventual, já encerra imensa gravidade”, afirmou Faccini Neto ao anunciar a sentença. “A expressividade do número de vítimas não divide ou arrefece as dores ou tragédias pessoais, multiplica-as.”
O juiz lembrou ainda que muitas das vítimas morreram após voltar para salvar aqueles que ainda estavam dentro da boate – algo que os condenados não fizeram.
O incêndio na madrugada de 27 de janeiro de 2013 dentro da boate Kiss deixou 242 mortos e outros 636 feridos. A maioria das vítimas eram estudantes com idades entre 17 e 30 anos que moravam na cidade universitária de Santa Maria.
O incêndio teve início após um artefato pirotécnico ter sido acionado durante a apresentação da banda. Ao atingir uma espuma que havia no palco, a queima do material liberou gases tóxicos que mataram por asfixia a maioria das vítimas da tragédia, segundo perícias.
O papel dos condenados
Segundo a denúncia do Ministério Público, os dois sócios, Spohr e Hoffmann, assumiram o risco de uma tragédia ao usarem “em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso”.
Durante seu interrogatório, Spohr, conhecido como Kiko, afirmou que foi dele a decisão de colocar a espuma, na intenção de garantir o isolamento acústico da boate.
A denúncia do MP também afirma que os sócios contrataram o show da Gurizada Fandangueira sabendo que incluía “exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório”.
Marcelo de Jesus, vocalista da banda, era quem portava nas mãos o artefato pirotécnico. Já Luciano Bonilha, assistente de palco do grupo, confirmou ter sido o responsável por comprar o material, por acoplá-lo na luva que Marcelo de Jesus usava e por acioná-lo durante o show.
Fonte: dw.com