Cada vez mais o brasileiro está usando as redes sociais. Não apenas para compartilhar fotos e mensagens, mas para trabalhar. O Brasil já é o país com o maior número de influenciadores no Instagram do mundo: cerca de 1 em cada 10 brasileiros atua como criador digital.
Além disso, o país registra um número crescente de pessoas, principalmente de baixo poder aquisitivo, que tentam gerar renda através das plataformas digitais, muitas vezes sem regulamentação ou proteção.
De acordo com pesquisa do Laboratório de Economia Digital e Política da Universidade de Dublin, Irlanda, divulgada nesta sexta-feira (13), o Instagram está modificando o modo como o brasileiro trabalha. A plataforma é usada massivamente pelo mercado de trabalho informal, por meio de mensagens de promessas de liberdade financeira e de flexibilidade, mas também com riscos, principalmente para os empreendedores e trabalhadores mais vulneráveis.
Entre fevereiro e novembro deste ano, foram analisados cerca de 100 mil perfis no Instagram, com o monitoramento diário de mais de 500 influenciadores. Apenas 1,4% dos 40 mil monitorados conseguiram alcançar mais de 5 mil seguidores em um período de quatro meses.
Mulheres negras são as mais afetadas pela precariedade e promessas de ascensão social por meio do Instagram. E a saúde mental é prejudicada, pois, muitas vezes, quem não consegue gerar renda se depara com frustração, baixa autoestima e culpa, como explica o pesquisador Wagner Guilherme da Silva.
“Qualquer não sucesso, ou seja, qualquer atividade, exercício ou ação que não seja bem sucedida nunca é creditada à estrutura, e sim à incapacidade individual. Seja pela aparência, pela não maximização das oportunidades que aparecem. Ou seja: não é a estrutura que é engessada, que não permite que todo mundo possa reproduzi-la. O problema vai ser do sujeito”.
Outro problema é o uso descontrolado de conteúdo gerado por inteligência artificial. O conteúdo de livros digitais está sendo multiplicado, aumentando o risco de desinformação em áreas importantes, como saúde e bem-estar.
Além disso, quanto ao perfil político dos influenciadores de marketing digital, cerca de 87% deles apoiam ideologias de direita e extrema-direita. Isso cria um ambiente político homogêneo e potencialmente antidemocrático, como apontam os pesquisadores.
Eles sugerem que o predomínio de uma visão de mundo conservadora, com ênfase em uma ideia distorcida de “meritocracia” e desvalorização do trabalho formal, e dos direitos trabalhistas, está tendo um impacto negativo na sociedade.
“No mundo do marketing digital, todo um universo dizendo: olha você precisa postar sua família, reforçar sua ida à igreja, fortalecer sua identidade enquanto uma pessoa forte. Valores muito dogmáticos e conservadores. E aí, no momento da campanha eleitoral, ele escuta alguém dizendo coisas que ele já internalizou, porque ele está no processo de reforço de tentativa de melhoria de suas condições materiais”.
Além disso, quase a metade (46%) das pessoas que tentam empreender digitalmente no Instagram não tem perfil comercial, o que dificulta a coleta de dados sobre a real dimensão do problema. Segundo o pesquisador Wagner Guilherme da Silva, o problema do trabalho precário nas redes sociais é consequência direta do trabalho precário fora do mundo virtual.