Operação que envolveu a “técnica de Kelly” ocorreu neste sábado (25.05), durou cerca de 10 horas e contou com participação de mais de 15 profissionais
Pela segunda vez, o Hospital Estadual Santa Casa, localizado em Cuiabá, realizou uma cirurgia de correção de extrofia de bexiga por meio da “técnica de Kelly”. A operação ocorreu neste sábado (25.05), durou cerca de 10 horas e contou com participação de mais de 15 profissionais.
Essa cirurgia tem o objetivo de corrigir a má formação do aparelho gênito urinário – que engloba a bexiga, uretra e genitália – e promover mais qualidade de vida ao paciente.
“A realização ‘técnica de Kelly’ no Hospital Estadual Santa Casa demonstra o interesse da nossa gestão em se alinhar ao que há de mais inovador e moderno na área da medicina pediátrica. Com muita felicidade, é a segunda vez que as equipes do Hospital Estadual acompanham uma cirugia desta complexidade, que envolve muitos profissionais e dissemina conhecimento para tantos outros”, avaliou o secretário de Estado de Saúde, Gilberto Figueiredo.
O procedimento só foi possível graças a uma parceria com o Grupo Cooperativo Brasileiro Multi-institucional, que realiza a técnica cirúrgica por meio de uma ação filantrópica intitulada “Projeto Kelly”.
O projeto já passou por mais de 20 estados e realizou 109 procedimentos no Brasil. Além do atendimento aos pacientes, a iniciativa busca disseminar o conhecimento acerca da técnica no país.
A extrofia de bexiga é a doença mais complexa das especialidades de cirurgia e urologia pediátrica, contudo, a “técnica de Kelly” corrige a má-formação em etapa única e apresenta os melhores resultados para os casos de reparação da extrofia; a técnica recebe esse nome por ter sido desenvolvida pelo urologista australiano Justin Kelly. Outras técnicas preveem mais etapas para a correção.
Para a realização da cirurgia, Mato Grosso recebeu dois médicos de fora do estado. O médico cirurgião urologista pediátrico do Hospital Estadual da Criança do Rio de Janeiro, Nicanor Macedo, destacou a complexidade da cirurgia e a atuação do grupo cooperativo no Brasil.
“São crianças que nascem com uma má formação estrutural grave nessa região do corpo. Nascem cerca de 100 crianças com essa condição por ano no Brasil. Estamos completando 109 casos de cirurgia para tratar de uma doença que é grave, complexa, que incapacita a pessoa de viver. Então, em cinco anos de atuação do nosso grupo, nós já resolvemos um ano de Brasil. Isso nos dá muita alegria”, disse.
Com o objetivo de agregar conhecimento, a cirurgia também foi transmitida para profissionais da saúde e alunos de medicina.
O médico urologista pediátrico do Hospital Estadual Santa Casa, José Roberto Lima, ressaltou o trabalho da gestão da unidade para desenvolver uma estrutura que permita a realização de mais cirurgias como essa.
“O Hospital Estadual Santa Casa já é um importante polo estadual e uma referência para a cirurgia pediátrica em Mato Grosso, praticamente é o hospital que mais realiza procedimentos urológicos na criança. Com a realização dessa cirurgia mais complexa, a Santa Casa passa a figurar entre os hospitais nacionais que têm capacidade e tecnologia para realizar esse tipo de cirurgia. Isso é muito importante para o nosso estado”, concluiu.
Transformando vidas
Para Mariele Prado dos Santos, mãe do paciente A.B.S.G, de sete anos, a cirurgia possibilitará uma transformação na vida do filho e da família. “Ele fala: ‘mãe, eu quero fazer a cirurgia porque eu quero ser igual ao meu irmão, fazer xixi igual ao meu irmão, não usar mais fralda’. Por isso que ele quer fazer e eu também quero. Ele estava muito ansioso”, disse.
Mariele ainda conta que deixou de trabalhar para prestar toda a assistência e o cuidado ao filho. “Eu tive que deixar de trabalhar para cuidar dele, né? Porque só mãe cuida bem. Ninguém cuida como a gente. E ele nunca pegou infecção, nada, porque eu cuido bem até hoje”, explicou, ao enfatizar que a família esperava por essa cirurgia há sete anos.
A mãe ponderou que ficou surpresa com a proporção da cirurgia e agradeceu as equipes do Hospital Estadual. “Eu não sabia a proporção que era, depois que foi caindo a ficha. Tantos médicos, todo mundo voltado para a cirurgia dele. Tem hora que você fica pensando e não acredita que aconteceu. Que mais crianças que tenham essa má formação consigam [a cirurgia] também. Que as mães corram e sejam super bem atendidas e acolhidas aqui na Santa Casa”, finalizou.
Ana Lazarini SES-MT