Os gestores passaram a aproveitar os preços descontados para remontar posições em ativos brasileiros como forma de se beneficiar de uma janela de oportunidades antes da esperada volatilidade que virá com as eleições presidenciais de 2022.
A opção é pela compra de real contra outras moedas emergentes em razão dos juros mais elevados, já que a Selic deve atingir dois dígitos no início do próximo ano.
Apesar do cenário de recessão técnica, a avaliação majoritária é que o Banco Central deve manter o foco no combate à inflação, ainda mais agora que o Federal Reserve deixou de tratar a alta de preços nos EUA como temporária.
“Estamos entrando nesta eleição com muito prêmio, uma Selic bem alta e já esperando o pior cenário, que seria Bolsonaro e Lula”, disse Gustavo Pessoa, fundador e sócio da Legacy Capital. “Com um bom prêmio de risco precificado, é hora de ter aposta mais otimista em Brasil.”
Essa é a visão dos participantes da última edição do ano do Café com Mercado, que contou com:
- Gustavo Pessoa, fundador e sócio da Legacy Capital
- Ricardo Cara, head de multimercado da EQI Asset
- Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Panamby Capital
Apostas no real
No atual cenário de Selic mais elevada, a moeda brasileira volta às apostas dos gestores, depois de ter acumulado desvalorização de mais de 30% desde o início do atual governo. A preferência é por comprar o real contra outras divisas emergentes, em meio ao quadro de volatilidade que tende a se manter com as eleições de 2022.
“A nossa moeda foi rifada quando o BC cortou muito o juro e o real foi o patinho feio do mundo. Com o juro real subindo, o real passa a ficar mais atraente”, disse Pessoa, da Legacy. “Gostamos do real contra os pares.”
Copom
A expectativa majoritária entre os gestores é de que o Copom subirá a Selic em 1,5 pp nesta semana, para 9,25%, e manterá um tom de cautela com a inflação.
O Fed “jogou a toalha” ao afirmar que não considera mais a alta da inflação como temporária e isso vai forçar os outros BCs, inclusive o brasileiro, a serem mais cautelosos na política monetária, disse Pessoa, que prevê a Selic a 12% no final do ciclo.
Segundo Tatiana Pinheiro, ainda há muitas incertezas sobre a inflação e a política fiscal em 2022 e não é hora de o Copom sinalizar desaceleração do ritmo. “O BC vai ter que compensar o afrouxamento fiscal”, afirmou, ao prever a Selic a 11% em março.
A aprovação da PEC dos precatórios representou o fim da “novela”, mas deixou as travas aos gastos públicos “bastante arranhadas”, o que piora a percepção de juro neutro, avalia Tatiana.
Moro
Na avaliação dos investidores, os ativos locais irão se valorizar caso o ex-juiz da Lava Jato se confirme como uma alternativa capaz de fazer frente à polarização entre Lula e Jair Bolsonaro.
Para isso, ele precisaria chegar a entre 15% e 20% das intenções de voto nos próximos meses, um cenário visto como provável pelos gestores — atualmente, ele tem 13,7%, segundo pesquisa Atlas divulgada no final de novembro, atrás de Lula (42,8%) e Bolsonaro (31,5%).
“Se Moro subir para acima dos 20% já ficará nítido que ultrapassará Bolsonaro. A cada ponto que ele subir o mercado vai melhorando”, disse Pessoa.
“A cada crescimento que ele der, o mercado vai começar a incorporar preço no aumento da probabilidade da terceira via”, concordou Cara.
Garimpo na bolsa
A Legacy saiu da posição vendida e agora está comprada em bolsa, mas de forma seletiva. Segundo Pessoa, é preciso ser muito criterioso para aplicar num cenário de recessão e juros em alta.
A gestora evita, por exemplo, o setor de consumo, que sofre o impacto da inflação elevada. E, para aproveitar o desconto relevante trazido pelo cenário eleitoral, tem as estatais Petrobras (PETR3;PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3).
“É um garimpo de companhias menos suscetíveis aos juros”, afirmou Tatiana Pinheiro.
A EQI também está montando uma carteira com empresas descontadas. “É um trabalho de formiguinha. Estamos começando a colocar o pé com calma, não dá para ir de peito aberto”, disse Cara.
Apostas
- Legacy Capital: comprado em real contra emergentes, comprado em bolsa, aplicado em NTN-Bs curtas, comprado em bônus brasileiros no exterior, tomado em juros nos EUA, comprado em S&P
- EQI Asset: comprado em real via opções, aplicado em juros, comprado em bolsa, comprado em moedas do Canadá, Noruega e Chile, tomado em juros dos EUA
- Panamby Capital: comprado em real contra emergentes, empresas contracíclicas na bolsa
Fonte: moneytimes.com