Fala-se muito do solo em debates sobre sustentabilidade, mas sem necessariamente refletir sobre o que representa. Ele é definitivamente mais do que sujeira. Para a ciência, é a pedosfera, a camada mais externa da crosta terrestre, de um a dois metros de profundidade. Metaforicamente, é como a pele do planeta.
O solo se forma quando as rochas sólidas sofrem erosão durante longo tempo, fragmentando-se. Os processos envolvidos podem ser químicos ou mecânicos, como calor e geada, ou quando água ou as raízes das plantas penetram nas pedras. No solo superficial, os componentes minerais das rochas se misturam com uma camada nutritiva de húmus, que microrganismos produzem ao digerir restos vegetais ou animais.
Além da incontável fauna, que inclui vermes e insetos, nessa camada superficial vivem fungos, algas, líquen e bactérias: em um quilo de solo saudável há mais seres vivos do que toda a população humana da Terra. No entanto, são precisos até mil anos para se formarem de dois a três centímetros de solo. Por isso ele conta como um recurso não renovável.
Solo não é igual a solo
A pedosfera é o fundamento da vida na Terra, filtrando e transformando as substâncias que penetram nela, vindas de outras esferas. Ao se infiltrar, a água dos lençóis freáticos é purificada de materiais tóxicos. Quando o solo pode armazenar água, reduz-se o risco de enchentes.
Mais de 95% dos alimentos consumidos pela humanidade provêm do solo, que é também o segundo maior armazenador de dióxido de carbono, depois do oceano. Ao crescerem, as plantas absorvem da atmosfera esse gás corresponsável pelo efeito estufa e, quando elas morrem, os microrganismos transformam o CO2 que contêm em carbono do solo, o qual alimenta novas plantas.
Os tipos de solo diferem fortemente entre si em termos de estrutura. Nos arenosos, altamente porosos, a água vaza bem rápido, e grande parte das substâncias nutritivas é levada para as profundezas, ficando indisponível para as plantas. Por outro lado, numerosas espécies animais e vegetais se adaptaram à vida na areia, a qual é importante para a formação de novos lençóis freáticos.
Nos solos argilosos, bem mais compactos, a água só percola muito lentamente, portanto os nutrientes são retidos e permanecem ao alcance da flora. Os solos mais apropriados à agricultura contêm uma mistura de argila, areia e limo – o qual garante um equilíbrio hídrico estável.
Em princípio, quanto mais húmus, mais frutífero o solo. Porém as florestas tropicais são uma exceção: apesar de sua camada delgada de húmus, os microrganismos estão ativos todo o ano, devido ao clima quente e úmido, fornecendo constantemente alimento às plantas.
Construções, agricultura, mudança climática condenam o solo
Atividades humanas como a agricultura, extração de petróleo e outras matérias-primas, desmatamento, construção de prédios, estradas e indústrias, destroem o equilíbrio do solo. Construções o selam, impossibilitando a existência de microrganismos.
Sobretudo as monoculturas esgotam o solo arável, já que as mesmas plantas exigem sempre os mesmos nutrientes. Após a colheita, praticamente não permanece nenhum resíduo vegetal capaz de se transformar em húmus. O solo se empobrece e resseca, e, sem proteção contra o vento, chuva e radiação solar, é dispersado.
Os pesticidas usados na agricultura convencional também atacam os indispensáveis microrganismos do solo. Irrigação excessiva leva embora os nutrientes, o solo se saliniza, as safras se reduzem. O emprego de máquinas agrícolas pesadas compacta o chão, o que reduz a ventilação e a absorção da água.
Outro problema grave é a acidificação, causada pelos compostos de nitrogênio e enxofre que se formam, por exemplo, com a queima de carvão mineral, a fricção dos pneus de automóveis ou a criação intensiva de gado. Nos solos ácidos, a biodiversidade é menor, resultando em menos húmus – com as consequências conhecidas.
Igualmente danosos são os efeitos da mudança climática por ação humana, como calor, seca e inundações – os quais, por sua vez, são intensificados pelo empobrecimento do solo e a redução de sua capacidade de absorção hídrica. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), solos esgotados também produzem alimentos menos ricos em vitaminas e micronutrientes.
Estratégias possíveis para salvar a pedosfera
Estima-se que um quarto de toda a pedosfera terrestre já esteja degradado, afetando uma a cada seis pessoas. Na União Europeia, o problema atinge mais de dois terços do solo, calcula a ONG alemã BUND, de proteção à natureza e ao meio ambiente. E a degradação avança em todo o planeta num ritmo de 5 milhões a 10 milhões de hectares por ano, numa ameaça cumulativa à segurança alimentar mundial.
Reflorestamento e recuperação das zonas alagadas e dos campos aráveis degradadas podem promover uma lenta revitalização dos solos. Outra medida seria restringir o máximo possível a impermeabilização causada pela construção de novos edifícios e vias de trânsito. Na agricultura, caberia reduzir o emprego de equipamento pesado e pesticidas, além de adotar-se a irrigação por gotejamento, a fim de evitar a salinização.
Na agrossilvicultura, arbustos e árvores entre e às margens dos campos arados contêm o solo com suas raízes, protegendo-o do vento e da chuva. Palha e outros restos vegetais impedem o ressecamento e possibilitam a formação de húmus. O cultivo rotativo, em que se alternam as safras periodicamente, fortalece o solo. As leguminosas como ervilhas e feijões, que capturam o nitrogênio do ar ao se desenvolver, agem como agentes fertilizantes grátis.
A reestruturação da agricultura é um bom investimento: segundo o BUND, solos cultivados de forma sustentável armazenam melhor a água do que no cultivo convencional, garantindo safras mais estáveis também em anos mais secos.
Fonte: .dw.com.br