Uma proteína encontrada no carrapato-estrela, transmissor da doença, se tornou um potencial alvo para o desenvolvimento de uma vacina contra a febre maculosa. A descoberta, publicada na revista Parasites & Vectors e divulgada nesta quarta-feira (14), faz parte de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
A proteína em questão (IAP) é capaz de inibir um processo chamado apoptose, que consiste na morte programada das células do aracnídeo, favorecendo o crescimento da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da doença. Com essa “sobrevida”, o agente infeccioso ganha tempo para infectar novas células.
Na pesquisa, os autores testaram silenciar a expressão gênica da IAP, como forma de reduzir o crescimento da bactéria e aumentar a resistência do carrapato em relação à infecção. Para tanto, foi usado sangue de coelhos infectados e não infectados pela Rickettsia para alimentar o hospedeiro.
A infecção é transmitida pela picada do carrapato-estrela e não de pessoa para pessoa.
O resultado foi promissor, com a taxa de mortalidade dos carrapatos-estrela do experimento ficando acima de 92%. Segundo a coordenadora do estudo, Andréa Cristina Fogaça, os dados sugerem que a alimentação do aracnídeo gera radicais livres capazes de ativar a apoptose, e com a IAP silenciada eles não sobrevivem, reduzindo a incidência de transmissão da febre maculosa.
Mortes em São Paulo
O Instituto Adolfo Lutz confirmou na terça-feira (13) mais duas mortes por febre maculosa ocorridas no estado de São Paulo. Além delas, uma terceira pessoa havia morrido em decorrência da infecção na semana passada — todas elas participaram do mesmo evento em uma fazenda na área rural de Campinas (SP)
Dor de cabeça, febre alta e súbita, dores abdominais e musculares são os principais sintomas da doença, que pode apresentar erupções na pele, na área da picada do carrapato-estrela. Como os sinais se confundem com os de outras enfermidades, é necessário procurar atendimento imediatamente, para evitar o agravamento do quadro.
A doença é tratada com o uso de antibióticos e tem cura, mas apresenta uma taxa de letalidade de 28% no país. De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados cerca de 160 casos por ano em todo o Brasil, em média, considerando os últimos três anos.
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Em relação à pesquisa que pode levar ao desenvolvimento de uma vacina contra febre maculosa, os próximos passos são confirmar a alimentação sanguínea como promotora da apoptose e expandir os testes para outras espécies de carrapatos. O imunizante também teria efeitos positivos na pecuária, conforme a líder do estudo