A Polícia da Espanha prendeu nesta terça-feira (23/05) sete pessoas suspeitas de participarem de atos racistas contra o jogador brasileiro do Real Madrid Vini Jr.
Quatro dos presos são suspeitos de pendurar, em janeiro, sobre uma ponte em Madri, um manequim com a camisa do Real Madrid. O boneco, que estava acompanhado de um cartaz em que se lia “Madrid odeia Real”, vestia uma camisa de número 20, a mesma usada pelo atacante brasileiro Vini Jr., e simulava um enforcamento.
O boneco havia sido pendurado na manhã do clássico entre o Real Madrid e o Atlético de Madrid pela Copa do Rei. De acordo com a imprensa espanhola, a mensagem de ódio no cartaz é frequentemente usada por torcedores do Atlético. Na ocasião, as torcidas organizadas do time negaram ter participado do ato.
Os quatro suspeitos da simulação de enforcamento têm entre 19 e 24 anos e foram presos em Madri após uma investigação que apura crime de ódio. Três deles são membros ativos de um grupo radical de torcedores de um clube madrilenho, segundo um comunicado da polícia. De acordo com a imprensa espanhola, imagens de câmeras de segurança possibilitaram a identificação dessas pessoas.
O caso é apenas um de uma onda de ataques racistas direcionados a Vini Jr. Os outros três suspeitos foram presos em Valência por supostamente terem proferido cantos racistas durante o jogo do Valencia contra o Real Madrid no último domingo, e liberados em seguida com a obrigação de comparecer à Justiça. A partida contra o Valencia foi interrompida temporariamente após Vini Jr. avisar ao árbitro que um torcedor atrás de um dos gols o chamou de macaco e gesticulou em direção a ele.
O jogador pensou em deixar o campo, mas optou por continuar jogando. No entanto, após ser enforcado por um jogador adversário durante a confusão, foi expulso acusado de dar um tapa em outro jogador do Valencia.
Reação na Espanha
Os ataques, denunciados pelo jogador e pelo Real Madrid, levaram a Procuradoria de Valência a abrir uma investigação para apurar se houve “crime de ódio”, categoria penal espanhola que inclui crimes racistas.
A Comissão Anti-Violência, órgão vinculado ao Conselho Superior do Desporto (CSD), indicou na segunda-feira que estava analisando imagens disponíveis para identificar os autores dos ataques e “propor as sanções correspondentes”.
O incidente suscitou muitas reações na Espanha, onde o racismo nos estádios é denunciado há bastante tempo por jogadores e associações que consideram que o problema não é levado suficientemente a sério.
“Não foi a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira. O racismo é normal na LaLiga. A competição acha normal, o mesmo acontece com a Federação e os rivais incentivam”, lamentou Vinicius em suas redes sociais após o jogo.
“A primeira coisa é reconhecer que temos um problema de comportamento, educação, racismo”, admitiu na segunda-feira o presidente da Federação Espanhola (RFEF), Luis Rubiales, enquanto o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, pediu ter “tolerância zero” contra o racismo no futebol
Reação do governo brasileiro
O jogador recebeu apoio de dirigentes e atletas de todo o mundo e criticou duramente o futebol espanhol por não fazer mais para combater o racismo.
Após o ataque racista contra Vini Jr neste domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou solidariedade ao jogador e cobrou que autoridades esportivas tomem medidas sérias para combater a discriminação racial no futebol.
O governo brasileiro emitiu uma nota conjunta de cinco ministérios em repúdio ao racismo contra o brasileiro na Espanha. Os Ministérios do Esporte, da Igualdade Racial, das Relações Exteriores, da Justiça e Segurança Pública e dos Direitos Humanos e da Cidadania assinam o texto.
A nota diz lamentar que não tenham sido tomadas “providências efetivas” para prevenir e evitar a repetição de casos de racismo e “insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos”. Apela, igualmente, à FIFA e à Liga a aplicar as medidas cabíveis.
Resposta do presidente da LaLiga
Em uma publicação no Twitter nesta segunda-feira, o presidente da LaLiga, Javier Tebas Medrano, disse que a organização denunciou nove casos de racismo. Destes, oito tinham Vini Jr. como alvo.
Medrano, porém, também disse que é injusto chamar a liga e a Espanha de racistas. Ele respondeu a uma publicação de Vini Jr. dizendo que o jogador deveria se informar melhor antes de criticar e insultar a organização.
Nesta terça, a LaLiga disse ter identificado um suspeito de participar do ataque no domingo e afirma ter o banido para sempre do estádio. A LaLiga disse ainda que buscará aumentar sua autoridade para aplicar sanções em casos de crimes de ódio em estádios. Segundo a organização, a liga está restrita a detectar casos e apresentar as denúncias à federação de futebol espanhola.
Fonte: dw.com