Cuiabá e Coritiba se enfrentam neste sábado, às 18h30 (de Brasília), na Arena Pantanal, em Cuiabá, pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro. O duelo coloca frente a frente duas equipes que fizeram o processo de transformação em SAF. Enquanto o projeto do clube do Mato Grosso foi pioneiro em território nacional, constituído em 2021, o do Paraná anunciou a oficialização da venda da SAF no início de maio.
Desde sua fundação, o Cuiabá atua como clube empresa, sendo gerido desde 2009 pela família Dresch. Em 2021, assim que entrou em vigor a lei do clube-empresa (Lei 5.516/19), o Dourado constituiu-se como a primeira SAF do Brasil, após a liberação da Receita Federal em dezembro daquele ano.
Segundo o vice-presidente Cristiano Dresch, a criação da SAF possibilitou colocar o Cuiabá em melhores condições, por conta de questões como incentivos fiscais e pagamento de menos impostos, possibilitados pela SAF.
Antes da transição do modelo de gestão, o clube pagava em torno de 15% de imposto sobre o arrecadado. Atualmente, o Dourado contribui com o simples fut, um imposto único de 5% sobre todas as receitas, que apresenta uma isenção nos cinco primeiros anos. A possibilidade de captação de recursos via lei de incentivo ao esporte também foi um dos fatores bem avaliados pela diretoria do clube mato-grossense, algo que se tornou realidade em setembro de 2022.
“Para o Cuiabá, em especial, que é considerado um clube emergente, a lei das SAFs é fundamental. Financeiramente, possibilitou obtermos uma competitividade bem maior em relação ao que tínhamos antes. Ainda mais com a redução da carga tributária. A SAF é o grande movimento dos últimos anos no futebol brasileiro. Essa lei veio para conseguir salvar os clubes mais tradicionais que estavam à beira da falência e é o ‘motor’ que vai transformar o Campeonato Brasileiro em uma Liga”, avaliou Dresch.
Na outra ponta do processo de modernização dos clubes do futebol brasileiro, o Coritiba confirmou no início de maio a venda de 90% das ações da SAF para a Treecorp. A empresa atua como gestora de recursos focada em capital de crescimento.
O investimento previsto gira em torno de R$ 1,3 bilhão ao longo de 10 anos. O valor leva em conta a construção de um novo CT (R$ 100 milhões), a modernização do estádio Couto Pereira (R$ 500 milhões) e a quitação total do endividamento do clube (R$ 270 milhões), além de R$ 450 milhões desembolsados para a operação de futebol.
O acordo ainda necessita de aprovação para ser efetivado. O Conselho Deliberativo se reunirá na próxima terça-feira para votar o projeto e, no dia seguinte, será a vez da votação dos sócios.
“As SAFs são o futuro do futebol brasileiro. É um movimento que veio para ficar. Nem todos os clubes precisam necessariamente seguir esse modelo, sobretudo os que fizeram a lição de casa e com isso tem capacidade de investimento. Contudo, para uma enorme parte crescer organicamente não é uma realidade e, portanto, a única opção viável para buscar um salto é a transformação em SAF, com a venda de ações a um investidor. Esse salto vai ocorrer com investimentos que o clube, sozinho, não poderia fazer, como normalmente é o caso da construção de um CT de padrão internacional e a modernização do estádio. Investimento em infraestrutura é a mola propulsora para o crescimento”, afirmou Eduardo Carlezzo, especialista em direito desportivo.
Expectativas e gestão
Com as promessas de um novo modelo de negócio e aporte financeiro nos projetos de SAFs, Armênio Neto pontua sobre a expectativa gerada nessas ocasiões. Especialista em negócios do esporte, ele explica ser necessário que todas as partes estejam bem alinhadas e que os torcedores tenham paciência.
“Pode parecer que do dia para a noite tudo vai se transformar, mas nem sempre é assim que funciona e mesmo na Europa temos alguns exemplos de que pode ser a médio ou longo prazo. Para clubes que são comprados por investidores, muito em razão das altas dívidas acumuladas, esse processo pode ser ainda maior. Para ter gestão profissional é preciso ter esse equilíbrio”, disse Armênio.
Já para Renê Salviano, especialista em gestão esportiva com passagens por clubes e CEO da Heatmap, o sucesso não será garantido por um modelo associativo – como Ltda, S/A ou SAF –, mas sim com uma gestão profissional.
“O modelo SAF no país deve trazer junto uma exigência básica de gestão: gastar menos do que recebe. Depois se pensa em inovação, criação de projetos especiais e qualquer outra frente. Obviamente que a SAF vem num primeiro momento para salvar esses clubes mais endividados, mas, sem boa gestão, a situação continuará a mesma. Por isso que algumas instituições, já bem estruturadas, estão tendo esse cuidado e esperando o momento certo para a concretização deste modelo que, de fato, deve ser uma realidade em nosso país”, analisou.
Fonte: www.gazetaesportiva.com