A “malhação ou queimação” do Judas, no sábado de Aleluia, é uma antiga tradição que ainda resiste em algumas regiões do Brasil. Segundo Luís da Câmara Cascudo, no “Dicionário do Folclore Brasileiro”, a prática de queimar ou despedaçar bonecos de pano ou palha (Judas) era popularíssima na Península Ibérica e “radicou-se em toda América Latina desde os primeiros séculos da colonização europeia. (…) Certamente o Judas queimado é uma personalização das forças do mal e constituirá vestígio dos cultos agrários, espalhados pelo mundo”.
Ainda de acordo com Câmara Cascudo, no Brasil (o autor não sabe desde quando), era costume fazer o julgamento do Judas, sua condenação e a execução. Antes do suplício, era lido o testamento do Judas, escrito em versos, de caráter humorístico e fazendo alusão aos moradores locais. O autor destaca que, banida das cidades, a tradição permanece nos bairros mais afastados e arrabaldes.
No século XIX, Jean-Baptiste Debret, retratou a cena da “Queimação do Judas”, no Rio de Janeiro. Vejamos como ele descreve o episódio:
“A sensação de contrastes, que fecunda de modo tão especial o gênio dos povos meridionais da Europa, também se encontra aqui no brasileiro, hábil em fazer suceder ao lamentável espetáculo dos passos da paixão de Jesus Cristo, carregados em procissão durante a Quaresma, o enforcamento solene de Judas, no sábado de Aleluia. Piedosa justiça, que é motivo para um fogo de artifício disparado às dez horas da manhã, no momento da aleluia, e que põe em rebuliço toda a população do Rio de Janeiro, alegre em ver os trapos incendiados deste apóstolo perverso, dispersados no ar pela explosão de bombas e logo consumidos, ao som de vivas do populacho. Cena repetida no mesmo instante em quase todas as praças da cidade”.
Fonte: brasilcultura.com.br