A fome deixou subnutridos cerca de 8,4 milhões de brasileiros entre 2021 e 2023, de acordo com estudo de cinco agências da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quarta-feira (24/07).
No mesmo período, 39,7 milhões de brasileiros (18,4% da população) viveram em insegurança alimentar – condição que se apresenta em diferentes graus e abarca desde o consumo de alimentos menos nutritivos e baratos até a falta do que comer. Cerca de 14,3 milhões de brasileiros estiveram nessa última condição (6,6% da população), chamada de insegurança alimentar severa.
Apesar dos dados ainda alarmantes, houve melhora do quadro nos últimos anos. No triênio de 2020 a 2022, 70,3 milhões de brasileiros, ou 32,8% da população, sofriam algum grau de insegurança alimentar, e 21,1 milhões de brasileiros não tinham o que comer (9,9% da população).
O número dos que sofreram com a insegurança alimentar grave é maior do que os oficialmente classificados pela ONU como famintos porque a definição de fome da entidade considera apenas aqueles em estado de subnutrição induzida pela falta crônica e contínua de alimentos.
Os dados estão na edição mais recente do relatório anual “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo”, lançado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e agências parcerias. Neste ano, a divulgação oficial do relatório aconteceu no Rio de Janeiro, como parte do lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal aposta do Brasil no G20.
Neste ano, o Brasil preside o grupo, que inclui 19 estados, a União Europeia e, desde 2023, a União Africana. A Rússia e a China também são membros.
A aliança visa garantir financiamento para combater a fome no mundo e a replicar programas bem-sucedidos. “A fome não resulta apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso. “Não podemos naturalizar tais disparidades”, completou.
Uma dentre cada 11 pessoas no mundo passa fome
O estudo revela que a fome permaneceu praticamente no mesmo nível durante os três últimos anos, depois de um pico na pandemia. Entre 713 e 757 milhões de pessoas podem ter passado fome em 2023, o que equivale a 1 entre 11 pessoas no mundo – e 1 a cada 5 no continente africano.
Dessa forma, o mundo ainda está longe de alcançar o compromisso de zerar a fome até 2030, apontam as entidades envolvidas.
A projeção é de que 582 milhões de pessoas estarão cronicamente subnutridas no final da década, mais da metade delas na África.
“É necessário acelerar a transformação de nossos sistemas agroalimentares para fortalecer sua resiliência aos principais fatores e enfrentar as desigualdades para garantir que dietas saudáveis sejam acessíveis e estejam disponíveis para todos”, diz o relatório.
O documento destaca a necessidade de financiamento, seja público ou privado, para garantir a disponibilidade, o acesso e a continuidade no abastecimento de alimentos nutritivos e seguros, além de práticas que favoreçam dietas saudáveis, serviços de saúde, educação e de proteção social.
As entidades observaram melhorias nos países mais populosos e com economias em crescimento, mas a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição continuam a aumentar em muitos países do mundo.
“Isso está afetando milhões de pessoas, especialmente nas áreas rurais, onde a pobreza extrema e a insegurança alimentar continuam profundamente arraigadas”, diz o texto.
Entre os mais vulneráveis, estão mulheres, jovens e povos indígenas. A prevalência de insegurança alimentar é maior nas áreas rurais do que nas áreas urbanas.
A África é a região com a maior parcela da população que vive em situação de fome – 20,4%. Na Ásia, esse índice é de 8,1%, na América Latina e no Caribe, 6,2%, e na Oceania, 7,3%. Entretanto, a Ásia ainda abriga o maior número de pessoas: 384,5 milhões, ou mais da metade de todas as pessoas que passam fome no mundo.
Fonte: dw.com