Com o crescimento da produção, o consumo de carne bovina pelos brasileiros vai aumentar em 2023, após cinco anos de queda. De acordo com a projeção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a disponibilidade per capita da proteína vai passar de 26 para 29 quilos por habitante ao ano, uma alta de 11,6%.
Somados os três principais tipos de proteína animal consumidos pelos brasileiros, a bovina, a suína e a de frango, esse número atingirá 96 quilos por habitante ao ano — o segundo maior índice já registrado, inferior apenas ao de 2013.
Entre os motivos para a alta do consumo em 2023 está a maior oferta de carnes no mercado interno, que deverá apresentar recuperação neste ano e pode atingir o maior nível na série histórica. “Com a maior produção, a disponibilidade per capita também cresce. O incremento no indicador ocorre mesmo com o crescimento da população brasileira”, afirma a Conab em nota.
A quantidade do produto no mercado doméstico, considerando carne bovina, suína e de frango, está projetada em 20,77 milhões de toneladas, um aumento de 5% quando comparado ao volume estimado em 2022.
“Esse cenário contribui para uma tendência de queda nos preços, o que já começa a ser percebido no mercado, como mostra a pesquisa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor [IPCA] divulgada em março pelo IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]”, afirma o presidente da Companhia, Edegar Pretto.
No acumulado dos últimos 12 meses, o preço da carne caiu 4,05%, de acordo com a prévia da inflação de abril, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgado pelo IBGE na última quarta-feira (26), enquanto a inflação no período foi de 4,16%. Entre os cortes, o preço da alcatra e do contrafilé caiu mais de 5%, mas a maior queda foi no custo da capa de filé, de 8,55%.
A esteticista Lourdes Aparecida, de 49 anos, espera voltar a comer carne bovina. Ela deixou de comprar o produto desde a pandemia de Covid-19. Com a disparada dos preços nos últimos anos, Lourdes teve que substituir o produto pelas carnes suína e de frango, mais em conta.
Agora, apesar da desaceleração dos valores, ela acha que a proteína ainda está cara. “É muito cedo para perceber uma melhora. Os preços ainda estão muito altos”, afirma a esteticista.
O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), explica que o preço da carne, nos últimos três anos, subiu muito, mas, recentemente, se estabilizou num patamar alto, além de apresentar alguma queda diante de outros alimentos que continuaram subindo.
“Mas não acho que essa queda tenha justificado a alta do consumo do produto. Acho que alguma injeção de recursos na própria economia ajudou a pôr um pouco mais de alimentos na mesa das famílias”, avalia Braz. “Para as famílias de baixa renda, a carne se tornou um item raro na dieta, mesmo agora com os preços mais comportados.”
Braz destaca que o país atravessou um período de restrições às exportações, o que ajudou a abastecer mais o mercado doméstico, com oferta maior e uma pressão inflacionária menor.
A queda nas exportações do produto ocorreu em razão de um início de ano impactado pela suspensão da venda da carne bovina, principalmente ao mercado chinês, por causa de medidas previstas em protocolos sanitários. Essa situação foi contornada com o fim do embargo pela China, ainda no fim de março.
“O cenário de alta na produção aliado a uma queda nas vendas ao mercado externo possibilita um aumento de 12,4% na disponibilidade da carne bovina no cenário doméstico, podendo chegar a 6,26 milhões de toneladas. A maior oferta influencia positivamente a disponibilidade per capita, na qual é esperada uma recuperação na ordem de 11,6%, estimada em 29 quilos por habitante por ano”, afirma a Conab.
Para o economista do FGV Ibre, a boa notícia é que o mundo está desacelerando. Países estão vivendo processo semelhante ao do Brasil, e, neste momento, nessas nações também se praticam juros mais altos para conter a inflação. O que pode ajudar a segurar o preço da carne.
“Isso pode esfriar a demanda internacional, e repercutir positivamente no preço da carne, por não ter viés de alta no curto prazo. Isso se sustenta por um clima mais favorável, porque está chovendo com mais regularidade, não há nenhum prejuízo para a pastagem, o preço das rações derivadas da soje e do milho, em especial, está em desacelerção. O que não aumenta os custos da pecuária, e acaba depositando pressão menor no preço final ao consumidor”, analisa Braz.
Fonte: cenariomt.com.br