Dados parciais de um relatório do Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam um aumento de 1.044% no número de mortes em consequência de conflitos no campo neste ano, em comparação com o ano passado. O número saiu de nove para 103, e a maior parte dos óbitos, 101, foi de indígenas ianomâmis.
Na pesquisa, há uma diferença entre “mortes em consequência de conflitos no campo” e “mortes por conflito no campo”. A primeira situação se dá quando uma pessoa morre mas a morte não decorre de assassinato, e sim “de uma realidade de violência contra as famílias de determinada comunidade, ou nas relações de trabalho de produção”, conforme definição da Pastoral. Nesse caso, estão envolvidas questões de saúde, como fome ou a Covid-19. Já as mortes por conflito no campo se referem a homicídios.
No caso de assassinatos em conflitos no campo, o aumento foi de 30% em relação a 2020. Neste ano, foram registrados, de janeiro a novembro, 26 homicídios. No ano passado, foram 20. Conforme o relatório, não foi possível extrair o número exato de crianças, mulheres e homens que morreram em consequência de conflitos, mas o número de crianças pode chegar a 45. A maior parte dessas informações relativas aos ianomâmis foram apresentadas em um fórum de lideranças Yanomami e Ye’Kwuana, entre 4 e 7 de setembro de 2021, no norte de Roraima.
“Acompanhamos, durante o ano de 2021, diversas invasões de garimpeiros ao território ianomâmi, resultando em assassinatos, agressões, ameaças, ameaça ao território, contaminação da água, desmatamento, além de serem vetores de doenças diversas, incluindo a Covid-19. Vimos também crianças sendo sugadas por dragas e morrendo afogadas ao fugirem dos tiros disparados pelos criminosos”, pontuou o relatório.
Conforme a pastoral, a “falta de políticas públicas de saúde e alimentação expôs o alto índice de desnutrição que acomete as crianças ianomâmis, muitas vezes mortalmente, e também expôs como doenças, a exemplo de malária, leishmaniose e pneumonia, ainda matam esses indígenas em nosso país”.