À CNN, instituições públicas usaram expressões como “situação crítica” e “inviabilidade de funcionamento” para descrever a situação atual
Um levantamento da CNN, com base em dados do painel da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), mostrou que 88% faculdades federais tiveram prejuízos milionários após o corte mais recente de 7,2% no orçamento feito pelo governo federal.
Na prática, o Ministério da Educação bloqueou aproximadamente R$ 1,6 bilhão, segundo a pasta.
A análise feita levou em consideração o orçamento das 69 instituições federais localizadas no país. A maioria das universidades, segundo o presidente da Andifes, reitor Marcus David, vive um estrangulamento financeiro. A CNN procurou o MEC sobre o problema apontado pela Andifes e ainda aguarda um retorno.
A reportagem da CNN também conversou com pelo menos cinco instituições federais no Brasil. Ao serem questionadas pela CNN, as universidades usaram expressões como “situação crítica” e “inviabilidade de funcionamento” para descrever a situação financeira atual do segmento.
Com mais de 100 anos, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está entre as instituições com problemas financeiros. A reitora do local, Denise Pires de Carvalho, destacou que o dinheiro disponibilizado pelo governo federal deve acabar em meados de agosto, pelo menos quatro meses antes da conclusão do ano letivo. Segundo ela, os recursos fornecidos pelo MEC estão congelados há dez anos.
A UFRJ, uma das mais antigas instituições de educação do país, possui, atualmente, 55 mil alunos de graduação e cerca de 15 mil na pós-graduação.
“O orçamento de 2022 da UFRJ era de R$ 329 milhões. Com o remanejamento, o valor final tem chance de cair para algo em torno de R$ 306 milhões. É um orçamento muito longe do que a UFRJ precisa. Lembrando que, na discussão do orçamento do ano passado, a UFRJ reivindicava, pelo menos, o orçamento de 2019 corrigido pela inflação: o orçamento era de cerca de R$ 374 milhões”, disse Denise Carvalho.
Também sobre questões orçamentárias, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) ressaltou em comunicado oficial que presencia uma “inviabilidade financeira”.
Na prática, a instituição apontou uma perda de R$ 80 milhões entre 2016 e 2022, levando em consideração a defasagem no repasse do governo e a alta da inflação, que acumula um aumento de 36% no período, segundo o IBGE.
Ainda no mesmo sentido, em resposta à CNN, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) disse que o reajuste orçamentário feito pelo governo federal “comprometerá o funcionamento e a manutenção da instituição, afetando o pagamento das contas e contratos nas áreas de custeio e infraestrutura”.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também criticaram o orçamento atual para o investimento e custeio das instituições.
A instituição localizada na região Centro-oeste do país afirma que os cortes impostos ao orçamento “comprometerão o funcionamento e a manutenção do estabelecimento” e diz que com “o bloqueio de R$ 16 milhões, o orçamento da UFMG retroceder aos patamares de 2009”.
Representantes da Andifes alertam que o novo corte do governo federal trará um prejuízo financeiro superior a R$ 3 bilhões para o segmento. De acordo com a associação, a justificativa do MEC é a necessidade de utilizar o montante para reajustar os salários de todo o funcionalismo público federal em 5%.