Substâncias presentes no veneno de cobras como a jararaca e a cascavel apresentam potencial no combate à doença
Cientistas brasileiros estudam como os componentes presentes em venenos podem ser usados para o tratamento de diferentes doenças. No Instituto Butantan, em São Paulo, pesquisadores avaliam o potencial de substâncias presentes no veneno de cobras como a jararaca e a cascavel no combate ao câncer de mama.
Especialistas do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan descobriram que o veneno da jararaca é capaz de modular proteínas relacionadas ao metabolismo das células tumorais, resposta imune e inflamação. O grupo de pesquisa liderado pelo professor Leo Kei Iwai investiga como a peçonha pode ser útil diante de células de um tipo específico de câncer de mama, chamado triplo negativo.
A partir das descobertas, os cientistas buscam agora identificar quais componentes presentes no veneno são responsáveis pela modulação de proteínas. A expectativa é de que, futuramente, a equipe possa trabalhar no desenvolvimento de uma terapia complementar ao tratamento da doença.
Para isso, os pesquisadores precisam superar o desafio de identificar e separar, entre os componentes do veneno, aqueles com efeitos benéficos daqueles que são tóxicos ao organismo humano.
“O câncer apresenta um aumento de várias proteínas. Com a introdução do veneno nas linhagens celulares de câncer de mama triplo-negativas, algumas proteínas diminuíram e outras que estavam elevadas acabaram aumentando ainda mais. Se você aumenta demais, você pode induzir um desequilíbrio na homeostase da célula cancerosa, induzindo ela a morrer. Essa é uma estratégia que iremos trabalhar”, afirma Iwai, em comunicado.
Proteína do veneno da cascavel
Uma proteína do veneno da cascavel chamada crotoxina também conta com antividade antitumoral.
Os estudos liderados pela diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan, Sandra Coccuzzo, revelaram em testes de laboratório que a substância é capaz de inibir a proliferação e a migração das células tumorais de câncer de mama. A ação conta com uma característica pontual e relevante de não afetar as células normais, freando um mecanismo importante durante o desenvolvimento de células embrionárias, que ajuda a célula a migrar e formar outros tecidos.
“Na célula maligna, quando esse processo é disparado, isso ajuda o câncer a se espalhar. É um processo fundamental para que ocorra a metástase. Se você freia esse mecanismo, você impede o desenvolvimento tumoral”, explica Sandra.
Os testes foram feitos com células humanas malignas e normais em um tecido mamário que imita o tecido humano real. Como o processo ocorre em qualquer célula cancerosa, a mesma estratégia se aplicaria para diferentes tipos de câncer, segundo os especialistas. No trabalho, os especialistas observaram os mesmos resultados em células tumorais de pulmão, por exemplo.
A partir do conhecimento do potencial da crotoxina, o grupo busca agora identificar quais seriam as partes menores da proteína com capacidade antitumoral. “Esse seria o caminho para sintetizar novas moléculas e desenvolver um fármaco no futuro”, diz a especialista.
Incidência da doença
O câncer de mama é o tipo que mais afeta mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. A cada ano, são registrados cerca de 66 mil novos casos no Brasil, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O agravo ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil.
O Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia como método de rastreamento para o câncer de mama, ou seja, exame de rotina, para mulheres sem sinais e sintomas na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Um em cada três casos de câncer pode ser curado se for descoberto logo no início.
A doença é caracterizada em diferentes estágios: 0 a IV, sendo o último o mais grave. Nesta fase, o câncer pode ser encontrado em outras partes do corpo, sendo chamado de câncer metastático.
De acordo com o Inca, os principais sintomas do câncer de mama são:
- Nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor
- Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja
- Alterações no bico do peito (mamilo)
- Pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço
- Saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos.
Fonte: cnnbrasil.com.br