Estilo de vida acelerado e excesso de telas afetam descanso e podem até causar doenças
Prejuízo na atenção e na memória, baixa na imunidade e até impotência sexual. Esses são alguns dos efeitos de noites maldormidas, que atingem 80% dos brasileiros em algum momento da vida, como divulgou a Associação Brasileira de Sono (ABS) no último dia 15, Dia Mundial do Sono. A rotina acelerada e o aumento do uso de eletrônicos estão por trás da piora da qualidade do sono, disseram especialistas ao Super.
Eles orientam que, para garantir o descanso necessário e evitar complicações na saúde, é preciso organizar a rotina com foco na chegada da noite e preparar o corpo e o ambiente para dormir: o recomendado para um adulto é de ao menos oito horas de sono por noite.
“A grande maioria (das pessoas) está privada de sono pela vida moderna e gostaria de dormir mais, mas não consegue. E isso vai impactar a saúde lá na frente: quem leva uma vida em privação de sono perde em quantidade e qualidade de vida, podendo ter complicações cardiovasculares”, alerta a especialista em medicina do sono Luciana Macedo Guedes, que é pneumologista.
Outra especialista do sono, a neurologista Marília Denise Mariani Pimenta reforça que dormir bem é um dos fatores mais importantes para garantir a qualidade de vida. “O cérebro trabalha muito, há funções que só acontecem à noite”, diz ela, que integra a Academia Brasileira de Neurologia.
Para o advogado Fernando Costa Coletinha, que está com 27 anos e tem dificuldades de dormir desde a adolescência, a ansiedade e os muitos estímulos à noite são os maiores vilões do sono.
Ele conta que a situação piorou há quatro anos, último ano de faculdade, quando ele fazia estágio e monografia: “Passou a ser normal dormir pouco, de quatro a cinco horas por noite. Meu corpo se acostumou. Você está com sono, só quer deitar e, assim que encosta a cabeça no travesseiro, o sono some”. Até em fins de semana, ele despertava após seis horas de sono.
No entanto, o jovem sofria com a piora de seu rendimento e precisou recorrer a medicamentos, prescritos por um cardiologista, para combater a insônia. “Consigo ter um sono de mais qualidade, mas não quero ter que depender de químicos para fazer algo tão natural quanto dormir”, avalia.
Dados
Em casos crônicos, a insônia ocorre por uma média de três anos, segundo a ABS. Ela pode causar diabetes, obesidade e também problemas cardiovasculares.
Mais de 150 distúrbios
Um dos distúrbios do sono mais comuns entre os mais de 150 já descritos, a insônia é caracterizada pela dificuldade de adormecer ou manter-se dormindo. Geralmente, ela tem causa ligada à saúde mental e também a condições emocionais.
Hipertensão
Quem tem apneia pode ficar até 60 segundos sem respirar. Sintoma do problema, o ronco também é um risco para saúde, alerta a neurologista Marília Denise Mariani Pimenta. “Quem ronca alto deve procurar um especialista em sono. Com o passar do tempo, (o ronco) propicia a elevação da pressão arterial”, afirma.
DORMIR ‘PICADO’ CAUSA FADIGA
Orlando de Carvalho, de 52 anos, não consegue dormir por mais de duas horas sem acordar assustado. Porteiro, ele começou a ter crises fortes e frequentes de apneia há dois anos.
“É um misto de problemas no pulmão e emocionais, crises de ansiedade. O desespero é grande, por causa da falta de ar. Entro em pânico, tenho que ir para a rua, porque não suporto as paredes”, diz o morador de BH. Em tratamento psicológico e pulmonar, ele afirma que, quando acorda assim, só se acalma 30 minutos depois, controlando a respiração.
As interrupções no sono levaram o porteiro a ter fadiga constante, o que o impede de trabalhar: “Até quando vou tomar banho tenho que me sentar, porque é cansativo”, conta.
O que é
A apneia pode causar de uma a cem interrupções na respiração em uma noite. “O ronco pode ser sinal de que há apneia. O jeito de saber isso é por polissonografia”, orienta a neurologista Marília. O exame é pedido por médico especialista em sono.
DORMIR BEM AJUDA A EVITAR PARKINSON E ALZHEIMER
O sono funciona como um processo de limpeza no organismo, após os nossos neurônios produzirem, durante o dia, substâncias tóxicas, ressalta o psiquiatra Bruno Brandão Carreira. Ao adormecer, entra em ação o sistema glinfático, que elimina resíduos do sistema nervoso central. Se essa limpeza não for adequada, há acúmulo de substâncias tóxicas: “As consequências disso podem ser devastadoras, com uma série de doenças associadas à privação de sono”.
Estudos comprovam que dormir mal aumenta o risco de ter doenças de Parkinson e Alzheimer. Essas condições neurológicas se desenvolvem por uma série de fatores ainda não totalmente esclarecidos, mas a má qualidade do sono pode ser um deles. Isso, porque o diagnóstico dessas enfermidades se dá justamente pelo acúmulo, no cérebro, de proteínas que o sono restaurador elimina.
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Fonte: otempo.com.br