PIB do país chegou a registrar picos como de grandes economias asiáticas, mas não consegue avançar de forma sustentada e sem gerar inflação
A economia brasileira cresceu 2,9% em 2022, último ano do mandato do presidente Jair Bolsonaro, ante um avanço de 5% registrado no ano anterior.
Essa desaceleração no ritmo do Produto Interno Bruto (PIB) é explicada, sobretudo, pelo efeito pandemia, que atingiu a economia com força em 2020, quando a economia contraiu 3,3%, e foi se dissipando nos dois anos seguintes.
Mas o movimento também indica uma volta do país ao seu ritmo de crescimento dos últimos quarenta anos, quando o PIB cresceu, em média, 2,3% ao ano, segundo cálculos da organização global de pesquisa The Conference Board.
Vale ressaltar que, para 2023, a expectativa é que a desaceleração econômica se acentue no país, como consequência da taxa de juros em patamar elevado e a inflação persistente.
Veja, na linha do tempo, os momentos da história que mais impactaram o PIB no passado recente:
2019 – 2022: pandemia da Covid-19
A gestão de Jair Bolsonaro gestão foi marcada pelos impactos da pandemia do novo coronavírus, que derrubou as atividades econômicas no mundo todo a partir de 2020. Naquele ano, enquanto a economia brasileira contraiu 3,3%, o PIB da Espanha, por exemplo, recuou 10,8%, o da Argentina, 9,9%, e o da Itália, 9%.
O Brasil teve queda de 3,3% no período, um resultado “menos catastrófico” que o da grande maioria dos países, em que também se destacam Portugal (- 8,4%), França (- 7,9%), Uruguai (- 6,1%), Chile (- 6,1%). Com exceção dos EUA, cuja economia contraiu 2,8%.
Em 2021, após a pior parte da crise econômica gerada pelo vírus, o Brasil registrou avanço no PIB de 5%, principalmente devido à reabertura econômica global e a demanda reprimida ao longo do período que levou à volta da produção.
Bolsonaro assumiu a presidência em 2019, com a promessa de uma agenda liberal focada no crescimento econômico. No primeiro ano de governo, o PIB brasileiro cresceu 1,2%. O resultado era próximo dos registrados nos dois anos anteriores (2017 e 2018), de altas de 1,3% e 1,8%, respectivamente.
2011- 2018: recessão e reformas
A gestão Bolsonaro sucedeu um período conturbado, em que o Brasil lutava para sair de uma crise econômica, marcada pela pior recessão da histíoria moderna doméstica, em 2015 e 2016, e uma crise política, cujo estopim foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Em 2015, a economia brasileira contraiu 3,5% —o pior resultado desde 1990 (-4,3%)—, e, em 2016, recuou 3,3%. A economia sofria um baque com o fim do “boom das commodities”, que impulsionara o PIB ao longo da primeira década dos anos 2000.
Além disso, o PIB foi prejudicado no período por um desequilíbrio fiscal, alta dos juros a patamares recordes, restrição ao crédito e queda no investimento externo.
Nesse sentido, a gestão posterior, de Michel Temer, é marcada por contribuições importantes para a visão de solidez da economia, como o teto de gastos e o avanço da reforma da previdência, que reforçou uma visão de melhor sustentabilidade para as contas públicas.
As reformas tributárias e administrativas, entretanto, não conseguiram avançar. Seu governo também foi marcado por dificuldades em meio a escândalos e desavenças políticas.
2003 – 2010: boom das commodities e crise imobiliária nos EUA
O “boom das commodities” marcou a entrada da economia brasileira nos anos 2000. A valorização de produtos como o petróleo e os metais beneficiou as contas de países com grande presença no setor de exportação, como é o caso do Brasil.
Em 2007, já no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), o PIB brasileiro cresceu 6,1% – o maior crescimento registrado no país desde 1985, quando houve avanço de 7,8%. Essa onda positiva durou até 2010, ano em que o Brasil chegou a crescer 7,5% ao ano.
Após expandir 5% em 2008, a economia brasileira teve um recuo de 0,3% em 2009, com o baque da crise financeira global, gerada por uma reação em cadeia da venda de contratos imobiliários “podres” nos Estados Unidos.
No meso ano, os EUA encolherem 2,4% em meio ao que ficou conhecido como a bolha do “subprime”.
O estouro da bolha mostrou a fraude que ocorria nos empréstimos concedidos a pessoas com alto de risco de crédito, mas que eram vendidos como ativos seguros aos investidores. No fim, o Lehman Brothers, um dos maiores bancos do mundo da época, foi à falência.
1990 – 2002: frutos do Plano Real e crises internacionais
O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso foi marcado, em grande parte, pelos frutos do Plano Real, instaurado no fim da gestão anterior, para estabilizar a economia, que sofria com uma das maiores crises inflacionárias do mundo.
Em 1994, último ano do governo de Itamar Franco e primeiro ano do plano, o PIB cresceu 5,85%, seguido por uma alta de 4,22% no ano seguinte. O ritmo de crescimento da economia desacelerou, no entanto, até chegar em 0,81% em 1999, em meio à crises internacionais que afetaram o Brasil.
Apesar do melhor desempenho da economia, após o Plano real, porém, nos 10 anos entre 1990 a 1999, o PIB cresceu, em média, cerca de 1,7% a.a., segundo cálculos divulgados pelos economistas Armando Castelar Pinheiro, Fabio Giambiagi e Joana Gostkorzewicz.
O professor de relações internacionais da FGV Vinícius Vieira cita três crises que geraram efeitos similares no país ao longo na segunda metade dos anos 90, que levaram à retirada de investimentos estrangeiros de países considerados mais arriscados e menos estáveis.
“O investidor retira seus investimentos de países que possuem risco, mercados parecidos com aquele que está em crise. Mas, no caso do Brasil, ainda tínhamos dificuldades herdadas do período de hiperinflação”, explica Vieira.
Ele cita a crise econômica do México, conhecida como “Efeito Tequila”, em 1994, quando a falta de reservas internacionais do país causou forte desvalorização do peso. A crise financeira asiática, em 1997, quando a moeda tailandesa sofreu um colapso.
E a chamada Moratória Russa, em 1998, uma crise provocada pela abrupta mudança econômica que o país passou durante o fim da União Soviética, quando a economia planificada passou para o modelo de mercado.
Vale lembrar que os primeiros anos da década de 90 foram marcados pelo pedido de impeachment e renúncia de Fernando Collor de Mello, em 1992, quando seu vice Itamar Franco assumiu.
Fonte: cnnbrasil.com.br