Estudo da Nasa alerta para consequências do aquecimento global e chama a atenção para necessidade de adaptação à emergência climáticaApós uma análise equivocada de um estudo da Nasa, a agência espacial norte-americana, foi noticiado que o Brasil poderia ficar inabitável em 50 anos. Mas o que de fato é verdade sobre o assunto? O fato é que as mudanças climáticas estão em curso e já nos afetam, sendo imprescindível a adaptação a elas para preservar a qualidade de vida da humanidade no planeta.
O documento da Nasa é de 2020, como explica a doutoranda em Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora científica, Karina Bruno Lima. O estudo pesquisou, entre outros fatores, a ocorrência de eventos de temperatura de bulbo úmido extremos. São situações em que os termômetros podem marcar acima de 30°C, mas a sensação térmica ser muito maior. Uma das constatações foi que elas mais do que dobraram após 1979.
A temperatura de bulbo úmido combina temperatura e umidade relativa do ar. A aferição de 35°C de bulbo úmido, por exemplo, equivale a 45°C, com 50% de umidade. O indicador é importante para verificar o conforto térmico e o impacto da condição no corpo humano
“(O estudo diz que) alguns locais no mundo já tiveram eventos de temperatura de bulbo úmido de 35°C décadas antes do previsto, que eventos de calor úmido extremos já registrados nas últimas décadas indicam uma tendência contínua de aumento de frequência e intensidade dos mesmos”, acrescenta Karina.
A doutoranda em Climatologia afirmou ao Metrópoles que o Brasil só aparece em um comentário do autor, feito dois anos depois da publicação. Na fala, ele cita que o país é uma das regiões onde poderiam ocorrer os eventos extremos de temperatura de bulbo úmido, ou seja, superior a 35°C. As regiões específicas do Brasil onde ocorreriam o fenômeno ou as condições de habitabilidade não são analisadas por ele
“Alguns lugares no Brasil poderem registrar eventos que ultrapassam os 35°C de temperatura de bulbo úmido nas próximas décadas não quer dizer que o país inteiro se tornará inabitável, nem que os eventos acontecerão durante o ano todo, visto que existe sazonalidade”, complementa a especialista.
Realidade
O fato de o Brasil não ser citado não diminui a relevância do estudo da Nasa. Karina lembra que o documento faz projeções baseadas nos níveis de aquecimento global provocado pelo homem em relação ao período pré-industrial.
“Por isso é essencial que consigamos limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2°C para diminuir este e outros riscos. Também é fundamental a adaptação às mudanças climáticas, pois precisamos nos preparar, aumentando nossa resiliência, para o mundo que já temos e para o que teremos”, frisa Karina.
Projeções de respeitados institutos internacionais consideram que o planeta já aqueceu mais de 1°C. Em 2015, 195 países firmaram o Acordo de Paris. O objetivo é conter o aquecimento global em 2°C, preferencialmente até 1,5°C. Para isto, os países assumiram metas.
Os compromissos nacionais são chamados de Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC, na sigla em inglês). Pelo Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu com a redução de 37% nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2025, com base nos valores de 2005. Em 2030, a diminuição deve alcançar 43% sobre o mesmo ano base.
Na Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo presidente norte-americano Joe Biden, em 2021, o então presidente brasileiro Jair Bolsonaro antecipou em 10 anos o objetivo de neutralidade nas emissões, ficando para 2050.
Os principais esforços do Brasil para atingir a meta são redução nas queimadas, desmatamento e mudanças no uso do solo. Também há compromisso para recuperação de áreas degradadas.
Adaptação
Além de cumprir as metas ambientais, o Brasil precisa se adaptar para a ocorrência de eventos climáticos extremos, como o que ocorreu recentemente Rio Grande do Sul. O mesmo deve ser feito por todos os países do mundo. Atualmente, o governo trabalha em um plano para 1.942 dos cerca de 5,5 mil municípios brasileiros mais vulneráveis à emergência climática.