O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quinta-feira (20/04) a intenção de liberar US$ 500 bilhões (R$ 2,5 bilhões) para o Fundo Amazônia, a serem usados nos próximos cinco anos. Segundo a Casa Branca, ele pedirá a aprovação do recurso ao Congresso americano.
O valor é dez vezes maior do que o inicialmente previsto. Originalmente, o governo americano prometeu em fevereiro o repasse de 50 milhões de dólares, valor bem inferior aos cerca de R$ 3 bilhões já aportados pela Noruega e também aos 200 milhões de euros oferecidos recentemente pela Alemanha, no âmbito da visita do chanceler federal Olaf Scholz ao Brasil.
O anúncio faz parte do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, uma cúpula online que tem participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O fórum é uma iniciativa do ex-presidente Barack Obama retomada por Biden e composto pelas 26 maiores economias do mundo, incluindo China e Rússia.
Os países que participam do fórum representam cerca de 80% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, segundo a Casa Branca.
No encontro, Biden também convocou outras lideranças a apoiarem o Fundo Amazônia, programa que busca doações para prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, assim como conservação e uso sustentável da Floresta Amazônica.
“Eu vou pedir verbas para contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia e todas as outras atividades relacionadas ao clima nos próximos cinco anos para ajudar o Brasil a renovar seus esforços para acabar com o desmatamento até 2030”, declarou Biden.
Fundo foi travado no governo Bolsonaro
Estabelecido em 2008, durante o segundo governo Lula, com doações principalmente de Noruega e Alemanha, o Fundo Amazônia financiou 102 projetos de combate ao desmatamento e geração de renda no Brasil até 2018.
Ao longo daquela década, os doadores destinaram R$ 3,4 bilhões ao país, com base em uma única contrapartida do governo brasileiro: diminuir a destruição da maior floresta tropical do mundo e, dessa maneira, cortar as emissões de gases de efeito estufa.
Em 2019, a Alemanha e a Noruega suspenderam os repasses para novos projetos após o governo brasileiro, na gestão Jair Bolsonaro, pedir mudanças nas regras na aplicação dos recursos e extinguir colegiados de gestão do dinheiro. O mecanismo foi reativado recentemente.
Desde que Lula foi proclamado vencedor das últimas eleições, a Noruega anunciou o desbloqueio de US$ 1 bilhão para o fundo, seguido por 200 milhões de euros da Alemanha. Reino Unido, França e Espanha sinalizaram a intenção de participar. Outro esforço é obter apoio da filantropia, com expectativa de doações na casa dos 100 milhões de dólares.
“Não há sustentabilidade num mundo em guerra”
Durante o Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, Lula afirmou que “não há sustentabilidade num mundo em guerra”.
“Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países. No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado”, ressaltou o presidente brasileiro no evento online.
A fala ocorre após a repercussão negativa das declarações do brasileiro sobre o conflito na Ucrânia. No último sábado, ao final de sua visita à China, Lula afirmou que os Estados Unidos deveriam parar de “incentivar a guerra” na Ucrânia e que a UE, por sua vez, deveria “começar a falar de paz”. Neste domingo, em visita aos Emirados Árabes, Lula voltou a acusar os EUA e a Europa de prolongarem a guerra em solo ucraniano.
“A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia, Volodimir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra”, afirmou o petista.
O presidente também voltou a acusar a Ucrânia de ter participação no início do conflito. “A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países”, disse Lula, durante coletiva de imprensa.
No fim de semana, em visita aos Emirados Árabes Unidos, Lula havia acusado os EUA e a Europa de prolongarem o conflito no Leste Europeu. A declaração gerou reação internacional, com a Comissão Europeia e a Casa Branca rebatendo as críticas feitas pelo líder brasileiro.
Já nesta terça-feira, ao receber o presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, em Brasília, Lula amenizou o tom e disse que seu governo condena a violação do território, ao mesmo tempo que defende “uma solução política negociada para o conflito”.
Fonte: dw.com