O assassinato do candidato presidencial equatoriano Fernando Villavicencio, de 59 anos, nesta quarta-feira (09/08), em Quito, é a mais recente demonstração de um mal endêmico observado em todo o continente americano: a violência política.
Villavicencio foi baleado após participar de um comício político na capital equatoriana, em plena campanha para as eleições presidenciais de 20 de agosto no país sul-americano.
O Equador sofre uma escalada de violência devido à ação de gangues criminosas que recentemente também mataram o prefeito de Manta, Agustín Intriago, e Rider Sánchez, candidato a deputado na província de Esmeraldas, no norte do país.
Colômbia: três candidatos mortos na mesma eleição
Os anos de 1989 e 1990 foram particularmente marcantes na política colombiana, quando três candidatos que aspiravam chegar à Casa de Nariño (sede do Executivo) pagaram com a vida em meio a um dos períodos mais violentos da história do país.
Bernardo Jaramillo, do esquerdista União Patriótica (UP), foi assassinado em 22 de março de 1990 quando se preparava para viajar para Santa Marta (norte), a partir do terminal Puente Aéreo de Bogotá.
Jaramillo havia sucedido a Jaime Pardo Leal na liderança da UP, também assassinado violentamente em 11 de outubro de 1987.
A então recém-desmobilizada guerrilha M-19, que se tornara um partido político, também contribuiu com uma trágica parcela de sangue nessas eleições, com o atentado fatal ao candidato Carlos Pizarro Leongómez, que se encontrava dentro de um avião com destino a Barranquilla (norte), em 26 de abril do mesmo ano.
Em 14 de abril de 2002, o então candidato Álvaro Uribe saiu ileso de um ataque a bomba num ônibus, que resultou em quatro mortes. Em 7 de agosto, dia de sua posse, membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) dispararam foguetes contra a Casa de Nariño. A cerimônia ao ar livre teve que ser suspensa e transferida para as instalações vizinhas do Congresso.
Luis Donaldo Colosio: um assassinato que ainda intriga o México
Em 23 de março de 1994, o México foi abalado pelo brutal assassinato de Luis Donaldo Colosio, que aspirava a suceder a Carlos Salinas de Gortari no poder, nos anos em que o Partido Revolucionário Institucional (PRI) era a força hegemônica no México.
Um tiro disparado por Mario Aburto Martínez atingiu a cabeça de Colosio durante um ato eleitoral em Tijuana (norte). O então candidato favorito das eleições acabou morrendo durante cirurgia no cérebro. O caso judicial continua sem solução, 29 anos depois.
Em 28 de setembro de 1994, outro atentado ceifou a vida de José Francisco Ruiz Massieu, secretário-geral do PRI, partido que chegou a perpetuar o poder no México por 71 anos ininterruptos.
Salvador Allende: um suicídio induzido
Há quase meio século, em 11 de setembro de 1973, Salvador Allende, socialista e presidente do Chile entre 1970 e 1973, cometeu suicídio durante o ataque ao Palácio de La Moneda no início do golpe liderado pelo general Augusto Pinochet.
Várias versões persistem sobre o episódio: uma de que ele morreu lutando em defesa do Palácio, outra de que foi assassinado após ser ferido, e a terceira de que acabou cometendo suicídio com um AK-47 que recebera de presente de Fidel Castro. Essa última versão é a que tem maior respaldo, pois Allende declarara naquele mesmo dia a uma estação de rádio que “pagaria a lealdade do povo com sua vida”, dizeres endossados pela testemunha ocular Patricio Guijón, médico colaborador de Allende, e corroborados por familiares.
Wallace: uma corrida presidencial interrompida nos EUA
Mais sorte teve George Wallace, governador do estado americano do Alabama, baleado em 16 de maio de 1972, num evento de campanha no Laurel Shopping Center, cerca de 22 quilômetros a nordeste de Washington.
Ele disputava a sucessão do então presidente republicano Richard Nixon, que derrotou o democrata George McGovern no processo final, mas acabou renunciando em 1974 devido ao escândalo de Watergate. Wallace ficou sem mobilidade nas pernas pelo ataque.
Robert Kennedy: uma esperança silenciada
O democrata Robert Francis Kennedy, irmão de John Fitzgerald Kennedy (assassinado em 1963) aspirava a suceder seu colega de partido Lyndon Johnson em 1968, uma eleição que também foi contestada pelo vitorioso Nixon.
Mas em 6 de junho de 1968 foi baleado pelo palestino-jordaniano Sirham Sirham durante um evento no Ambassador Hotel em Los Angeles. Ele acabaria morrendo no Hospital PIH Health Good Samaritan, na cidade californiana.
Ao contrário do observado na América Latina, nos Estados Unidos morreram mais presidentes em ataques ocorridos durante exercício de mandatos do que em corridas eleitorais.
Entre os políticos que tiveram seus mandatos abreviados estão Abraham Lincoln, James A. Garfield, William McKinley e John F. Kennedy.
História recente também registrou série de ataques
Em setembro de 2022, a vice-presidente da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, sobreviveu a uma aparente tentativa de assassinato depois que um atirador a ameaçou à queima-roupa, e a arma não disparou.
Em julho de 2021, assassinos fortemente armados invadiram a casa do então presidente haitiano Juvenel Moïse, matando-o a tiros. Sua esposa, Martine Moïse, ficou gravemente ferida.
No mês anterior, durante uma visita perto da fronteira entre Colômbia e Venezuela, o helicóptero do presidente colombiano Iván Duque, de direita, foi alvejado num ataque atribuído a ex-rebeldes das Farc.
Em maio de 2019, ainda antes de concorrer ao cargo, a atual vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, também escapou por pouco ao ser atacada com granadas, junto com outros ativistas ambientais.
Em setembro de 2018, foi a vez do ex-presidente brasileiro de extrema-direita Jair Bolsonaro. Esfaqueado durante um comício eleitoral, ele foi levado às pressas para o hospital, onde foi submetido a uma cirurgia de emergência no fígado.
Em agosto de 2018, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, também acusou inimigos políticos de tentarem matá-lo com drones carregados de explosivos enquanto proferia um discurso num local aberto, na capital Caracas.
Fonte: dw.com