Entre dezembro de 2020 e abril de 2022, 14 milhões de brasileiros deixaram de comer por falta de dinheiro; proporcionalmente, regiões Norte e Nordeste têm piores situações
Agência BrasilUm estudo divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), nesta quarta-feira (14), detalhou a situação da fome pelos estados brasileiros.
Em números absolutos, São Paulo lidera com 6,8 milhões de pessoas famintas. Em proporção, o estado do Alagoas tem a pior situação, com 36,7% de sua população nessa condição.
Veja abaixo os dados para todos os estados brasileiros.
Os dados divulgados nesta quarta-feira são um complemento da primeira parte desta pesquisa – chamada “2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (II VIGISAN)” – que foi divulgada em junho, e trouxe os dados nacionais e das macrorregiões brasileiras.
Em junho, a Rede Penssan revelou que 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer. Isso significa que, de acordo com os dados coletados, 15,5% da população brasileira sente fome e não come por falta de dinheiro para comprar alimentos.
Além disso, seis em cada 10 famílias estão em insegurança alimentar, ou seja, na condição de não ter acesso pleno e permanente a alimentos. Esses dados foram colhidos em 12.745 domicílios brasileiros entre dezembro de 2021 e abril de 2022.
Na série histórica da Rede Penssan, existe o primeiro estudo desse tipo – o “1º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar” – que foi feito com dados coletados em dezembro de 2020.
Naquela ocasião, o número de brasileiros que conviviam com a fome era de 19,1 milhões – isso representa que o número aumentou em 14 milhões em pouco mais de um ano. Na primeira pesquisa, não houve o recorte dos dados por estados.
Em números absolutos, Sudeste tem mais pessoas com fome
A região Sudeste, que é a mais populosa do país, também lidera na quantidade de pessoas com fome.
O estado com a situação mais grave é São Paulo, com 6,8 milhões nessa condição. Veja no mapa abaixo a situação da fome pelos estados brasileiros.
“Os resultados refletem as desigualdades regionais e evidenciam diferenças substanciais entre os estados de cada macrorregião do país. Não são espaços homogêneos do ponto de vista das condições de vida. Há diferenças socioeconômicas nas regiões que pedem políticas públicas direcionadas para cada estado que as compõem”, afirmou Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan.
Fome é maior em casas com menores de 10 anos
Como metodologia, os pesquisadores dividiram em diferentes categorias o modo como seriam classificadas as famílias ou domicílios para analisar a segurança alimentar no Brasil.
- Segurança Alimentar: Acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e que não comprometa acesso a outras necessidades essenciais;
- Insegurança Alimentar Leve: Preocupação ou incerteza sobre o acesso aos alimentos no futuro, e qualidade inadequada dos alimentos por conta de estratégias para que a quantidade de alimentos não seja comprometida;
- Insegurança Alimentar Moderada: Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação por causa da falta de alimentos;
- Insegurança Alimentar Grave (Fome): Sentir fome e não comer por falta de dinheiro para comprar alimentos; fazer uma refeição ao dia ou ficar o dia inteiro sem comer.
De acordo com o estudo, “há pouquíssima segurança alimentar em casas com crianças menores de 10 anos”. Por exemplo, na região Norte, todos os estados têm números de insegurança alimentar moderada ou grave acima dos 40%. No Amapá, o número chega a 60,1%.
Outro ponto destacado pela Rede Penssan é que famílias com renda inferior a meio salário-mínimo por pessoa estão mais sujeitas à insegurança moderada e grave. Isso acontece, por exemplo, em 72% dos domicílios no Maranhão que se encaixam neste perfil de renda.
O alto endividamento das famílias também comprometeu a capacidade de acesso aos alimentos, segundo a pesquisa.
“Apesar da ampla cobertura do Auxílio Brasil, uma parcela significativa da população com renda de até meio salário-mínimo não foi contemplada pelo benefício. É uma parte da população que já sofre com a insegurança alimentar”, disse a pesquisadora da Rede, Rosana Salles, que também é professora de Nutrição na UFRJ.
Em proporção, Regiões Norte e Nordeste têm piores situações
A Penssan destacou que, na região Nordeste, o estado do Alagoas é o que mais sofre com a fome, com 36,7% da população nessa situação. Na região Norte, o Amapá tem 32% de sua população com fome. No Centro-Oeste, o Mato Grosso tem a situação mais grave, com 17,7%.
No Sul e no Sudeste, os estados recordistas são o Rio Grande do Sul, com 14,1%, e Rio de Janeiro, com 15,9%. Veja no gráfico abaixo, proporcionalmente, a situação da fome pelos estados brasileiros.
Nas considerações finais, os pesquisadores apontam que as diferenças entre os estados estão ligados “estão ligadas tanto aos processos históricos de suas dinâmicas populacionais, estruturas socioeconômicas e processos políticos, quanto à aderência das decisões político-administrativas e das agendas de organizações sociais às necessidades de suas populações locais”.
O estudo conclui indicando que este trabalho pode servir tanto para outras pesquisas aprofundarem os detalhes das realidades de cada estado, quanto para a formulação de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional.