Na reta final da campanha eleitoral brasileira, o mercado está de olho nas declarações e nos sinais dos principais candidatos a ocupar o Planalto a partir do ano que vem. Na visão de especialistas ouvidos pela DW Brasil, é possível agrupar em dois os grupos a síntese das propostas protocoladas junto ao Tribunal Superior Eleitoral pelos quatro principais candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
“Temos dois grandes grupos de propostas econômicas: as de cunho intervencionista [Lula e Ciro] e as de cunho liberal [Bolsonaro e Tebet]”, afirma o economista Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.
“As primeiras entendem o governo como guia da economia, que direciona o crescimento pelo aumento da demanda agregada e escolhe os setores-chave ou estratégicos”, explica. “Já as propostas de Bolsonaro e Tebet entendem o governo como um meio que pode atrapalhar o crescimento se for grande, e como um facilitador se atuar na melhoria do ambiente de negócios.”
Em outras palavras, de um lado há uma linha social-democrata mais fundamental, de outro, um neoliberalismo mais explícito. Considerando os planos de governo, são os seguintes os principais pontos econômicos de cada candidatura:
Lula:
- Combate à inflação;
- Fim da política de paridade internacional de preços da Petrobras;
- Revogação da lei do teto de gastos;
- Revogação de marcos regressivos da atual legislação trabalhista;
- Revisão da previdência;
- Reforma tributária com simplificação de tributos e modelo progressivo;
- Retomada de investimentos públicos em infraestrutura e habitação;
- Não privatização da Eletrobras;
- Recolocar os mais pobres no orçamento.
Bolsonaro:
- Privatização das estatais;
- Liberdade econômica como mecanismo de promoção de bem-estar social;
- Simplificação de impostos e correção da tabela do Imposto de Renda;
- Trabalhar para que o Brasil ingresse na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE);
- Manutenção do Auxílio Brasil.
Ciro:
- Redução de subsídios a empresa privadas;
- Aumento de impostos sobre renda e menor tributação sobre consumo;
- Recriação de impostos sobre lucros e dividendos;
- Taxação de grandes fortunas;
- Reforma da previdência;
- Retomar o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) como financiador e estruturador de projetos do setor produtivo;
- Programa de renda mínima.
Tebet:
- Reforma tributária;
- Desestatizações, privatizações, concessões e parcerias público-privadas;
- Tripé baseado em controle inflacionário, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante;
- Eliminação de subsídios;
- Programa permanente de transferência de renda e renda mínima.
Diferenças e semelhanças
A convite da reportagem, o economista Odilon Guedes Pinto Júnior, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e membro do Conselho Regional de Economia de São Paulo, comentou os principais pontos de cada um dos quatro candidatos.
Sobre Lula, ele destacou como “medida superimportante” a ideia de revogar o teto de gastos, pois acredita que os investimentos do orçamento federal não podem ser congelados. “O governo eleito tem de ter liberdade de aplicação de recursos públicos”, defende o especialista.
Sobre a reforma tributária, ele ressalta que não basta “só simplificar os tributos”, mas é preciso “fazer uma tributação progressiva sobre os indivíduos e diminuir os impostos sobre as empresas”.
O economista concorda com a oposição à privatização da Eletrobras, afirmando que se trata de uma estatal “estratégica para a energia” e também defende o fim da paridade de preços da Petrobras, com avanços no refino interno e uma maior independência das flutuações de câmbio no preço do combustível.
Fonte: dw.com