O Palmeiras conquistou sua terceira vitória consecutiva na temporada em um momento decisivo de 2023. Após findar a má fase com o triunfo perante o Fortaleza, o Verdão deu sequência ao bom ânimo e emendou triunfos contra América-MG e Atlético-MG — este último, nesta quarta-feira (2).
No Estádio do Mineirão, o Alviverde venceu o Galo por 1 a 0 — com gol de Raphael Veiga, anotado aos 28 minutos da etapa inicial — e conquistou importante vantagem nas oitavas de final da Libertadores.
Depois do jogo, em entrevista coletiva, Abel Ferreira desabafou. Ao responder se a atuação pela competição continental marcava uma retomada de confiança no time palestrino, o treinador português afirmou que não conhece “uma equipe que só ganha”.
“Já falei várias vezes: nós não vamos ganhar sempre. Sobre a má fase, expliquei muito bem: disse que, infelizmente, em função da loucura que é a intensidade dos jogos no Brasil, tivemos vários jogadores — que vocês não souberam, nem tem que saber — em má forma (física) ou pior, lesionados. Desde o nosso goleiro até o nosso centroavante. Isso sim foi a grande influência do nosso baixo rendimento”, analisou.
Mas, se o problema são as lesões, não seria melhor ter opções mais vastas no elenco? De acordo com Abel, nada disso.
“Prefiro ter um elenco curto, enxuto, e arriscar, do que ter 30 jogadores — que foi quando cheguei — e ter que deixar alguns de fora, ficando chateados por não jogarem. Portanto, nós não mudamos nada, a nossa forma de trabalhar é a mesma. Por vezes vamos ganhar, em outras vamos perder. É assim que funciona no futebol, os que não sabem como funciona são os que acreditam que uma equipe pode ganhar sempre”, completou.
Confira todas as respostas de Abel Ferreira na entrevista coletiva após o jogo contra o Atlético-MG:
Análise da partida
“Em primeiro lugar: falar do ambiente, que foi espetacular. Gosto de jogar com estádios cheios. Em segundo lugar, falar do esforço que fizeram: foi a primeira vez, desde que estou no Brasil, que esse gramado estava mais ou menos — que é uma coisa que faz toda a diferença para que o espetáculo seja um pouco melhor. Em terceiro lugar, falar aos meus jogadores. Tivemos calma, tranquilidade, fomos competitivos. O primeiro tempo foi muito bem jogado, com as dinâmicas muito bem feitas, na casa de um adversário super poderoso. Estamos no meio da eliminatória. No segundo tempo, nosso adversário nos empurrou um pouquinho mais para trás, normal, tinham que reagir e ir atrás do resultado. Acho que, sinceramente, nessa primeira fase (da eliminatória), o resultado foi justo. Como disse, ainda estamos no meio da eliminatória e vamos discutir o segundo jogo.”
Atuação marca retomada de confiança do Palmeiras?
“Estou sempre falando a mesma coisa e vocês não entendem. Não conheço uma equipe que só ganha. Vejo o Liverpool-ING. Fico muito triste quando estou vendo um jogo e, ao invés de realçar o valor dos adversários — que se organizam, que estão cada vez melhores —, preferimos xingar as pessoas que não gostamos. Não consigo entender essa cultura, temos que olhar primeiro para dentro. Percebemos, organizarmos, sermos os melhores profissionais, competentes: é isso que fazemos aqui. Já falei várias vezes: nós não vamos ganhar sempre. Sobre a má fase, expliquei muito bem: disse que, infelizmente, em função da loucura que é a intensidade dos jogos no Brasil, tivemos vários jogadores — que vocês não souberam, nem tem que saber — em má forma (física) ou pior, lesionados. Desde o nosso goleiro até o nosso centroavante. Isso sim foi a grande influência do nosso baixo rendimento. Mas prefiro ter um elenco curto, enxuto, e arriscar, do que ter 30 jogadores — que foi quando cheguei — e ter que deixar alguns de fora, ficando chateados por não jogarem. Portanto, nós não mudamos nada, a nossa forma de trabalhar é a mesma. Por vezes vamos ganhar, em outras vamos perder. É assim que funciona no futebol, os que não sabem como funciona são os que acreditam que uma equipe pode ganhar sempre.”
Performance de Raphael Veiga
“Veiga é aquele tipo de jogador que eu já falei para vocês. Falei das características dos jogadores brasileiros, o que penso, e acho que ele é um jogador completo. Foi um dos jogadores também que passou por problemas. As pessoas culpam a Seleção, mas o problema não foi esse. Nas seleções não se treina, ou se treina pouco. É mais fácil manter o ritmo de quem joga. Mas é assim com todos, não só com o Brasil. Os (atletas) que vão para a seleção e jogam, é mais fácil manter (forma física) do que os que vão e não jogam. O problema do Veiga foi o mesmo do Rony, do Dudu, Murilo, Zé Rafael. Vimos o Zé Rafael hoje e vimos no mês passado, tinha um problema. Infelizmente aconteceu, temos que aceitar. Foi em um momento decisivo, na Copa do Brasil. No Brasileirão, é verdade, tem uma equipe fora da caixa (Botafogo), parabéns para eles. Se continuar assim, acho que vão ganhar e tudo bem — mas estamos alinhados com a pontuação do ano passado. Na Copa do Brasil, foi o que foi, é dar parabéns aos nossos adversários. Minha função enquanto treinador não é só ganhar ou dar títulos; é, também, valorizar os jogadores, o clube, potencializar atletas. Perceber o quanto eles valiam quando essa comissão técnica chegou e quanto valem agora. Não é só ganhar títulos, isso é uma consequência — mas sei que vocês (jornalistas) só olham para isso. Antes de chegar ao Palmeiras, eu não era um treinador de títulos, e sim de valorizar jogadores. Aqui, faço as duas: mas não vamos fazer isso sempre. Fizemos no primeiro ano, ganhamos dois ou três (títulos), no segundo mais dois, no terceiro… só que vai haver uma altura em que não vamos ganhar. Se tiverem dúvidas, olhem para o Liverpool-ING. Há dois anos, nada. Fora da Liga dos Campeões É assim que funciona. O importante é nossos jogadores permanecerem focados, nossos reforços são eles. Há uma coisa que é essencial, invisível aos olhos, e que vocês não conseguem ver.”
Vantagem por durabilidade do trabalho no Palmeiras
“Só quero dizer o seguinte: se todas as equipes do Brasil fossem treinadas por alguém como eu, só um seria campeão e alguém seria rebaixado. Não podem ganhar todos. Dei sorte de chegar aqui e ganhar logo no primeiro ano. Se não fosse isso, ia acontecer como acontece com todos os outros. Felizmente, tive um grande presidente e agora tenho outra grande presidente. É um processo. Alguns conseguem aguentar. Eu não posso mentir aos meus jogadores: nosso processo é bem feito, mas o resultado nos avalia. É como nas empresas: querem funcionários que apresentem resultados, é assim que funciona. Tenho isso na cabeça desde que sou treinador. Me pagam para ter resultado. Minha função é olhar para os recursos. Não vamos ganhar todos, disse isso varias vezes, mas as pessoas não entendem.”
Importância da parte mental
“Esses jogos têm componente mental muito forte. Mas o que isso quer dizer? Se pensarem em um momento muito intenso da vida de vocês, é o que os jogadores sentem em um jogo desses. Ambiente espetacular, independentemente se é rival ou não. Adoro jogar com ambientes assim, e o Brasil tem essa magia. Enchem estádios, jogar com estádio assim é mágico. Acontece em poucos países. Como esse jogo tem carga emocional grande, é fundamental que os jogadores foquem no que sabem fazer: jogar com pressão. As vezes, nem todos estão na mesma onda. Alguns têm medo de falhar. fui jogador e passei alguns momentos assim. ‘Fiquei em segundo para mim próprio’, é a pior derrota que posso ter. Felizmente os jogadores tiveram calma, tranquilidade de ir a campo e jogar a nossa maneira. Se vamos vencer ou não, não sei, o resultado toma conta dele. Perante um adversário muito qualificado, bem treinado, está passando por um momento não tão bom. Mas quando fomos jogar contra o São Paulo, sabíamos o estado em que estavam os nossos jogadores. Infelizmente, nosso adversário foi feliz e mereceu passar. Dar os parabéns para os nossos jogadores, mas estamos apenas na primeira parte da eliminatória.”
Legado no Palmeiras será aproveitado por outro treinador?
“Quando eu for embora, pode responder essa pergunta. Agora, não sei. Quando vim para cá, sabia o que tinha no elenco: mistura de juventude e jogadores mais experientes, que nos permitem um equilíbrio interno grande. Só o tempo dirá. Há uma coisa que vocês não conseguem ver, não podem ver, e é invisível aos olhos.”
Dudu por dentro
“Estratégia. Tenho que pensar em muita coisa ao mesmo tempo, olhando para parte física, sabia que não estaria 100%. Temos um lateral esquerdo com físico muito bom. Com Dudu por dentro, íamos criar uma dúvida: se lateral ia acompanhar ou não, deixaria as costas abertas para o Piquerez. Caso não, Dudu seria elemento extra no meio de campo. Essa forma de jogar poupa um pouco de energia sem bola, mas com bola, não. Não há Dudu, Rony, Veiga: sem bola, sabem o que tem que fazer. Eles que jogam, sabem o que tem fazer. O treinador afina parafusos, só. A melhor forma que temos de chamar atenção é olhar para as imagens. Temos que ser rigorosos e exigentes nas imagens. No final, se vamos ganhar ou não, não sei. Dudu hoje entrou com missão mais específica, treinou exatamente na mesma posição que jogou hoje. Nos traz experiência, ajuda e é bom. Tinha dito isso há duas ou três coletivas atrás. Quando o elenco está todo junto, saudável, pronto, somos fortes e competitivos.”
Fonte: www.gazetaesportiva.com