Agricultores franceses tentaram impor um “cerco” a Paris nesta segunda-feira (29/01) ao impedir o tráfego em várias rodovias no entorno da capital. Eles exigem que o governo adote medidas para ajudá-los a lidar com os efeitos da inflação, competir com as importações de produtos mais baratos e, de modo geral, garantir o sustento de suas famílias.
Assim como ocorreu recentemente na Alemanha e em outros países europeus, há uma semana os agricultores utilizam tratores e caminhões para bloquear ou provocar lentidão nas rodovias. Agora, eles se aproximam da capital.
Temendo um agravamento das tensões com o setor agrícola em pleno ano de eleições europeias, o governo do presidente Emmanuel Macron chegou a retroceder nos últimos dias de alguns de seus planos. Entre outras medidas, o governo francês prometeu isenção fiscal para o combustível agrícola, o compromisso de negociar em Bruxelas uma nova revogação da obrigação de deixar 4% das terras em pousio (interrupção para deixar o solo mais fértil) e acelerar os pagamentos para a Política Agrícola Comum (PAC) da UE, da qual a França é a principal beneficiária, com 9 bilhões de euros por ano.
Contudo, entidades representativas dos agricultores afirmam que essas medidas não são suficientes.
“A essa altura, o que nós queremos […] é aumentar a pressão”, afirmou o chefe do poderoso sindicato FNSEA.
“Por isso, bloquearemos todas as principais rodovias que entram ou saem de Paris em uma faixa de até 30 quilômetros da capital”, afirmou, antes dos protestos. “Nosso objetivo é pressionar o governo para que possamos encontrar uma solução rápida e um modo de sair da crise.”
O governo destacou cerca de 15 mil policiais, a maioria na região de Paris, para impedir que os protestos sejam ampliados para dentro da capital e afetam dois aeroportos.
Em Jossigny, perto da Disney Paris, todas as seis faixas da via expressa A4 foram bloqueadas. Alguns veículos levavam mensagens como: “Não há comida sem agricultores” e “Nosso fim significaria fome para vocês”. A emissora BFM-TV mostrou imagens de manifestantes usando empilhadeiras para colocar fardos de feno na rodovia A6, ao sul de Paris.
Contraste entre campo e cidade
As longas filas de tratores e veículos agrícolas expuseram os contrastes econômicos e sociais entre a cidade e o campo na França. Os manifestantes se sentem ignorados pelos ministros de Estado, a quem acusam de raramente irem às fazendas e “sujarem seus sapatos”.
Os protestos na França não são os únicos: ações similares foram realizadas na Alemanha, na Polônia, e na Grécia recentemente, por vezesapoiadas por partidos de extrema direita. Essas legendas vêm conquistando parcelas cada vez maiores do eleitorado em diferentes países da Europa, a poucos meses das eleições para o Parlamento europeu.
Os agricultores se queixam do aumento dos preços dos fertilizantes, exacerbados pela guerra na Ucrânia, que, juntamente com a alta nos custos de energia e outros itens necessários para manter as plantações e criações de gado, fizeram suas rendas diminuírem significativamente.
Os fazendeiros reclamam que o setor agrícola, fortemente subsidiado, é excessivamente regulado, além de sofrer os impactos da importação de baixo custo de países onde a agricultura tem menos regulação.
Acordo UE-Mercosul na mira
Na semana passada, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou que o governo francês se opõe à assinatura do país ao acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul. O objetivo era aplacar o descontentamento dos agricultores com as políticas do governo. Attal classificou o acordo como “uma lei da selva” que acabaria afetando os agricultores franceses.
O ministro francês da Agricultura, Marc Fesneau, disse que Macron vai pressionar por medidas mais favoráveis ao setor agrícola na próxima cúpula da UE, que se inicia nesta quinta-feira.
Bruxelas também teve protestos de agricultores nesta segunda-feira no anel viário que contorna a capital belga, onde se localiza o centro do poder europeu.
Em Hamburgo, também nesta segunda, agricultores com cerca de 550 tratores protestaram contra políticas do governo de coalizão alemão,
Fonte: dw.com